A GRANDE BABILÔNIA
Não podemos mencionar o termo "apostasia"
sem referir-nos à grande Babilônia. Essa é uma expressão inserida no
Apocalipse, para identificar o sistema religioso prostituído que, num primeiro
momento, dará sustentação e legitimação ao anticristo e posteriormente será
destruído pela própria besta (Apocalipse 17:1-16).
Para entender melhor as figuras utilizadas para
descrever esse sistema religioso prostituído, devemos deter-nos um pouco para
analisar os termos "Babilônia", "mulher" e
"prostituição". Ao estudarmos detalhadamente esses três conceitos,
vemos que os mesmos, profeticamente, estão intimamente relacionados.
Babilônia foi o centro a partir do qual, desde eras
remotas, o misticismo e paganismo desenvolveram-se e expandiram-se,
influenciando assim muitos povos e culturas. De acordo com os relatos de
Gênesis, Ninrode foi o fundador da civilização babilônica. Segundo os mais
conhecidos e eruditos lingüistas, o próprio termo "Babilônia" é
oriundo de "Babel", onde podemos identificar a primeira tentativa pós-diluviana
de reunir toda a população em torno de um ideal religioso e de uma cidade, indo
contra o que Deus tinha estabelecido a Noé e filhos, no tocante à conquista e
povoamento da terra (Gênesis 9:1).
No plano de construir uma torre cujo cume alcançasse
os céus, podemos ver o alvorecer do princípio humanista de alcançar posições de
destaque no universo, baseado no próprio esforço humano. Esse princípio fará
parte dos propósitos da grande Babilônia do final dos tempos, aliada à besta.
Também na Babilônia surgiu o culto à rainha dos
céus, uma deusa que sempre era representada e adorada junto ao seu filho
divino, que os babilônios relacionavam a Semiramis (mulher de Ninrode) e ao
filho de ambos, Tamuz. De acordo com a lenda sobre esse assunto, Semiramis foi
considerada como a fundadora de todos os mistérios babilônicos e a primeira
sacerdotisa desses mistérios pagãos. Ao gerar o seu filho Tamuz, o qual ela
anunciara que havia sido concebido milagrosamente, ela o apresentou como um
suposto libertador. O profeta Ezequiel, nos dias do seu cativeiro na Babilônia,
se levantou contra essa prática maligna que havia penetrado até mesmo no povo
de Israel (Ezequiel 8:9-16).
Satanás, desde as épocas remotas, tem planejado a
forma de deturpar as verdades divinas, traçando estratégias de imitação e
falsificação, objetivando enganar o maior número de pessoas possível. Uma
dessas imitações surgiu a partir da promessa feita por Deus a Eva, de que da
sua semente nasceria o Cristo. A deturpação desse princípio divino originou a
prática da adoração à mãe e o menino que já mencionamos, expandindo-se da
Babilônia aos diversos centros da antigüidade. Esse culto manteve-se aceso por
séculos, influenciando as mais diversas culturas.
Essa chegou a ser a religião dos segredos ocultos
dos fenícios, sendo os mesmos também responsáveis pela sua proliferação no
Oriente Médio. Entre eles, Astarot e Tamuz, eram mãe e filho adorados. Quando a
prática chegou ao Egito, tomou a forma das deidades Isis e o seu filho Hórus.
Entre os gregos essa prática era direcionada a Afrodite e a seu filho Eros.
Quando chegou a ser conhecida entre os romanos, a adoração para mãe e filho foi
destinada a Vênus e Cupido. Num período de mil anos, essa prática religiosa que
havia surgido na Babilônia, chegou a ser aceita como religião oficial em quase
todas as nações.
Segundo relatos históricos, quando a cidade de
Babilônia foi destruída pelos persas, o sumo sacerdote babilônio fugiu com
outros iniciados, levando consigo seus vasos sagrados e imagens rituais até a
cidade de Pérgamo, na Ásia Menor. Foi precisamente nesta cidade que o símbolo
da serpente se estabeleceu como emblema dos segredos e da sabedoria escondida,
o que podemos constatar até os dias de hoje nos meios ocultistas e em alguns
brasões sociais.
Viajando e atravessando os mares, essa linhagem de
sacerdotes babilônios chegou à Itália, onde seus rituais e cultos se
expandiram, tomando o nome de "mistérios etruscos" e influenciando
todo o sistema religioso da cidade de Roma. Foi precisamente naquele tempo que
os sacerdotes começaram a usar mitras em forma de cabeça de peixe, em honra e
veneração a Dagom, deus dos peixes e senhor da vida.
Durante os séculos, esses costumes pagãos
influenciaram aquela que se denominava igreja cristã. Diversas práticas pagãs
foram absorvidas pelos líderes, baseados em interesses políticos e/ou
financeiros, gerando um processo gigantesco de apostasia. Por isso, acreditamos
haver uma íntima relação entre a apostasia e o surgimento da grande Babilônia
como sistema religioso mundial dos últimos tempos.
A grande Babilônia, esse sistema religioso maligno
que tem atuado durante séculos e que nos últimos tempos alcançará o clímax,
está relacionado na Bíblia à prática da prostituição. O termo usado no
Apocalipse é porne, palavra grega
derivada de pernemi, que significa
"vender". A prostituição espiritual ocorre quando o relacionamento
com Deus é deturpado pelas alianças humanas em torno do dinheiro, do poder e do
engano espiritual. Nem sempre caracteriza-se por "negar" abertamente
o nome de Deus e o relacionamento com Ele, mas aplica-se a deturpar com
sutileza os direcionamentos divinos, buscando relacionar-se com Deus de uma
forma falsa, de acordo com os próprios interesses e ganância, chegando até
mesmo a mercadejar princípios espirituais.
Eis aí a grande diferença entre a noiva (igreja) e
a prostituta (Babilônia). Enquanto que a noiva se mantém pura à espera do amado
noivo (Cristo), a prostituta se relaciona espiritualmente com todos os
segmentos malignos, buscando a realização de seus próprios interesses. Se
prostitui a nível político e a nível religioso.
No livro de Apocalipse, fica revelado que a
prostituta (Babilônia), estava assentada sobre sete montes, relacionando a sede
da prostituta à cidade de Roma, capital do então império romano (Apocalipse
17:9).
Resumindo o que foi apresentado, podemos afirmar a
respeito da grande Babilônia:
a) É um sistema religioso que tem se prostituído com os reis da terra e tem
se beneficiado dos seus bens e posses (Apocalipse 17:2)
b) Está assentada sobre sete montes, relacionando a sua sede à cidade de
Roma, que literalmente está construída sobre sete montanhas (Apocalipse 17:9)
c) É um sistema que tem perseguido e perseguirá até o fim os servos fiéis
de Jesus, embriagando-se com o sangue dos mártires cristãos de toda a história,
inclusive os da Igreja nos últimos tempos (Apocalipse 17:6)
d) Uma das práticas religiosas que caracteriza a grande Babilônia é a
adoração à deusa mulher ou rainha dos céus, prática originada na antiga
Babilônia.
e) O sistema religioso da grande Babilônia, apesar de ter uma sede
definida, abrange muitos povos e nações (Apocalipse 17:15)
f) No final dos tempos e valendo-se de sua liderança religiosa mundial, a
grande Babilônia se assentará sobre a besta, dando legitimação inicial ao
sistema do anticristo, porém será destruída pela própria besta e os dez chifres
(Apocalipse 17:3-16)
Acreditamos que o falso profeta, a besta descrita
em Apocalipse 13:11-18, será o líder ecumênico da grande Babilônia. De posse
desses dados, você poderá, no momento certo, identificar quem é a grande
Babilônia.
Um Anjo Anuncia a Queda da Babilônia
(18:1-8)
18:1 – Depois destas coisas, vi
descer do céu outro anjo, que tinha grande autoridade, e a terra se iluminou
com a sua glória.
Depois destas coisas, vi descer do
céu outro anjo: A força que sustentava a meretriz
vinha de baixo: das águas, da besta que surgiu do mar e dos reis da terra. Os
próprios reis seriam os instrumentos de Deus no castigo dela, pois o anúncio da
queda dela vem de cima. Um anjo já anunciou a queda da Babilônia (14:8), e um
outro mostrou para João o significado da meretriz e o seu julgamento (17:1,7).
Aqui, outro anjo desce do céu para confirmar a sentença contra a Babilônia.
Que tinha grande autoridade: A autoridade para falar vem do céu. Não há dúvida sobre a veracidade
de sua mensagem.
E a terra se iluminou com a sua
glória: Deus é a verdadeira luz, e a sua
glória ilumina (21:23; 1 João 1:5). Pelo evangelho revelado, a glória de Deus
traz iluminação (2 Coríntios 4:4-6; Efésios 1:17-18). Aqui, então, aguardamos
uma declaração de Deus que trará boas notícias aos servos fiéis.
18:2 – Então, exclamou com potente
voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios,
covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda
e detestável
Então, exclamou com potente voz: “Potente voz” vem da mesma expressão traduzida por “grande voz” em
outros versículos: a voz de Jesus (1:10), a voz de anjos (5:2; 10:3;
14:7,9,15,18; 19:17), a dos adoradores de Deus (5:12; 7:10); a das almas dos
mártires (6:10), a da águia que anuncia os três ais (8:13), a voz do céu que
chamou as testemunhas a subirem (11:13); as da sétima trombeta que anunciam o
reino do Senhor (11:15), a do céu que anuncia o poder de Deus e a expulsão do
dragão (12:10), a do santuário ou do trono (16:1,17; 21:3).
Caiu! Caiu a grande Babilônia: Esta linguagem é a maneira profética de mostrar que Deus tiraria do
poder aqueles que dominavam e abusavam dos outros. Isaías profetizou contra o
rei da Babilônia histórica: “Como cessou o opressor! Como acabou a
tirania! Quebrou o SENHOR a vara dos perversos e o cetro dos dominadores, que
feriam os povos com furor, com golpes incessantes, e com ira dominavam as
nações, com perseguição irreprimível. Já agora descansa e está sossegada toda a
terra. Todos exultam de júbilo” (Isaías 14:4-7). Antes de prosseguir,
devemos observar a importância do caso da Babilônia antiga na interpretação da
Babilônia simbólica do Apocalipse. No Antigo Testamento, há várias
profecias sobre a queda da Babilônia. Estas profecias foram cumpridas na queda
do domínio babilônico e até na destruição da cidade, mas não literalmente de
uma forma imediata e desastrosa. A cidade “caiu” ao líder persa, Ciro o Grande,
em 539 a.C., data que geralmente marca o fim do império babilônico, mas as
batalhas desta conquista ocorreram em outros lugares, fora da cidade. Sabemos
que os persas e medos se juntaram para vencer os babilônicos. Isaías fala
especificamente de Ciro (45:1-2; 48:14-15) e dos medos como instrumentos de Deus
neste castigo (Isaías 13:17-20). Jeremias, também, foi específico quando disse
que o castigo da Babilônia viria logo no fim dos setenta anos do cativeiro de
Judá (Jeremias 25:12), que os medos seriam o instrumento de Deus para
castigá-la (51:11), que a destruição dela seria repentina (51:8) e seria
afundada como uma pedra jogada no rio (51:63-64). Não podemos forçar uma
interpretação literal, pois a cidade permaneceu alguns séculos depois da
invasão dos persas e medos, sendo desfeita aos poucos como resultado dos
estragos de várias invasões nas épocas dos medo-persas, dos gregos e helenistas
e até dos romanos. Não é possível mostrar cumprimento literal de todos os
detalhes das profecias da queda da Babilônia antiga (alguns exemplos se
encontram em Isaías 13:5,9-13,15-16; 14:22-23; 21:9; 43:14; 47:1,5; Jeremias
25:12-14; 50:1-2,9-10,21-46; 51:1-64). Usando o exemplo de profecias sobre a
Babilônia histórica, percebemos que profecias de destruição nas Escrituras
podem empregar linguagem poética e hiperbólica, podem usar figuras específicas
para falar de castigos mais gerais e podem comprimir uma série de
acontecimentos em um único evento. Com este entendimento, ainda mantemos a
nossa confiança nas afirmações do Apocalipse que as profecias seriam cumpridas
em breve. Não precisamos mostrar a destruição total e repentina da cidade de
Roma, nem a queda iminente do império romano. A linguagem profética afirma a
humilhação dos poderes que perseguiam os santos, e a história mostra que foram,
de fato, humilhados e derrotados.
E se tornou morada de demônios, covil
de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e
detestável: A grande cidade que estava cheia de
atividade e de pessoas poderosas e ricas se torna uma cidade abandonada e suja
(cf. Isaías 13:19-22). Mais uma vez, o contraste entre as duas principais
cidades do livro se torna evidente. A cidade mundana se torna lugar deserto e
imundo, ocupado por demônios e espíritos imundos. A cidade santa, a nova
Jerusalém, será habitada por multidões na presença do Senhor, e “Nela,
jamais penetrará coisa alguma contaminada” (21:27).
18:3 – pois todas as nações têm
bebido do vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis
da terra. Também os mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria.
Este versículo repete alguns dos
motivos do castigo de Roma:
Pois todas as nações têm bebido do
vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra: A meretriz contaminou as nações com a sua maldade, avareza, etc.
Também os mercadores da terra se
enriqueceram à custa da sua luxúria: Roma foi um
grande consumidor, procurando e tomando para si tudo que traria prazer carnal
ou glória material. Pelo fato do império controlar o comércio entre os
continentes de Europa, África e Ásia, as nações exportadoras dominadas pelos
romanos se enriqueceram por causa desse comércio. A luxúria é o desejo
descontrolado, um termo que, muitas vezes, descreve a sensualidade e lascívia.
18:4 – Ouvi outra voz do céu,
dizendo: Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados
e para não participardes dos seus flagelos
Ouvi outra voz do céu, dizendo:
Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados: Esta linguagem vem de Isaías 52:11, um trecho que fala sobre o fim do
cativeiro dos israelitas. Deus promete trazer o seu povo remido de volta para
Sião, mas exige que venha sem a impureza e a idolatria praticada por seus
opressores. A purificação e a fidelidade do povo seriam essenciais para a
comunhão com o santo Senhor (52:1-6).
Paulo emprega a mesma linguagem em um
apelo à santidade (2 Coríntios 6:14 - 7:1). Para ser o povo de Deus e manter e
gozar a comunhão com o Senhor, é necessário ser santificado. Esta santidade é
oposta à imundícia e à luxuria da meretriz.
E para não participardes dos seus
flagelos: Se participar dos pecados,
receberiam o mesmo castigo. Deus chama o povo dele para ser separado. A
santificação é uma exigência fundamental do evangelho como base da comunhão com
Deus: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o
Senhor, atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se
da graça de Deus” (Hebreus 12:14-15).
18:5 – porque os seus pecados se
acumularam até ao céu, e Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou.
Porque os seus pecados se acumularam
até ao céu: A voz do sangue de Abel chegou ao
Senhor, pedindo vingança (Gênesis 4:10). O clamor de Sodoma e Gomorra subiu até
Deus, trazendo sua ira na destruição das cidades (Gênesis 18:20-21). A meretriz
acumulou tanta iniqüidade que chegou até ao céu.
Deus se lembrou dos atos iníquos que
ela praticou: O Senhor não podia ignorar a
maldade de Roma. Ela se exaltou em rebeldia contra Deus e contra a sua vontade.
O castigo se tornou inevitável.
18:6 – Dai-lhe em retribuição como
também ela retribuiu, pagai-lhe em dobro segundo as suas obras e, no cálice em
que ela misturou bebidas, misturai dobrado para ela.
Dai-lhe em retribuição como também
ela retribuiu, pagai-lhe em dobro segundo as suas obras: A justiça divina opera-se pelo princípio da colheita: “Aquilo que
o homem semear, isso também ceifará” (Gálatas 6:7). Roma conduziu
outras nações a participarem na sua iniqüidade e a sofrerem as conseqüências
nos flagelos de Deus. Agora, veio a hora da retribuição.
No cálice em que ela misturou
bebidas, misturai dobrado para ela: Induzir outros ao
pecado não é ato de amor ou amizade. Causa sofrimento e os leva ao castigo. Por
ter feito isso, a meretriz terá que beber do cálice da ira de Deus (cf.
comentários sobre 14:8,10).
18:7 – O quanto a si mesma se
glorificou e viveu em luxúria, dai-lhe em igual medida tormento e pranto,
porque diz consigo mesma: Estou sentada como rainha. Viúva, não sou. Pranto,
nunca hei de ver!
O quanto a si mesma se glorificou e
viveu em luxúria, dai-lhe em igual medida tormento e pranto: O castigo na medida do crime cometido. Ele se entregou à luxúria sem
limites, e agora sofreria tormento sem limites.
Porque diz consigo mesma: Estou
sentada como rainha. Viúva, não sou. Pranto, nunca hei de ver!: Na sua arrogância, Roma se achou invencível. Ela dominava o mundo, e nem imaginou alguém capaz de
tirá-la de sua posição exaltada. A cidade de Roma e os seus imperadores
chegaram a ser adorados como deuses. A confiança exagerada dela nos lembra dos
edomitas no Antigo Testamento: “A soberba do teu coração te enganou, ó tu
que habitas nas fendas das rochas, na tua alta morada, e dizes no teu coração:
Quem me deitará por terra? Se te remontares como águia e puseres o teu ninho
entre as estrelas, de lá te derribarei, diz o SENHOR” (Obadias 3-4; cf.
a profecia semelhante sobre a Etiópia e a Assíria em Sofonias 2:15). Os
versículos 7 e 8 claramente tomam a sua linguagem de uma profecia sobre a
Babilônia histórica: “Ouve isto, pois, tu que és dada a prazeres, que
habitas segura, que dizes contigo mesma: Eu só, e além de mim não há outra; não
ficarei viúva, nem conhecerei a perda de filhos. Mas ambas estas coisas virão
sobre ti num momento, no mesmo dia, perda de filhos e viuvez; virão em cheio
sobre ti, apesar da multidão das tuas feitiçarias e da abundância dos teus
muitos encantamentos” (Isaías 47:8-9). Compare, agora, o que viria
sobre a Babilônia do Apocalipse.
18:8 – Por isso, em um só dia,
sobrevirão os seus flagelos: morte, pranto e fome; e será consumida no fogo,
porque poderoso é o Senhor Deus, que a julgou.
Por isso, em um só dia, sobrevirão os
seus flagelos: morte, pranto e fome; e será consumida no fogo: A auto-confiança da Babilônia a deixa totalmente despreparada e
vulnerável quando vem o juízo de Deus. Mais um versículo de Isaías salienta o
perigo que a Babilônia e Roma enfrentaram, o mesmo que enfrentamos hoje numa
sociedade dominada pelos avanços da ciência e da tecnologia: “Porque
confiaste na tua maldade e disseste: Não há quem me veja. A tua sabedoria e a
tua ciência, isso te fez desviar, e disseste contigo mesma: Eu só, e além de
mim não há outra” (Isaías 47:10). A palavra traduzida “flagelos” é a
mesma que descreve, em outros livros do Novo Testamento, os açoites de castigo
(Atos 16:23,33; 2 Coríntios 6:5; 11:23). Aqui e outras vezes no Apocalipse,
identifica os “açoites” de castigo que vêm de Deus.
Porque poderoso é o Senhor Deus, que
a julgou: Roma se achou poderosa, mas se
enganou. Deus é o verdadeiro Onipotente, e ele julgou a meretriz. Ela não
escapará deste castigo. Paulo disse: “A fraqueza de Deus é mais forte do
que os homens” (1 Coríntios 1:25).
As Reações à Queda da Babilônia
(18:9-20)
As reações à queda da meretriz são
duas: lamentação e exultação. Primeiro, encontramos a lamentação repetida por
três grupos de dependentes de Roma: os reis, os mercadores e os pilotos. Todos
se expressam com variações do mesmo refrão: “Ai! Ai da grande cidade” (10,16,19).
Depois, três categorias dos dependentes de Deus (santos, apóstolos e profetas)
são convidados a exultarem sobre a meretriz caída (20). Agora, as lamentações:
Os reis lamentam sobre a meretriz
(18:9-10)
18:9 – Ora, chorarão e se lamentarão
sobre ela os reis da terra, que com ela se prostituíram e viveram em luxúria,
quando virem a fumaceira do seu incêndio
Ora, chorarão e se lamentarão sobre
ela os reis da terra... quando virem a fumaceira do seu incêndio: Os mesmos reis que odiavam a meretriz e contribuíram à destruição dela
(17:16) agora lamentam a queda da Babilônia. Apesar de detestar a meretriz que
os dominava (17:18), eles viviam do comércio gerado pela luxúria dela. A
destruição da meretriz teria um impacto econômico muito negativo para os países
comerciantes.
18:10 – e, conservando-se de longe,
pelo medo do seu tormento, dizem: Ai! Ai! Tu, grande cidade, Babilônia, tu,
poderosa cidade! Pois, em uma só hora, chegou o teu juízo.
E, conservando-se de longe, pelo medo
do seu tormento: As nações participaram dos lucros,
e até dos erros, mas não querem se envolver na hora do castigo.
Dizem: Ai! Ai! Tu, grande cidade,
Babilônia, tu, poderosa cidade! Pois, em uma só hora, chegou o teu juízo: A poderosa cidade que dominava os reis do mundo recebe a justa
recompensa por seu erro. O juízo de Deus chega repentinamente, tomando a
orgulhosa meretriz de surpresa.
Os mercadores lamentam sobre a
meretriz (18:11-17a)
18:11 – E, sobre ela, choram e
pranteiam os mercadores da terra, porque já ninguém compra a sua mercadoria,
E, sobre ela, choram e pranteiam os
mercadores da terra, porque já ninguém compra a sua mercadoria: Confirmação do motivo egoísta da tristeza das nações! Não choraram por
amor de Roma, e sim por perda de lucros! O egoísmo e o materialismo são
características de pessoas carnais. Roma mostrou este mesmo espírito, e os
sujeitos que participavam da prostituição dela, também, se mostraram carnais.
“Mercadores” vem de uma palavra que sugere atacadistas, aqueles que
transportaram mercadoria de longe para vender em grandes quantidades.
18:12-14 – mercadoria de ouro, de
prata, de pedras preciosas, de pérolas, de linho finíssimo, de púrpura, de
seda, de escarlata; e toda espécie de madeira odorífera, todo gênero de objeto
de marfim, toda qualidade de móvel de madeira preciosíssima, de bronze, de
ferro e de mármore;
13 e canela de cheiro, especiarias,
incenso, ungüento, bálsamo, vinho, azeite, flor de farinha, trigo, gado e
ovelhas; e de cavalos, de carros, de escravos e até almas humanas.
14 O fruto sazonado, que a tua alma
tanto apeteceu, se apartou de ti, e para ti se extinguiu tudo o que é delicado
e esplêndido, e nunca jamais serão achados.
Mercadoria de ouro, de prata, de
pedras preciosas...: Esta lista de produtos mostra a
extrema riqueza da meretriz. Consumia todo tipo de mercadoria de luxo, até
escravos. A opulência de Roma levou a cidade ao exagero de um consumismo
desenfreado, e as nações exportadoras lucraram com isso.
A lista de mercadoria nestes
versículos é paralela, embora mais resumida, à lista de Ezequiel 27 e 28.
Aquela profecia falou da mercadoria comprado por Tiro, um porto que controlava,
na sua época, uma boa parte do comércio do Mediterrâneo. Os produtos citados
vêm de diversos países em continentes diferentes. Roma, na época do Apocalipse,
controlava o comércio no mar Mediterrâneo e, com isso, uma boa parte dos
negócios entre os continentes da Ásia, África e Europa. A palavra traduzida
“mercadoria” normalmente indica frete de um navio.
Estes versículos reforçam a interpretação
da meretriz como símbolo de Roma e sua vida comercial e materialista.
Nunca jamais serão achados: Depois de gerações de luxo, Roma não teria mais o domínio comercial e
a facilidade de obter estas mercadorias. Perderia poder e prosperidade e, como
conseqüência, sua capacidade de satisfazer seus próprios apetites.
18:15-17a – Os mercadores destas
coisas, que, por meio dela, se enriqueceram, conservar-se-ão de longe, pelo
medo do seu tormento, chorando e pranteando,
16 dizendo: Ai! Ai da grande cidade,
que estava vestida de linho finíssimo, de púrpura, e de escarlata, adornada de
ouro, e de pedras preciosas, e de pérolas,
17 porque, em uma só hora, ficou
devastada tamanha riqueza!
Os mercadores destas coisas, que, por
meio dela, se enriqueceram, conservar-se-ão de longe, pelo medo do seu
tormento, chorando e pranteando, dizendo Ai! Ai da grande cidade: Os mercadores, como os reis (18:10), ficam longe da meretriz e repetem
o refrão de lamentação: “Ai! Ai da grande cidade!”
Que estava vestida de linho finíssimo,
de púrpura...: A descrição da meretriz (17:4).
Agora ele deixa claro o significado, frisando a prosperidade e materialismo da
cidade.
Porque, em uma só hora, ficou
devastada tamanha riqueza: A Babilônia tinha tudo, e se achava
superior a todos. Agora, pela declaração de Deus, perde tudo.
Os pilotos lamentam sobre a meretriz
(18:17b-19):
18:17b – E todo piloto, e todo aquele
que navega livremente, e marinheiros, e quantos labutam no mar conservaram-se
de longe.
E todo piloto, e todo aquele que
navega livremente, e marinheiros, e quantos labutam no mar conservaram-se de
longe: Já observamos a importância do
poder de Roma sobre o mar Mediterrâneo. As economias de nações dependiam do
comércio com Roma e, por isso, os reis lamentaram (18:9-10). Os mercadores
dependiam deste comércio, dando-lhes motivo para chorar (18:11-17). Os pilotos,
também, dependiam do transporte de mercadoria. Mas, como os outros, eles ficam
longe na hora do castigo da grande cidade, porque não querem sofrer com ela.
18:18 – Então, vendo a fumaceira do
seu incêndio, gritavam: Que cidade se compara à grande cidade?
Então, vendo a fumaceira do seu
incêndio, gritavam: Que cidade se compara à grande cidade?: As palavras de blasfêmia de novo! Os aliados do diabo se exaltaram
diante dos homens tanto que os habitantes da terra acreditavam, por um tempo,
nas suas arrogantes afirmações (cf. os comentários sobre Miguel e a besta do
mar em 13:4, lição 22). Mas o motivo desta arrogância sumiu numa nuvem de
fumaça subindo da cidade!
18:19 – Lançaram pó sobre a cabeça e,
chorando e pranteando, gritavam: Ai! Ai da grande cidade, na qual se
enriqueceram todos os que possuíam navios no mar, à custa da sua opulência,
porque, em uma só hora, foi devastada!
Lançaram pó sobre a cabeça e,
chorando e pranteando, gritavam: Uma cena igual à
lamentação dos pilotos quando Tiro caiu (Ezequiel 27:27-32). Lançar pó sobre a
cabeça mostra angústia e tristeza (Jó 2:12; Ezequel 27:30).
Ai! Ai da grande cidade: O terceiro refrão destas lamentações.
Na qual se enriqueceram todos os que
possuíam navios no mar, à custa da sua opulência, porque, em uma só hora, foi
devastada!: O motivo dos pilotos, como o dos
mercadores, é egoísta. Nada de tristeza pela meretriz. Eles choram porque
perderam os seus contratos como transportadores.
A Exultação dos Santos (18:20):
Os reis, mercadores e pilotos podem
lamentar, mas a queda da Babilônia é ocasião de alegria para os servos do
Senhor!
18:20 – Exultai sobre ela, ó céus, e
vós, santos, apóstolos e profetas, porque Deus contra ela julgou a vossa causa.
Exultai sobre ela, ó céus, e vós,
santos, apóstolos e profetas, porque Deus contra ela julgou a vossa causa: Os habitantes da terra podem lamentar, mas os que habitam no céu
celebram a vitória! A causa dos fiéis foi o assunto das orações dos santos
(5:8; 8:4) e das petições das almas debaixo do altar no quinto selo (6:9-11).
Santos, apóstolos e profetas foram perseguidos e oprimidos por aqueles que
habitam sobre a terra. A queda da Babilônia, a meretriz que bebera o sangue dos
santos (17:6), foi um passo importante na direção da vindicação total da causa
dos servos do Senhor.
A Derrota Total da Babilônia
(18:21-24)
A primeira vez que a palavra
Babilônia aparece no Apocalipse foi para anunciar a queda dela (14:8). A
última vez que aparece (18:21) é para declarar a sua derrota total e final.
18:21 – Então, um anjo forte levantou
uma pedra como grande pedra de moinho e arrojou-a para dentro do mar, dizendo:
Assim, com ímpeto, será arrojada Babilônia, a grande cidade, e nunca jamais
será achada.
Então, um anjo forte levantou uma
pedra como grande pedra de moinho e arrojou-a para dentro do mar: Foi um anjo forte que procurou alguém para abrir o livro e revelar a
vontade de Deus (5:2). Foi um anjo forte que desceu do céu e jurou que o
mistério de Deus seria cumprido (10:1-7). Agora, um anjo forte joga a grande
pedra no mar, declarando a finalidade do castigo previsto. Jesus usou a figura
de lançar alguém no mar com uma grande pedra de moinho pendurada no pescoço
para descrever a morte (Mateus 18:6; Marcos 9:42). Este ato simbólico do anjo
declara a morte, a derrota total, da meretriz.
Assim, com ímpeto, será arrojada
Babilônia, a grande cidade, e nunca jamais será achada: Em relação à interpretação literal ou figurada desta profecia, leia os
comentários sobre 18:2. Da mesma maneira que entendemos as profecias sobre a
Babilônia histórica, aceitamos estas profecias sobre a destruição da Babilônia
simbólica. O ponto não é a forma do castigo, mas sua certeza. Ela afirmou, na
sua arrogância, que nunca veria pranto (18:7). Deus declara que ela nunca será
vista, e nunca verá a vida! A Babilônia foi jogada no mar e se afundou. Jamais
levantará a sua mão contra os servos do Senhor. Compare a profecia sobre a
Babilônia antiga em Jeremias 51:63-64.
O estado de morte da meretriz é
descrito nas figuras nos versículos seguintes. É uma cidade morta. Não há nela
os sons de festa, nem os sons do trabalho de fábricas, nem de produção de
alimentos; não há luz, pois a cidade se escureceu. O que acha é apenas o sangue
dos santos, motivo da morte da meretriz.
18:22 – E voz de harpistas, de
músicos, de tocadores de flautas e de clarins jamais em ti se ouvirá, nem
artífice algum de qualquer arte jamais em ti se achará, e nunca jamais em ti se
ouvirá o ruído de pedra de moinho.
E voz de harpistas, de músicos, de
tocadores de flautas e de clarins jamais em ti se ouvirá: A festa acabou! A alegria da música, característica de uma cidade de
luxúria e prosperidade, cessou. A Babilônia nunca voltaria a ter a mesma
alegria.
Nem artífice algum de qualquer arte
jamais em ti se achará: A cidade era um centro de atividade
comercial, mas agora pararam para sempre as atividades de artesanato e
produção.
Nunca jamais em ti se ouvirá o ruído
de pedra de moinho: Nenhum barulho de produção de
alimentos. O silêncio da morte toma conta da cidade.
18:23-24 – Também jamais em ti
brilhará luz de candeia; nem voz de noivo ou de noiva jamais em ti se ouvirá,
pois os teus mercadores foram os grandes da terra, porque todas as nações foram
seduzidas pela tua feitiçaria.
24 E nela se achou sangue de
profetas, de santos e de todos os que foram mortos sobre a terra.
Também jamais em ti brilhará a luz de
candeia: Mais um sinal de uma cidade morta.
Nenhum som e nenhuma luz.
Nem voz de noivo ou de noiva jamais
em ti se ouvirá: O casamento sempre é um sinal de
esperança, de planos para o futuro (Mateus 24:38). Mas a Babilônia não tem
futuro; não terá nela as vozes de noivos.
Pois os teus mercadores foram os
grandes da terra: A Babilônia foi exaltada e exercia
poder e influência sobre os outros. Os motivos do castigo dela são resumidos em
dois pontos:
Porque todas as nações foram seduzidas pela tua feitiçaria: A
meretriz seduziu as nações, que participaram com ela na sua prostituição. Este
envolvimento dos povos com a Babilônia foi um dos pontos principais deste
capítulo.
E nela se achou sangue de profetas, de santos e de todos os que
foram mortos sobre a terra: Mais uma vez, ele volta ao motivo maior do
castigo de Roma. Perseguia os santos e se embriagou com o sangue deles (17:6).
Deus castiga a Babilônia como ato de justiça, trazendo a merecida vingança pela
perseguição do povo do Senhor. A súplica do quinto selo está sendo respondida!
Conclusão
O anjo de Deus
desceu do céu e declarou: “Caiu! Caiu a grande Babilônia” (18:2).
Seguiu-se o coro dos habitantes da terra lamentando a queda da grande meretriz.
Os reis, os mercadores e os marinheiros repetiam o mesmo refrão: “Ai! Ai
da grande cidade” (18:10,16,19). A cena final deste capítulo descreve a
cidade, antigamente grande e ativa, tomada pelo silêncio de uma tumba. A
Babilônia, por se exaltar e por se colocar em oposição a Deus, foi jogada no
mar e totalmente derrotada pelo Senhor. E os santos, os fiéis que não cederam
às pressões da perseguição, celebraram a vitória da justiça divina.
Perguntas
1. Quais características do anjo de 18:1-2 salientam sua posição como
mensageiro de Deus?
2. Quem participou do pecado da Babilônia?
3. O que os santos precisavam fazer para escaparem do castigo da
meretriz?
4. Como mudaria a situação da Babilônia de um dia para outro (considere,
especialmente, 18:7-8, 22-23)?
5. Quais três grupos lamentam a queda da Babilônia?
a.
Qual “refrão” é repetido por todos estes grupos?
b.
Qual foi a relação de cada grupo com a grande cidade?
6. Quem celebrou com alegria a queda da Babilônia? Por quê?
7. 17:16 atribui a devastação da Babilônia à besta e aos dez
chifres (reis subordinados), mas 18:21 diz que um anjo forte acabou com a
grande cidade. Como podemos reconciliar estas duas afirmações?
8. Qual a relação do capítulo 18 com o quinto selo?
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Fonte:
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