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sexta-feira, 30 de setembro de 2022

880- O ESPÍRITO, UM ESTUDO DETALHADO

 


Espírito Santo de Deus: O que é, sua função, personalidade e tudo o que a Bíblia diz sobre Ele

Espírito Santo de Deus na bíblia estudo

 

   O Espírito Santo, a Terceira Pessoa da Trindade é Deus, totalmente Deus, semelhante ao Pai e ao Filho. É o meio pelo qual Deus mantém um relacionamento imediato e insondável com aqueles que entendem Sua presença dentro deles como sendo completa e da mesma substância que os outros dois aspectos da divina Santíssima Trindade: Deus Pai e Deus Filho.

 

De uma forma mais resumida e clara, o Espírito Santo é tudo de Deus, tão próximo de qualquer crente quanto seu próximo batimento cardíaco.

 

"E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre" (João 14:16).

Quem é o Espírito Santo? O que o Espírito Santo faz?

O Espírito Santo é uma Pessoa divina. O seguinte descreve quem é o Espírito Santo e o que Ele faz:

 

– O Espírito Santo possui todos os atributos de personalidade e divindade: intelecto, emoções, vontade, eternidade, veracidade, onipresença, onisciência e onipotência (Salmo 139:7; 2 Coríntios 3:17; 1 Tessalonicenses 5:17).

 

O Espírito Santo é coigual e consubstancial com o Pai e o Filho (João 14:16-17).

O Espírito Santo visa executar a vontade divina em relação a toda a humanidade (Ezequiel 36:27).

O Espírito Santo foi soberanamente ativo na criação (Gênesis 1:2).

O Espírito Santo esteve envolvido na Encarnação (Mateus 1:18).

O Espírito Santo é o mestre divino que guiou os Apóstolos e Profetas quando eles se comprometeram a escrever a Bíblia (2 Pedro 1:19-21).

O Espírito Santo está trabalhando para levar as pessoas à salvação (João 3:5-7).

Todo cristão possui a presença do Espírito Santo desde o momento da salvação (Romanos 8:9).

É dever de todos os nascidos de novo serem cheios e controlados pelo Espírito Santo (Efésios 5:18).

O Espírito Santo administra dons espirituais aos cristãos e não o faz nem para glorificar a Si mesmo nem aos dons que Ele dá (Romanos 12:6-8; 1 Coríntios 12:4-11; 1 Pedro 4:11).

O Espírito Santo está trabalhando na edificação dos cristãos na igreja local (João 14:26; João 16:13-14).

Agora que entendemos um pouco de quem estamos falando quando consideramos o Espírito Santo, vamos responder à pergunta feita no início do artigo: “Qual é o poder do Espírito Santo?”

 

A Doutrina do Espírito Santo

Estudos sobre o Espírito Santo de Deus

Ao tratarmos da pessoa do Espírito Santo, encontramos a palavra paracletologia. E, antes de entrar afundo nesse estudo, vamos entender o que significa isso.

 

O QUE SIGNIFICA PARACLETOLOGIA?

Em primeiro lugar, precisamos reconhecer que jamais saberemos tudo a respeito dEle. Pois, o Espírito Santo é um ser Divino que não se limita ao conhecimento humano.

 

Mas, o que está ao nosso alcance e nos foi permitido por Deus conhecer vamos nos aprofundar!

 

 

A Definição do termo Paracletologia:

 

Paracletologia é formada por duas palavras gregas:

 

Paracletos que significa ajudador, consolador, advogado. Enquanto Logia significa estudo, doutrina.

 

A paracletologia, portanto, estuda tudo o que se refere ao Espírito Santo.

 

O estudo é importante para conhecermos a doutrina, mas, o mais importante é ter um relacionamento pessoal com Ele.

 

Porque o Espírito Santo está de igualdade com o Pai e o Filho e possui os mesmos atributos divinos. Veremos então, esses atributos a seguir.

 

O Espírito Santo na Bíblia

Versículos sobre o Espírito Santo

O Espírito Santo está presente em toda a Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.

 

No Antigo Testamento

Desde do início Ele já estava atuando na história. Não apenas na criação, no planejamento e na construção do universo (Gênesis 1:2; Salmos 104:30), mas, também na formação do homem (Jó 33:4).

 

E agiu por intermédio dos juízes, reis, sacerdotes e profetas (2 Samuel 23:2; Miquéias 3:8).

 

No Novo Testamento

Ele fez-se presente, ainda, no nascimento e na vida terrena de Jesus (Lucas 1:35).

 

 

Ele inspirou, capacitou e guiou os autores do Novo testamento a registrar os principais episódios do ministério de Cristo (Lucas 1:1-4; João 21:25).

 

Sua atuação em Atos é tão marcante que o livro é também conhecido como: Atos do Espírito Santo.

 

Obra do Espírito Santo no Evangelho de Lucas:

1. João Batista seria cheio do Espírito Santo desde o ventre materno (Lucas 1.15)

 

2. O Espírito Santo desceu sobre Maria para gerar o Filho de Deus (Lucas 1.35)

 

3. Isabel foi cheia do Espírito Santo (Lucas 1.41)

 

4. Zacarias profetizou cheio do Espírito de Deus (Lucas 1.67)

 

5. O Espírito Santo estava sobre Simeão (Lucas 2.25)

 

6. O Espírito de Deus revelou a Simeão que ele veria o Salvador do mundo antes de morrer (Lucas 2.26)

 

7. Simeão foi ao templo movido pelo Espírito de Deus (Lucas 2.27)

 

8. Jesus voltou do Jordão cheio do Espírito (Lucas 4.1)

 

9. Pelo Poder do Espírito Santo Jesus voltou para a Galiléia (Lucas 4.14)

 

10. O primeiro sermão que Jesus pregou foi: “O Espírito do Senhor está sobre mim” (Lucas 4.18)

 

 

11. Jesus exultou de alegria no Espírito Santo (Lucas 10.21)

 

12. O Pai Celestial dará o Espírito Santo as pessoas que lhe pedirem (Lucas 11.13)

 

13. O Espírito Santo nos ensinará o que devemos dizer (Lucas 12.12)

 

14. Jesus ordenou aos discípulos que ficassem em Jerusalém até que do alto fossem revestidos do Poder do Espírito Santo (Lucas 24.49)

 

A divindade do Espírito Santo

O Espírito Santo é chamado de Senhor nas escrituras sagradas. Da mesma forma que o Pai e o Filho, o Ele também é Deus, porque possui os mesmos atributos. Veremos então esses atributos:

 

1. SEUS ATRIBUTOS DIVINOS

Eterno (Hebreus 9:14)

 

Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?

 

Onisciente (1 Coríntios 2:10)

 

Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.

 

Onipresente (Salmos 139:7-10)

 

 

7 Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? 8 Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. 9 Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar.

 

Onipotente (1 Coríntios 12:11)

 

Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.

 

Imutável (Malaquias 3:6)

 

Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos.

 

2. ELE É INTEGRANTE DA TRINDADE

O Pai é Deus (Mateus 6:8)

 

Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes.

 

O Filho é Deus (2 Pedro 1:1)

 

SIMÃO Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo:

 

O Espírito Santo é Deus (2 Coríntios 3:18)

 

 

Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.

 

3. SUAS OBRAS DIVINAS

Tomou parte na criação (Gênesis 1:2)

 

E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo …Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.

 

Produz novas criaturas (2 Coríntios 5:17)

 

Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.

 

Ressuscitou Cristo (Romanos 1:4)

 

Declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor.

 

Procede do Pai e do Filho (João 15:26)

 

Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim.

 

A personalidade do Espírito Santo

Servo Bom e Fiel - Mateus 25 -talentos

A Personalidade do Espírito Santo está presente em toda a Bíblia de maneira abundante e inconfundível.

 

Existem três características primárias da personalidade: vontade, mente e emoções. Deveria ser óbvio que uma força, como a gravidade ou o eletromagnetismo, não pode possuir essas propriedades. No entanto, o Novo Testamento demonstra que o Espírito Santo tem vontade, mente e emoções.

 

Há Nele elementos constitutivos da personalidade, tais como intelecto, pois Ele penetra todas as coisas (1 Coríntios 2:10,11) e inteligência (Romanos 8:27).

 

Ele tem emoção e sensibilidade (Romanos 15:30) e possui vontade (Atos 16:7).

 

Personalidade (ser uma pessoa) e corporalidade (ter um corpo), são, de fato, coisas bem diferentes. Apesar de não ter corporalidade, Ele tem personalidade.

 

Da mesma forma, Ele é, como Deus Pai, simultaneamente espírito e pessoa.

 

Portanto, as três faculdades intelecto, emoção e vontade caracterizam a personalidade.

 

1. ELE TEM EMOÇÃO/ SENTIMENTOS

Se entristece profundamente (Efésios 4:30)

 

E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção.

 

Ama intensamente e sacrificial (Romanos 15:30)

 

E rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que combatais comigo nas vossas orações por mim a Deus.

 

Intercede com gemidos por nós diante do Pai (Romanos 8:26)

 

Contrista-se por causa da rebeldia do povo (Isaías 63:10)

 

Mas eles foram rebeldes, e contristaram o seu Espírito Santo; por isso se lhes tornou em inimigo, e ele mesmo pelejou contra eles.

 

Consola e conforta como advogado e amigo (Atos 9:31)

 

Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo.

 

2. ELE TEM INTELECTO/ ENTENDIMENTO

Inteligência (João 14:26)

 

Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.

 

Vontade (Atos 16:7)

 

E, quando chegaram a Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito não lho permitiu.

 

Sentimentos (Isaías 63:10)

 

Mas eles foram rebeldes, e contristaram o seu Espírito Santo; por isso se lhes tornou em inimigo, e ele mesmo pelejou contra eles.

 

Ensina (João 14:26)

 

Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas…

 

Guia e direciona (Gálatas 5:18)

 

Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.

 

Testifica (Romanos 8:16)

 

O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.

 

3. ELE TEM VONTADE PRÓPRIA

Convida o pecador à salvação (Apocalipse 22:17)

 

E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem …quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.

 

Seleciona, delega e capacita novos líderes (Atos 13:2-4)

 

2 E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. 3 Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram. 4 E assim estes, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre.

 

Impediu Paulo de ir a certo lugar (Atos 16:6-7)

 

6 E, passando pela Frígia e pela província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia. 7 E, quando chegaram a Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito não lho permitiu.

 

Assiste e socorre os fiéis nas orações (Romanos 8:26)

 

E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis.

 

Santifica (Romanos 15:16)

 

Que seja ministro de Jesus Cristo para os gentios, ministrando o evangelho de Deus, para que seja agradável a oferta dos gentios, santificada pelo Espírito Santo.

 

Os símbolos do Espírito Santo na Bíblia

A pessoa e a obra do Espírito Santo são ilustradas nas Escrituras por vários símbolos.

 

Esses símbolos podem ser objetos, pessoas ou evento, que prefiguram um outro objeto, pessoa ou evento. Nesse estudo queremos examinar alguns destes símbolos do Espírito Santo.

 

POMBA

Símbolo do Espírito Santo -pomba

Em João 1.32, encontramos o Espírito tomando a forma de uma pomba.

 

As características da pomba fazem dela um tipo apto do Espírito que são a sua beleza, suavidade, limpeza e a característica de ela ser facilmente incomodada.

 

A pomba também é inofensiva e calma.

 

Outras referências nas Escrituras onde este tipo é usado são as seguintes.

 

Gênesis 1.2, pois o Espírito é visto afagando a criação como um pássaro sobre o seu ninho.

 

Gênesis 8.6-12, uma pomba é solta da arca por Noé. Aqui encontramos pelo menos duas figuras do Espírito Santo.

 

A pomba, não como o corvo, recusou-se a continuar do lado de fora da arca, onde nenhum lugar limpo podia ser encontrado.

 

O Espírito, obviamente, só habita naqueles que têm sido lavados pelo sangue de Cristo.

 

A pomba trouxe de volta uma folha de oliveira como um sinal de esperança para aqueles que estavam na arca. Isso prefigura o Espírito que traz a segurança da salvação para os que estão em Cristo.

 

Se quer saber mais da pomba como símbolo do Espírito Santo, então veja esse artigo: Por que a pomba é um símbolo do Espírito Santo?

 

ÓLEO / AZEITE

óleo símbolo da unção do Espírito

O óleo de oliveira (azeite) foi um artigo de grande importância na Palestina, sendo usado como comida, remédio, iluminação e unção.

 

É um tipo constante do Espírito Santo tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento.

 

Em Êxodo 40.9-11, aprendemos que o tabernáculo e os móveis deveriam ser ungidos com azeite.

 

Como o tabernáculo era uma figura de Cristo, o azeite figurou Cristo sendo ungido pelo Espírito.

 

Em Êxodo 27.20-21, notamos que o interior do tabernáculo era iluminado pelo uso de óleo de oliveira.

 

Como os pertences eram tipos de Cristo, a interpretação é fácil. Sem a iluminação do Espírito de Deus ninguém poderia ver as glorias do nosso Salvador.

 

Em Levítico 14.14-18, aprendemos que na purificação de uma lepra, foram usados tanto o sangue quanto o azeite.

 

Isto revela que quando alguém é convertido e curado do pecado, operam tanto o sangue de Cristo quanto a pessoa do Espírito Santo.

 

Os profetas, sacerdotes e reis sendo ungidos prefiguravam a Cristo como nosso profeta, sacerdote e rei.

 

Em Levítico 2.1, encontramos a flor de farinha (um tipo da carne imaculada de Cristo) que foi ungida com azeite (um tipo do Espírito Santo).

 

O óleo é frequentemente associado, na Bíblia, a curas (Isaías 1.6; Lucas 10.34; Marcos 6.12-13). O Espírito Santo sara espiritualmente.

 

ÁGUA

pomba Símbolo da água

A água é um tipo comum do Espírito Santo na salvação.

 

A água é a fonte da vida. Sem água este mundo seria um cemitério desolado e ressecado. Da mesma forma é a presença do Espírito que traz vida e fruto espiritual para as nossas vidas (Gálatas 5.22; Isaías 44.3; Atos 2.37).

 

A terra tem abundância de água. Os remidos também têm uma fonte abundante do poder do Espírito (João 7.38).

 

É necessária água para a limpeza. É o Espírito quem limpa nossos corações na regeneração e, continua nos purificando quando diariamente nos aproximamos de nosso Pai celestial (Tito 3.5; Êxodo 29.4).

 

O Espírito Santo é comparado à água viva vinda de um córrego constante. Ele é de todas as formas superior aos poços e às poças estagnadas deste mundo.

 

Enquanto os prazeres desta vida desaparecem e acabam, o Espírito de Deus continua sendo uma fonte interior de vida e gozo (João 4.14; 7.37-39).

 

VENTO

vento do espirito de deus

O vento é um tipo especial do Espírito porque a palavra “espírito” também se traduz como “vento”.

 

Nosso Senhor usa vento como um tipo do Espírito (João 3.8).

 

O vento é invisível na sua obra (João 3.8). Cristo assim revelou a insensatez de conectar a regeneração com sinais visíveis como o batismo.

 

O vento não é controlado pelos homens (João 3.8). O Espírito Santo é soberano em Suas operações.

 

A presença do vento é percebida pela sua influência (João 3.8). Da mesma forma a presença do Espírito Santo é conhecida pela Sua influência nos corações.

 

O vento é poderoso (Atos 2.1-2). O Espírito Santo pode quebrar o coração mais duro.

 

Assim como que o vento move um barco a velas, o Espírito de Deus moveu aqueles que escreveram as Escrituras (2 Pedro 1.21).

 

Da mesma maneira que o vento seco pode murchar a beleza da natureza, o Espírito Santo pode secar o coração orgulhoso através da Sua obra de convicção (Isaías 40.6-7).

 

FOGO

fogo simbologia bíblica espírito

Em Atos 2.3, vemos que o fogo era um sinal da presença do Espírito.

 

Vemos no Antigo Testamento que o fogo é uma evidência da presença do Senhor (Êxodo 3.2), da aprovação do Senhor (Levítico 9.24) e proteção do Senhor (Êxodo 13.21).

 

Em Apocalipse 4.5, o Espírito é simbolizado por sete lâmpadas de fogo.

 

O número sete tem confundido algumas pessoas, mas parece referir-se ao perfeito conhecimento dado a Cristo, o ungido de Deus (Isaías 11.1-4; Apocalipse 5.6).

 

Como Recebemos o Espírito Santo?

Recebemos o Espírito Santo colocando nossa fé em Jesus Cristo. Isso é feito confessando Sua divindade e crendo que Ele ressuscitou dos mortos. Ao confiarmos em Cristo, temos confiança para pedir a Deus que nos dê Seu Espírito.

 

Os cristãos acreditam e adoram um Deus Triúno (ou seja, o Pai, o Filho e o Espírito Santo) que compartilha atributos divinos iguais. O momento em que oramos a Deus e aceitamos Jesus Cristo em nossos corações é, portanto, o momento em que recebemos o Espírito Santo.

 

Assim como é necessário saber quem é uma pessoa antes de podermos recebê-la com sinceridade, precisamos saber quem é o Espírito Santo antes de podermos recebê-lo de todo o coração e confiar nele.

 

A recepção do Espírito Santo e seu impacto

Os crentes em Cristo devem ser batizados, não apenas com água (que simboliza arrependimento, Atos 2:38), mas também com o Espírito Santo (ou seja, o controle e o poder de Deus para uma vida santa, manifestando o fruto do Espírito, Gálatas 5:22 -23).

 

Então, como recebemos o Espírito Santo? A resposta é “Busque”.

 

Jesus deixa bem claro: “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que Lhe pedirem!” (Lucas 11:13).

 

Podemos ter certeza de que pedir a Deus Pai que nos dê o Seu Espírito é um pedido que lhe dá prazer. É o desejo do Pai celestial dar boas dádivas aos Seus filhos. O Espírito Santo é a dádiva mais maravilhosa de Deus Pai para nós que cremos em Deus Filho, Jesus Cristo.

 

Ao pedir a Ele, estamos confessando nossa necessidade dEle e só podemos pedir se primeiro crermos em nossos corações.

 

Em outras palavras, sabemos que o Espírito Santo está em nós se cremos em Jesus Cristo, isto é, confessando (ou seja, declarando abertamente) com nossa boca que Jesus é o Senhor e crendo em nossos corações que Deus o ressuscitou dos mortos. (Romanos 8:9-10). [Esta é a resposta para a pergunta “Como sabemos que recebemos o Espírito Santo?”]

 

Além disso, pelo Espírito Santo, podemos ter um relacionamento amoroso com Deus Pai – somos adotados espiritualmente como filhos de Deus que podemos chamá-lo de “Abba, Pai” (Romanos 8:15; Gálatas 4:6).

 

Receber o Espírito Santo significa permitir que o Espírito de Deus assuma o controle de nossas vidas. É somente pelo Espírito que podemos viver verdadeiramente, matando os desejos pecaminosos da carne (Romanos 8:13).

 

Receber o Espírito Santo significa viver pela fé no Filho de Deus que vive em nós (Gálatas 2:20).

 

Receber o Espírito Santo também significa experimentar o poder de Deus para a Grande Comissão (isto é, proclamar o evangelho ao mundo e fazer discípulos de todas as nações, Atos 1:8; Mateus 28:19-20).

 

O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO

O batismo com o Espírito Santo é uma experiência que o crente recebe após a salvação, concedida por Deus aos seus servos.

 

E não é somente uma experiência qualquer que o crente recebe, mas com propósitos.

 

Essa experiência torna o cristão mais apto a cumprir a missão de pregar o Evangelho e o fortalece para vencer os dias difíceis.

 

O batismo com o Espírito Santo é um tema atual e indispensável à igreja de Cristo.

 

O FALAR EM LÍNGUAS COMO SINAL DO BATISMO

O falar em línguas estranhas, seja como sinal ou como dom, é uma operação divina encontrada somente a partir de Atos 2.

 

O falar em línguas como resultado do do batismo com o Espírito Santo teve o seu início no dia de Pentecostes (Atos 2:4).

 

Portanto, todos os crentes podem e devem buscar o batismo com o Espírito Santo e ao mesmo tempo, falar noutras línguas, pois é uma promessa a todos os salvos em Cristo Jesus (Atos 2:38).

 

O QUE É SER CHEIO DO ESPÍRITO NA BÍBLIA?

batismo com espírito santo

Frequentemente o Novo Testamento usa linguagem figurada para descrever essa experiencia de estar cheio do Espírito.

 

Mas, como você se sentirá, com o que se parecerá quando estiver cheio do Espírito de Deus?

 

O Novo Testamento usa essa palavra figurada “cheio” de três modos diferentes.

 

1° PERCEPÇÃO DO ESPÍRITO

Às vezes ela parece se referir ao que a maioria dos contemporâneos que se especializam em enchimento do Espírito têm em mente uma percepção da presença do Espírito “exultando no Espirito Santo”, por exemplo (Lucas 10:21).

 

Deus tenha piedade do pregador que nunca tem essa agitação, essa percepção extática da presença de Deus.

 

2° O ESPÍRITO SANTO NO COMANDO

As vezes, entretanto, a Bíblia parece indicar um relacionamento mais do que um sentimento quem está no comando? (Ef 4.29–32; 5.17,18).

 

Se o Espírito Santo está no comando completo de um relacionamento, você poderia dizer que essa pessoa está cheia do Espírito.

 

Deus tenha piedade da congregação onde o pregador não está submetido incondicionalmente e completamente à disposição do Espírito.

 

3° DONS E FRUTOS DO ESPÍRITO

Sem dúvida, o uso mais comum dessa linguagem figurada é usada para apontar o resultado, a evidência de uma vida cheia do Espírito, chamada de “dons” ou “frutos” (1 Co 12; Gl 5.22,23).

 

E isso que significa ser cheio do Espírito  estar sob o comando do Espírito Santo de tal forma que uma vida de milagres seja evidente, uma colheita abundante de frutos do Espírito que todo fiscal de frutos na congregação pode ver.

 

Assim, a única maneira de explicar os resultados da Pregação daquele homem é dizer que é o poder do Espírito!

 

O ESPÍRITO SANTO DE DEUS DESEJA SE RELACIONAR

O Espírito Santo apesar de ter personalidade, também é Deus da mesma forma que o Pai e o Filho. Não é maior, nem mais inferior, mas igual.

 

Ele deseja ter um relacionamento conosco, mas, precisamos desejar isso, porque Ele é educado e respeita nossa escolha.

 

Depois de conhecer mais da pessoa da terceira pessoa da trindade, como resultado, espero que você deseje ter um relacionamento pessoal com Ele.

 

Portanto, você precisa querer, isso mesmo, Deus respeita e não vai forçar, Ele é gentil. Porque Ele disse: “Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito“ (Zacarias 4:6).

 

Da mesma forma que Ele esteve presente na criação e nos demais momentos da história bíblica, Ele está conosco agora agindo no coração de cada crente.

 

Não viva sem a presença do meigo Consolador ao seu lado, mas convide-o, busque-o e faça o que for preciso para ser íntimo ter dEle.

 

alegria do Senhor é minha força

O Espírito Santo na atualidade

No dia de pentecostes o Espírito foi derramado sobre a igreja (Atos 2:2), enchendo todos aqueles crentes e batizando-os, tais como prometera o Senhor.

 

Após o pentecostes, os discípulos passaram a pregar e a evangelizar eficazmente, alcançando Israel e as nações estrangeiras sem impedimento algum (Atos 28:31).

 

Porque, o autêntico pentecoste leva o crente a evangelizar com poder, a orar e contribuir para a obra missionária. Por isso, precisamos do Espírito Santo atuando poderosamente em nosso meio.

 

Cinco maneiras pelas quais o Espírito Santo está trabalhando na vida de um cristão

1. O Espírito Santo traz os não cristãos para uma nova vida em Cristo.

 

É somente pela vontade soberana do Espírito Santo no novo nascimento que as pessoas nascem de novo (João 3:3, João 3:5, João 3:8).

 

2. O Espírito Santo dá segurança e ousadia ao cristão.

 

A segurança e a ousadia para o cristão vêm do Espírito Santo que testifica aos filhos e filhas de Deus que eles nasceram de novo, e é por isso que Romanos 8:16 diz: “o próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.”

 

3. O Espírito Santo sela o cristão.

 

Os cristãos possuem a salvação permanentemente como Efésios 1:13-14 diz: “tendo crido, fostes marcados nele com um selo, o Espírito Santo prometido, que é um depósito que garante a nossa herança” até o dia da volta de Cristo. A obra de selamento do Espírito Santo não pode ser desfeita; é tudo para “o louvor da Sua glória” (Efésios 1:14).

 

4. O Espírito Santo produz frutos na vida de cada cristão.

 

Os nove frutos do Espírito Santo (Gálatas 5:22-23) são os frutos que os cristãos produzem por causa da presença interior do Espírito Santo, o único que pode produzir frutos no povo de Deus.

 

5. O Espírito Santo capacita a Igreja para o testemunho mundial .

 

Jesus prometeu que o Espírito Santo seria um guia, professor e consolador para todos os cristãos (João 14:16-18). Ele também promete que o Espírito Santo alimentaria a missão de Deus à medida que os cristãos pregassem o evangelho (Atos 1:8). Atos 2:1-4 descreve como o Espírito Santo desceu sobre os primeiros cristãos no Pentecostes.

 

Vem Espírito Santo – Uma Oração Poderosa para Receber a Presença de Deus

Oração para receber o Espírito Santo de Deus

O Espírito Santo de Deus é o Ajudador, o Conselheiro da Verdade e o Intercessor de Deus. Jesus diz em João 14:17:

 

“O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.”

 

Jesus sabia que quando Ele ascendesse ao céu, o mundo precisaria do Espírito de Deus com eles, e então Ele o enviou. O Espírito Santo passa habitar em nós quando aceitamos Jesus como nosso Senhor e Salvador.

 

Uma oração para acolher o Espírito Santo em nossos dias:

Espírito Santo, nós Te damos as boas-vindas. Sabemos que Tu és o Conselheiro da Verdade, nossa ajuda em necessidade, e Aquele que nos enche com o Espírito de Deus. Oramos neste mesmo dia para entrar em maior comunhão Contigo. Você trabalha tão graciosamente para interceder por nós junto ao Pai, mas também para nos confortar com sua paz que vai além de todo entendimento. Por favor, venha.

 

Espírito Santo, hoje pedimos conselho e direção piedosos. Como diz o Salmo 37:4 para se deleitarem no Senhor, assim buscamos com ousadia fazê-lo hoje. Seguir a vontade e o coração do Pai é nosso maior desejo, pois sabemos que Seus planos são os melhores para nós e, no final, glorificar o reino. Por favor, guie-nos por Sua sabedoria, discernimento e bondade ao longo de nossas vidas.

 

Nós Te louvamos e Te agradecemos pelo amor derramado sobre nós. Te buscamos e ansiamos tão sinceramente estar em Sua presença, para sentir o Seu trabalho interior em nossos próprios corações e mentes. Nos destes tão graciosamente conforto, verdade e amor. Nós Te damos as boas-vindas neste mesmo dia. Em Nome de Cristo Jesus, Amém.

 

Vem Espírito Santo

Após a ascensão de Cristo, Jesus deixou conosco o Espírito Santo para habitar em nossos corações. Ele trabalha em nossos corações não apenas para nos dar paz, mas também para nos dar direção.

 

Quando buscamos a verdade no Espírito Santo, estamos pedindo para conhecer o caminho da vontade de Deus para sermos obedientes e cheios de sabedoria.

 

Até os gemidos que professamos podem ser traduzidos pelo Espírito Santo ao Pai como orações em nosso favor.

 

A comunicação de Deus em diferentes formas vem pelo Espírito Santo para que possamos conhecer melhor o Seu coração por nós através da revelação. O Espírito Santo trabalha para ser o Ajudador de Deus.

 

10 Versículos sobre o Espírito Santo

1. Ele é o Consolador de Deus:

 

“Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.”  (João 14:26)

 

2. Ele é o Intercessor:

 

“Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza. Porque não sabemos orar como convém, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis”. (Romanos 8:26)

 

3. Ele habita em nós:

 

“Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo dentro de vós, que recebestes de Deus? Você não é seu próprio”  (1 Coríntios 6:19)

 

4. Ele dá sabedoria e entendimento:

 

“E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor”. (Isaías 11:2)

 

5. Ele é o Espírito da Verdade:

 

“Se me amais, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, que esteja convosco para sempre, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece. Você o conhece, pois ele mora com você e estará em você”. (João 14:15-17)

 

6. Ele nos é dado:

 

“Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais o Pai celeste dará o Espírito Santo a quem lhe pedir!” (Lucas 11:13)

 

7. Ele opera em nossos corações:

 

“E eu vos darei um coração novo, e um espírito novo porei em vós. E tirarei de sua carne o coração de pedra e lhe darei um coração de carne... porei dentro de vós o meu Espírito, e farei com que andeis nos meus estatutos e tenhais cuidado de obedecer às minhas regras”. (Ezequiel 36:26)

 

8. Ele fala o que está por vir:

 

“Quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará em toda a verdade, pois não falará por si mesmo, mas tudo o que ouvir falará e declarará para vós as coisas que estão para vir.” (João 16:13)

 

9. Ele comunica a Palavra de Deus para nós:

 

“E nos últimos dias será, Deus declara, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, e vossos jovens terão visões , e os vossos velhos terão sonhos; mesmo sobre os meus servos e servas naqueles dias derramarei o meu Espírito, e eles profetizarão”. (Atos 2:17)

 

10. Ele nos revela:

 

“E todos nós, com o rosto descoberto, contemplando a glória do Senhor, somos transformados na mesma imagem de um grau de glória para outro. Pois isso vem do Senhor, que é o Espírito”. (2 Coríntios 3:18)

 

Conclusão

A unidade com o Espírito Santo nos aproxima cada vez mais do coração de Deus Pai. Saber que temos o Espírito de Deus dentro de nós e saber que podemos perguntar ao Espírito por direção, verdade e sabedoria traz esperança.

 

Peça ao Espírito Santo hoje que se revele a você para uma paz que vai além da compreensão, um amor que cai sobre nós como uma chuva suave e um caminho para abençoarmos o reino. Ele é nosso ajudador, amigo e conexão com o próprio Deus.

 

 

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O que é ruah no contexto original hebraico

 

O termo hebraico רוּחַ (ruah ou ruach – grego pneuma), geralmente traduzido por “espírito” nas traduções bíblicas mais conhecidas, significa literalmente “vento“, “sopro” ou “respiração“. No entanto, por ser uma palavra polissêmica da língua hebraica, outros significados, todos de alguma forma conectados com essa mesma raiz, são aplicados a ruah em situações diferentes. Neste estudo bíblico veremos uma explicação um tanto sucinta, mas que definirá por completo o uso dessa palavra na Bíblia Sagrada.

 

Baixe este estudo em PDF para impressão aqui.

 

Ruah, o ar em movimento.

Em uma nota de rodapé na Bíblia de Jerusalém (BDJ) há uma explicação quase que completa acerca do significado da palavra ruah (ou ruach). Portanto, vamos tomá-la como ponto de partida para nossa compreensão. A nota diz o seguinte:

 

A palavra ruah designa o ar em movimento, seja sopro do vento (Êx 10,13; Jó 21,18), seja o que sai das narinas (Gn 7,15. 22 etc.),

Ela designa, portanto, a força vital, os pensamentos, os sentimentos e as paixões, nos quais ela se exprime (Gn 41,8; 45,27; 1Sm 1,15; 1Rs 21,5 etc.).

No homem, ela é um dom de Deus (Gn 6,3; Nm 16,22; Jó 27,3; Sl 104,29; Ecl 12,7). Ela é também o poder pelo qual Deus age, tanto na criação (Gn 1,2; Jó 33,4; Sl 104,29,30), quanto na história dos homens (Êx 31,3) particularmente pelo ´órgão dos profetas (Jz 3,10+; Ez 36,28+) e do Messias (Is 11,2+; Cf. Rm 1,9+).

 

Bíblia de Jerusalém, pág. 43; nota de rodapé “c” em Gênesis 6:17.

Foto da nota de rodapé com explicação da palavra hebraica ruah na Bíblia de Jerusalém, por Paulus Editora, 1ª edição de 2002, 13ª reimpressão de 2019.

Foto da nota de rodapé com explicação da palavra hebraica ruah na Bíblia de Jerusalém, por Paulus Editora, 1ª edição de 2002, 13ª reimpressão de 2019.

Com essa descrição, podemos destacar um versículo muito popular das Escrituras, no qual algumas especulações se levantam, mas que na BDJ, por exemplo, foi traduzido de forma mais adequada comparado às demais traduções. O versículo em questão é Gênesis 1:2, como se segue:

 

"Ora, a terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, e um sopro de Deus agitava a superfície das águas."

(Gênesis 1:2 Bíblia de Jerusalém)

 

O que é o vento ou sopro (espírito) de Deus?

Portanto, geralmente, quando se fala no vento/sopro de Deus nas Escrituras (רוּחַ אֱלֹהִים – ruah elohim – “sopro/espírito” de Deus) é uma linguagem figurada para descrever Deus “se movendo”, isto é, agindo, trabalhando, atuando. Essa atuação pode ser na natureza (Gên. 1:2; Nm 11:31; Is 11:15), no homem ou através dele, seja impelindo-o a alguma ação profética (Nm 11:25-29; 24:2; 1 Sam. 10:10; 19:23; Ez 37:9; Mat. 12:18) ou o capacitando com alguma habilidade (Gn 41:38; Êxo. 31:3; 1 Sm 11:6).

 

Isso explica ainda porque os discípulos que estavam reunidos no quinquagésimo dia da festa das semanas, em Atos capítulo 2 (conhecida como Pentecostes), foram impelidos a profetizar depois de receberem deste mesmo “espírito”, isto é, “sopro”, mover/inspiração profética que estava nos profetas israelitas antigos (cf. At. 2:11; 10:45,46; cf. 1 Pe 1:10,11).

 

A ideia sempre foi de que o “sopro santo” de Deus os moveu a falar aquelas palavras, isto é, profetizar, conforme lemos em Atos 2:4,11. Ora, este dom já era promessa desde tempos antigos (vide Atos 2:14-18,37-39; cf. Joel 2:28,29; 1 Sm 10:10,11).

 

Isso também explica as palavras do apóstolo Simão em 2ª Pedro 1:21, onde normalmente é traduzido “porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.” (NAA). Em lugar de que, na realidade, literalmente pode ser traduzido “homens falaram da parte de Deus movidos pelo sopro santo“. O sentido disso é claro, pois assim como um sopro move as coisas para a direção em que está soprando, o “sopro” de Deus move, impele o homem a falar ou fazer algo, no caso deste versículo em questão, ele moveu os profetas antigos a escreverem as Sagradas Letras.

 

Outras aplicações para ruach nas Escrituras Sagradas.

Como vimos mais acima no comentário da Bíblia de Jerusalém, a palavra hebraica ruah também tem outras aplicações.

 

Descrições adicionais dela são encontradas no Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento (DITAT). Portanto, vamos conferir e coletar mais esclarecimentos.

 

2131a רוּחַ (ruah) vento, sopro, mente.

Esse substantivo ocorre 387 vezes no AT, sendo geralmente de gênero feminino […] é preferível entendê-lo como um substantivo primitivo, relacionado com a raiz ‘ayin-waw ruh, “respirar”, “soprar” […]

 

A ideia básica de ruah (grego pneuma) é “ar em movimento”, tanto o ar que não pode passar entre as escamas de um crocodilo (Jó 41.16) até a ventania de uma tempestade (Is 25.4; Hc 1.11) […]

Nos seres vivos o ruah é a sua respiração, quer de animais (Gn 7.15; Sl 104.29), de seres humanos (Is 42.5; Ez 37.5) ou ambos (Gn 7.22-23); é o ar inalado (Jr 2.24) nos lábios (Is 11.4; cf Jó 9.18; contrastem-se os ídolos mortos, Jr 10.14; 51.17).

Deus o cria: “o ruah [‘espírito’; ARA, ‘sopro’] [da parte] de Deus está em minhas narinas” (Jó 27.3).

 

As conotações de sopro incluem:

força (1 Rs 10.5, em que se diz que a rainha de Sabá não tinha mais ruah, i.e., ela ficou com a respiração suspensa, surpresa),

coragem (Js 2.11; 5.1, em que literalmente se diz que não “permanece mais espírito” nos inimigos de Israel; ARA, “desmaiar-se o coração de alguém”) e

valor (Lm 4.20, que declara que o rei da dinastia davídica era literalmente “o fôlego de nossas narinas”, isto é, “a valiosa esperança” […]

De outro lado, falsos profetas tornam-se ruah, “vento”, porque lhes falta a palavra (Jr 5.13), sendo que aí a conotação é de vacuidade, a futilidade do simples “vento” (Jó 7.7; Is 41.29) […]

Com o sentido de um movimento forte e rápido de ar, de uma bufada pelas narinas, ruah descreve emoções de agressividade (Is 25.4) ou ira (Jz 8.3; Pv 29.11).

 

Uma última conotação de “sopro” ou “respiração” é atividade e vida.

O “espírito da pessoa se consome quando ela fica doente ou fraca (Jó 17.1), mas volta como um novo fôlego e a pessoa revive (Jz 15.19; 1 Sm 30.12; cf. Gn 45.27).

Nas mãos de Deus se encontra a ruah, “fôlego” de toda a humanidade (Jó 12.10; Is 42.5). De modo que a melhor tradução de Gênesis 6.3 e “o meu espírito [‘fôlego de vida’ que vem da parte de Deus] não habitará [tradução que segue a LXX] no homem para sempre, pois ele é carne [ou seja, é ‘mortal’]…

 

Ademais, o substantivo ruah descreve uma disposição da mente ou atitude. O espírito de Calebe foi diferente do de seus companheiros sem fé (Nm 14.24; cf. o espírito de Senaqueribe, i.e., a sua decisão em 2 Rs 19.7).

 

O ruah de alguém pode estar triste (1 Rs 21.5), surpreso (Sl 77.3 [4]) ou contrito (Is 57.15). Pode estar sereno (Pv 17.27), ciumento (Nm 5.14) e paciente ou orgulhoso (Ec 7.8). As pessoas podem se caracterizar por um espírito de sabedoria (Dt 34.9) ou de prostituição (Os 4.12).

 

Finalmente, ruah denota toda a consciência imaterial do homem:

“com o meu espírito dentro de mim, eu te procuro diligentemente” (Is 26.9);

uma pessoa sábia “domina o seu espírito” (Pv 16.32; cf. Dn 5.20);

no “espírito [do homem a quem o SENHOR não atribui iniquidade] não há dolo” (Sl 32.2)…

 

Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, págs. 1407-1408.

 

A ruah (espírito) descrevendo o ser interior de alguém.

Queremos destacar aqui ao menos dois trechos da explicação do DITAT acima que trazem luz a algumas passagens bíblicas nos escritos nazarenos (Novo Testamento).

 

A primeira é o trecho que explica “o ruah (espírito) de alguém pode estar triste ou contrito” (1 Rs 21.5; Is 57.15; cf. Is 54.6; Dn 7:15; Jó 17:1; Sl 77:3; 143:4), do mesmo modo que pode estar alegre (Lc 1:47; 1 Cor. 16:18; Sl 16:9). Nestes casos o “espírito” (ruah) da pessoa se refere ao seu ser interior, seu íntimo, sua força vital ou ânimo (cf. Js 2:11; At 18:25; Rm 12:11). Assim, podemos entender melhor o que Paulo registrou em Efésios 4:30, dizendo que não entristeçamos o espírito santo de Deus.

 

Ou seja, um “ruah” (espírito) estar triste não é uma ideia nova criada por Paulo nem exclusiva deste versículo, mas as próprias Escrituras hebraicas já mencionaram uma situação em que o espírito de Deus foi entristecido por seu povo antes, quando violaram sua aliança (vide Is 63:10).

 

Por isso, entristecer o espírito santo de Deus é, basicamente, entristecer ao próprio Deus no final das contas, isto é, deixá-lo, por assim dizer, chateado (ex.: Gn 6:5,6). Além disso, no idioma original, “ruah hakodesh” significa “espírito do Santo”.

 

A ruach como conotação do ser.

Algo curioso acontece em Atos 5:3,4, quando Simão Pedro fala sobre a ruah santa de Deus.

 

Ali, conforme traduções da Bíblia, Simão afirma que Ananias mentiu ao “espírito santo” (v. 3), e logo em seguida diz que também mentiu contra Deus (v. 4). Não se tratava de que aquele homem proferiu mentira contra duas pessoas diferentes, ou literalmente contra o “sopro” de Deus, mas mentir contra a ruah de Deus é, no final das contas, mentir contra Ele mesmo.

 

Em outros trechos das Escrituras as pessoas se referem ao seu próprio “espírito” (ruah) também. Mas isso não quer dizer que o espírito delas era algo à parte delas, mas é uma referência ao seu próprio interior, o íntimo do seu ser (cf. Jó 6:4; 32:18; Sl 77:6).

 

Como ruah designa o ar em movimento dentro do ser, essa palavra também designa figuradamente os pensamentos interiores, a consciência, o centro dos sentimentos, conforme as bibliografias lidas acima.

 

Por exemplo, quando o texto bíblico fala do “espírito” de Paulo, está se referindo às reações que ele teve em seu interior diante de certas situações, ou se refere à sua consciência/intenção (At. 17:16; 18:5; 19:21).

 

A ruah como uma presença.

Outra situação interessante do uso de ruah nas Escrituras Hebraicas que explicam situações no “Novo Testamento bíblico” está em Isaías 26:9, onde normalmente as palavras do profeta são traduzidas por “com meu espírito dentro de mim, eu te busco“:

 

Yeshayahu (Isaías) diz que busca/procura a Deus com seu “espírito” ou seja, em seu interior, no mais íntimo de seu ser e na sua consciência. Da mesma forma, o Mestre afirma no livro de Yohanan (João) 4:23,24 que Deus não seria mais adorado apenas em Jerusalém ou Samaria, antes seria adorado por aqueles que o adorariam “em espírito” e em verdade, isto é, aqueles que, em qualquer lugar, o buscassem e o adorassem em seu próprio interior, no mais íntimo de seu ser, isto é, na sua ruah (espírito, mente, consciência).

 

Isso significa que, assim como o vento (significado original de ruah) não é visto, mas está em todo lugar e pode-se percebê-lo, Deus também é ruah (v. 24), ou seja, Ele é invisível, mas está presente, vivo e ativo, e pode ser encontrado e adorado em todos os lugares do mundo.

 

(Para mais detalhes veja o estudo “Adorar a Deus em espírito e em verdade” no blog Bíblia se Ensina).

 

Ruah (espírito) como a mente de alguém.

Na Concordância Bíblica Strong, que é o dicionário bíblico mais popular de todos os tempos (embora nem todos os significados de ruah expressos ali reflitam o significado e conceito original da palavra), é afirmado que ruah pode se tratar ainda da mente, pensamento ou intenção de quem se fala. Isso também já vimos nas bibliografias citadas antes aqui.

 

 

Na página 957 da Concordância é registrado o significado de ruach como vento, hálito, mente, espírito.

 

Ora, na Septuaginta, a tradução grega das Escrituras hebraicas feita em meados do século 3 AEC, ruah foi traduzido por “mente” (grego nous) no versículo de Isaías (Yeshayahu) 40:13.

 

"Quem dirigiu o espírito de Iahweh ou, como conselheiro, o instruiu?"

(Isaías 40:13 na Bíblia de Jerusalém, traduzido do texto hebraico)

"Quem conheceu a mente do Senhor, sendo o seu conselheiro a fim de ensiná-lo?"

(Isaías 40:13 traduzido diretamente da Septuaginta)

O texto antigo da Septuaginta, como vimos, publicado ainda antes do Senhor vir ao mundo, refletiu-se nas traduções gregas das cartas de Paulo em Romanos 11:34 e 1ª Coríntios 2:16, onde em ambos versículos lemos: “quem conheceu a mente do SENHOR?”

 

Logo, ruah (espírito), também trata-se da “mente de Deus”, ou seja, de sua intenção. Outras semelhanças com isso são Jó 20:3, Sl 77:6, Dn 7:15, Atos 19:21.

Concluindo, ruah significa vento e designa o ar em movimento. É dado por Deus e a causa da existência, isto é, o fôlego de vida, a vitalidade do ser humano e dos animais. Também exprime o sentimento, as intenções e reações humanas e divinas. Ruah (espírito) nunca foi, em sua etimologia original, uma pessoa à parte do indivíduo ou uma espécie de alma que pode viver separadamente de seu corpo, mas é algo intrínseco a ele, o seu ser interior, seu íntimo, o próprio indivíduo. Todos temos uma ruah (espírito, mente, consciência), e é através dele, isto é, de nosso próprio ser interior, que pensamos e nos conduzimos.

 

Na futura tradução bíblica do Projeto Bíblico Ezra, evitaremos o máximo traduzir ruah por “espírito”, devido às conotações distorcidas que se tem na evolução do significado dessa palavra; e faremos isso para sermos mais específicos do que o texto se trata, traduzindo palavras mais adequadas de acordo com o contexto de cada situação.

 

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ESPÍRITO — Original Grego e Hebraico

 

     Qual o significado da palavra “espírito” no original grego e hebraico? Os escritores do Novo Testamento usaram a palavra grega πνευμα (pneuma), que ocorre cerca de 385 vezes, denotando principalmente o vento (pneo relacionado com “respirar”, “soprar”) também “respiração”, então, de uma maneira especial, o espírito, que, como o vento, é invisível, imaterial e poderoso. Os usos feitos deste termo no NT podem ser analisados do seguinte modo: “(a) do vento (Jo 3: 8; Heb 1:.7, cf Amós 4:13, LXX), (b) respiração (2Ts 2: 8: “espírito”, ACF, o que dá a tradução alternativa fora “sopro de sua boca” NLT “respiração”; Besson: “respiração”; Apo. 11:11 “espírito”, ACF: “respiração”; Besson: “respiração”; Apo 13: 15, ACF, “espírito”, RVR: “sopro”), cf. Jó 12: 10, LXX, (c) o homem intangível e invisível (Luc 8: 55; At. 7: 59; 1Co 5: 5; Tg 2:26, cf Ecl 12: 7, LXX), (d) o homem fora do corpo , ou “nú” (2Co 5 :3-4, Luc 24: 37, 39; Heb 12:23; 1Pe 3:18), (f) o elemento sensível do homem, que, ao que percebe, pensa, sente desejos, etc ( Mat 5:3; 26:41; Mc 2:8; Luc 1:47, 1:80; At 17:16; 20:22; 1Co 2:11; 5:3-4; 14: 4, 14:15; 2Co 7:1; cf Gên 26: 35; Isa 26:9; Eze 13:3; Dan 7:15) (g) propósito, objetivo (2Co 12:18; Flp 1:27; Efe 4:23; Apo 19:10, cf Esd 1:5; Sal 78:8; Dan 5:12), (h) o equivalente ao pronome pessoal, usada para dar ênfase e efeito, a pessoa (1Co 16:18, cf Gên 6:3, 2 ª pessoa, 2Ti 4:22; Flm1:25, cf Sal 139:7, 3ª pessoa, 2Co 7:13, cf Isa 40:13), (i) personagem (Luc 1:17; Rom 1:4, cf Núm 14:24), (j) qualidades e atividades morais: o mal como a escravidão, um escravo (Rom 8:15, cf Isa 61:3), tontura (Rom 11:8, cf Isa 29:10), medo (2Ti 1:7, cf Jos 5:1.) bom, como a adoção, isto é, de liberdade como um filho (Rom 8:15, cf Sal 51:12.), mansidão (1Co 4:21, cf Pro 16:19.), fé (2Co 4:13); manso e tranquilo (1Pe 3:4, cf Pro 14:29), (k) Espírito Santo (por exemplo Mat 4:1, veja abaixo; Luc 4:18), (1) “o homem interior”, um termo que é usado apenas do crente (Rom 7:22; 2Co 4:16; Efe 3:16), a nova vida (Rom 8:4-6, 8:10, 16; Heb 12:9, cf Sal 51:10), (m) espíritos imundos, demônios (Mat 8:16; Luc 4:33; 1Pe 3:10), (n) (Heb 1:19, cf 1Sa 18:14, cf At. 12:15), (o) para o serviço divino dom (1Co 14:12, 14:32), (p) por.. metonímia, aqueles que se dizem guardiões desses dons (2Ts 2:2; 1Jo 4:1-3), (q) o significado, em contraste com a forma, ou seja, de um ritual (Jo 6:63; Rom 2:29; Rom 7:6; 2Co 3:6), (r) uma visão (Apo 1:10; 4:2; 17:3; 21:10)” (Notas sobre Tessalonicenses por Hogg e Vine, p 204-205).

 

 

 

No A.T. os equivalentes são: נְשָׁמָה Ap 17:17. נִשְׁמָא , Dan 5:23. קָדִים , Isa 27:8. Quase sempre רוּחַ , Gên 1:2. שָׁאַף, Sal 118:131(Sal 119:131). No Antigo Testamento, a palavra geralmente usada é רוּחַ (ruach), cujos sentidos básicos são: “vento”, brisa” (Gên 3:8; Êx 10:13; 14:6), “respiração”, “sopro” (1Re 10:5; Jó 4:9; Isa 11:4), “espírito” como fato vital das criaturas (Núm 16:22; Jó 27:3; Eze 37:5, 37:7), espírito como fato independente do corpo (Pro 16:2; 1Sa 10:10; Isa 31:3; 63:10; Núm 11:17; Eze 2:2), espírito com referência à tendência, capacidade, inclinação, rúar raáh = “espírito mal” (1Sa 16:14). b) rúar shéqer = “espírito da mentira” (1Rs 22:22). c) rúar mishpát = espírito de juízo (Isa 4:4). Ocorre cerca de 378 vezes.

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Ruah no Antigo Testamento

 

A Bíblia Hebraica traz uma pneumatologia de distintos enfoques, chegando até às aproximações com o pensamento grego, na concepção de ruah (pneuma/espírito) como hokmá (sophia/sabedoria), com acentos cósmicos e psicológicos, nos livros de Provérbios, de Eclesiastes e de Sabedoria (Prov 8, Ecl 2, Sb 1-9). Contudo, a filologia e os atributos de ruah preservam os componentes do que se pode caracterizar como experiência arcaica do vento-sopro. Baumgartel (1971) ajuda a elencar os componentes mais sugestivos:

 

Vento ou sopro divino que halita ou bafeja sobre o abismo: ruah rahef (Gn 1,2);

 

Vento diário que sobra do Oeste ou Ocidente: ruah hayom (Gn 3,8);

 

Sopro ou respiração vital: ruah hayim (Gn 6,17 e 7,15, Nm 16,22 e 27,16, Ez 37,5);

 

Vento violento: ruah razaq (Ex 10,19, 1Rs 19,11), próprio da tempestade;

 

Vento impetuoso que sopra do Oriente: ruah qadim azzah (Ex 14,21);

 

Sopro potente: ruah qashah (Is 27,8);

 

Vento tempestuoso ou furacão: ruah kabbir (Jó 8,2);

 

Vento forte: ruah so’ah (Sl 55,9);

 

Ventos mensageiros: qualificados como melakhim (Sl 104,4), traduzidos como “anjos” ;

 

Vento divino que renova a face da terra: ruah como “sopro criador” (Sl 104,30);

 

Vento escaldante e cáustico: ruah tsah (Jer 4,12);

 

Vento borrascoso: ruah se’aroth (Ez 13,11-13);

 

Vento ardente: ruah zile’afoth (Sl 11,6);

 

Vento ou sopro de Deus: ruah Yhwh (Ex 15,8-10; Is 27,8 e 40,7; Os 13,15; Sl 104,29);

 

Sopro vital de Deus sobre as criaturas: Elohê ha-ruot lekol-basar (Nm 16,22 e 27,16; Joel 3,1) literalmente “sobre toda carne” ;

 

Vento do Leste ou Oriente: ruah ha-qadim (Ex 14,21; 10,13);

 

Vento do deserto: ruah midbar (Jer 13,24);

 

Vento do mar ou do Oeste: ruah yam (Ex 10,19);

 

Vento do Norte ou Setentrional: ruah tsafôn (Prov 25,23; Sirac 43,20);

 

Ventos como pontos cardeais: arba ruhot (Zc 6,5; Dn 7,2 e 8,8);

 

Ventos das quatro extremidades do Céu: arba ruhot me’arba qetsot ha-shamayím (Jer 49,36);

 

Jogar ou espalhar ao vento: zarah lekol-ruah (Jer 49,32; Ez 17,21).

 

Nesse elenco, encontram-se referências espaço-temporais coerentes com o ambiente mesopotâmico e/ou médio-oriental. A começar pelas indicações atmosféricas e climáticas: vento violento, potente, tempestuoso, furacão, forte, borrascoso, escaldante e cáustico, ardente ou tórrido. Os contrapontos mais evidentes são a secura e o calor, de um lado (tórrido, escaldante, ardente), e as tempestades chuvosas, do outro (tempestuoso, borrascoso, furacão). Assim, os adjetivos denotam uma percepção arcaica, mas real, das estações do ano.

 

Em seguida, há indicações geográficas, com destaque para os quatro pontos cardeais: vento do Norte, do Sul (= do deserto), do Leste e do Oeste (= do mar). A forma arcaica de nomear os pontos cardeais faz uso dos “quatro ventos, das quatro extremidades do Céu [ha-shamáyim]” – e não da Terra – evidenciando, assim, uma herança da Astronomia suméria e babilónica, que observava os Céus para traçar mapas e rotas terrestres. Um sinal de recepção dessa herança está na semitização do deus solar sumério Utu, chamado Utu Shamê (Sol dos Céus) pelos hititas, depois assimilado como Shamash (deus Sol) em assírio, como Shamesh (astro Sol) em hebraico, e como Shams (astro Sol) em árabe. O Sol antes adorado no Irã, é cultuado pelos semitas mesopotâmicos, depois pelos egípcios, tornando-se “o deus universal por excelência” (ELIADE, 2010, p. 77)3. Note-se que há duas composições a partir da radical semita sh-m para o Céu: combinada com mayim (águas), resultando em shamayim (Céu de Águas), isto é, o firmamento onde residem as míticas águas superiores; e combinada com esh (fogo), resultando em sham-esh (Céu de Fogo), expressão usada para nomear o Sol.

 

Cabe destacar que a “Epopeia de Gilgamesh” – o herói mesopotâmico do dilúvio, de 3000 a.C. na versão suméria – , também fala dos ventos como espíritos do ar. A versão assíria de Gilgamesh (800 a.C.) nomeia o deus solar Utu na forma semítica Shamash, descrito como justo e favorável à humanidade. Ele se compadece de Gilgamesh e lhe envia, em socorro, as entidades aéreas: “Os [dois] ventos poderosos, o vento do Norte, o furacão, o temporal, o vento gélido, a tempestade e o vento cáustico” (SANDARS, 2001, p. 106). Os “ventos poderosos” podem ser o vento do Leste e do Oeste, somando o total de “oito ventos” (SANDARS, 2001, p. 47). Esses ventos são mencionados no Antigo Testamento e reaparecem no Alcorão, como veremos, com as mesmas características.

 

Nas referências hebraicas ao vento, há também indicações vitais e corpóreas, como respiração e sopro vital. A expressão “sopro de Deus sobre toda carne” atesta a fé judaica em Adonai como divindade criadora e doadora da vida. Nesse caso, “sopro de Deus” vem expresso com dois Nomes: Yhwh – o Tetragrama impronunciável revelado a Moisés no alto do Sinai, às vezes abreviado como Yah; e Elohê – a forma semita do deus cananeu El, derivado da forma arcaica Ilu, que perdura no árabe Il (Deus) e al-Ilah (O Deus, com artigo indicativo), donde a contração Allah (nominativo). O Pentateuco usa também o plural Elohim; o aramaico bíblico diz Elahá; e o siríaco usa a variante Alahá, presente até hoje na liturgia cristã dos sírios e dos caldeus (ELIADE, 2010; CHABBI, 2016).

 

O Salmo 104 menciona os melakhim (mensageiros/anjos) como seres literalmente feitos de ruhot (ventos), revelando um procedimento teológico do judaísmo: transformar as divindades atmosféricas do Oriente Médio em simples servos de Yahweh, o Deus Único de Israel. A estrofe apresenta Yahweh como Senhor de todos os elementos da Criação:

 

 

 

Yahweh, Deus meu, como és grande:

vestido de esplendor e majestade.

envolto em luz como num manto,

estendendo os Céus [shamayim] como uma tenda,

construindo sobre as águas celestiais tuas altas moradas;

tomando as nuvens como tua carruagem

caminhando sobre as asas do vento;

fazes dos ventos [ruhot] teus mensageiros [melakhim],

e das chamas de fogo, teus ministros!

 

Fonte: (Sl 104,1-4).

 

Como as citações bíblicas mostram, o vento é um fenômeno admirado por seus efeitos climáticos e atmosféricos: sopro vital, vento criador, enviado por Deus sobre toda carne, o qual sopra nos quatro pontos cardeais (totalidade da Terra) e segue o ciclo das estações. Por isso, os ventos eram considerados gênios e espíritos do ar na antiga religião iraniana, mesopotâmica e árabe pré-islâmica. Os sumérios e babilônicos adoravam Enlil, senhor “da terra, do vento e do ar universal; essencialmente, Espírito; o deus que executa as vontades e as funções de Anu [o deus celeste]” (SANDARS, 2001, p. 170). No antigo Irã, Zoroastro admitia a existência de sete amesha spenta (entidades santas) emanadas do divino Ahura Mazda, entre as quais o Spenta Mainyu, Santo Espírito ou Benéfico Espírito. Mediante esse Benéfico Espírito, o supremo Ahura Mazda conduzia a Criação e a defendia contra o Angra Mainyu, o Maligno Espírito (GNOLI, 1995).

 

Esse dualismo entre os Espíritos benéfico e maligno estende-se aos demais elementos da natureza: fogo, água, terra e ar. Há uma infinidade de ratu (patronos) e de devas (divindades secundárias) associadas aos quatro elementos, vistos de modo dualista: para cada manifestação natural do fogo, água, terra e ar, há uma respectiva entidade transcendente. Disso resulta a forte “tendência à angelização” dos elementos naturais, “característica constante da religião iraniana” (GNOLI, 1995, p. 159). O dualismo entre matéria e espírito levará à separação dos elementos entre densos (terra e água) e sutis (fogo e ar), que devem manter-se intocáveis entre si nos ritos do Mazdeísmo (religião de Ahura Mazda).

 

Sobretudo, fogo e ar se distinguem: o fogo é mantido aceso em piras sagradas como “símbolo e epifania do eterno poder de Ahura Mazda, da força da vida sobre a morte, da luz da inteligência que aniquila a obscura ignorância” (GNOLI, 1995, p. 144). Por outro lado, o ar e os ventos são considerados um espaço hierofânico, no qual as divindades celestes se manifestam e interferem na vida humana. Acima, está o Sol – representante de Ahura Mazda – , que refulge e domina com seu clarão; abaixo, estão a terra e as águas, elementos densos; no intermédio, estão o ar e os ventos, espíritos sutis que permitem a comunicação entre os deuses e os humanos. Por isso, o Mazdeísmo remete ao alto, observa a abóbada celeste e ergue suas torres do silêncio onde são deixados os mortos para se decompor ao vento (GNOLI, 1995).

 

Nesse cenário sagrado, o ar e os ventos assumem o papel de mensageiros de Ahura Mazda – melakhim em hebraico, malaika em árabe, angheloi em grego – , pondo em marcha a “angelização” das entidades atmosféricas, que passam a constituir extratos secundários de divindades, logo abaixo dos deuses urânicos do alto firmamento.

 

O Salmo 104 atesta que essa “angelização” deu-se também no judaísmo, para rebaixar o estatuto dos espíritos do ar. Diante do Deus de Israel, como diz Gazelles, “as antigas divindades cósmicas (ventos) ou locais (Lahai Roí em Gn 16,13-14) não são mais que mensageiros, male’akim ou anjos do Senhor, às vezes portadores de sua Palavra como embaixadores dos tempos ou das divindades inferiores” (GAZELLES, 1994, p. 496). Além do Salmo 104, a “angelização” dos espíritos aparece na experiência de Daniel, um servo hebreu na corte da Babilônia: após ter visões enigmáticas, ele orava diretamente a Deus para que as explicasse, mas quem vinha revelar o significado era o Anjo Gabriel, identificado como espírito de profecia e de revelação, a mando de Yahweh (Dn 8,15-19 e 9,20-23).

 

Por fim, as citações do Espírito no Antigo Testamento trazem uma reminiscência mítica: sopro divino que “halita sobre o abismo” (Gn 1,2). O verbo rahef (halita) pode ser traduzido como “sopra brandamente” ou “cobre de hálito quente” . É um traço da antiga cosmogonia babilônica, que descreve a criação do mundo como um abismo aquático aquecido pelo hálito de uma divindade superior, geralmente urânica. O poema assírio-acadiano Enuma Elish menciona “a imagem primordial de uma totalidade aquática não diferenciada, em que se distingue apenas o primeiro casal, Apsu e Tiamat” (ELIADE, 2010, p. 77). Outras fontes descrevem “o caos aquático” como um “oceano primordial formado por Apsu e Tiamat: o primeiro personifica o oceano de água doce sobre a qual, mais tarde, flutuará a Terra; e Tiamat é o mar salgado e amargo povoado de monstros” (ELIADE, 1968, p. 167).

 

O mito prossegue com a separação das águas e com sua posterior união, a qual engendra deuses superiores e deuses inferiores, depois com a luta entre seus descendentes, até a criação da humanidade por ação de Marduk, o deus patrono da cidade de Ur. Semelhante ao relato do Gênesis, a criação começa com a luz e termina com a humanidade; há, nos céus, as águas superiores; na terra, as águas oceânicas; e abaixo da terra ficam as águas inferiores. Em hebraico, as águas abissais são chamadas tehomê, com as mesmas radicais que Tiamat. Já a criação da humanidade a partir do barro remete a uma versão mitológica anterior, testemunhada na “Epopeia de Gilgamesh”, o herói da saga. Seu companheiro de aventura, Enkidu, foi moldado em argila por Aruru (deusa da criação), segundo a imagem e a essência de Anu (deus do Céu), e com os traços de Ninurta, deus da guerra e das nascentes, também descrito como Vento do Sul. O personagem Enkidu “representa o homem selvagem e natural” (SANDARS, 2001, p. 169), semelhante ao terrenal e edênico Adamá (Adão), literalmente o terroso modelado por Deus (Gn 2,7).

 

Pneuma no Novo Testamento

 

O Espírito Santo (Pneuma Hagiós) e o espírito em sentido antropológico (pneuma) são tratados na extensão do Novo Testamento, com ênfases distintas nos autores sinóticos, nos escritos joaninos, nas Cartas paulinas, nas outras Cartas apostólicas, em Hebreus e no Apocalipse. É um tema culturalmente rico e teologicamente relevante para a fé cristã, como indicam os estudos de Schweizer (1971), Heitmann e Mühlen (1977), Congar (1995), Moltmann (2010) e Codina (2010). A pneumatologia se desenvolve e se robustece com a releitura das fontes judaicas à luz do evento pascal de Jesus Cristo, professado como Palavra do Deus Salvador (lesoús/Yêshuah) e Messias pleno de Espírito Santo (Christós/Mashiah). Como sugerido no próprio nome do Redentor, o Espírito Santo não é considerado à parte, nem em terceira posição depois do Pai e do Filho, mas em diálogo direto com a Pessoa de Jesus. No Novo Testamento há uma pneumatologia de dimensões cristológicas e uma cristologia de dimensões pneumatológicas, resultando na “mutualidade trinitária entre o Espírito e o Filho de Deus” (MOLTMANN, 2010, p. 76). A partir de Pentecostes, a manifestação do Espírito em Jesus tem sua continuidade no testemunho, na missão e na vitalidade carismática da Igreja: cheios do Espírito Santo, os crentes reconhecem e proclamam o Ressuscitado (At 2,14-36 e 7,1-53). De fato, a teologia neotestamentária do Espírito Santo é um caso fascinante e promissor, que em muito supera as páginas deste artigo.

 

No presente tópico, buscam-se os elementos hiléticos da experiência pneumática do Novo Testamento, que é o recorte temático. Os primeiros indícios encontram-se na recepção que os textos fazem da pneumatologia herdada de Israel, pois, embora redigido em grego, o Novo Testamento guarda o substrato judaico-arameu do cristianismo nascente, familiar não só ao cenário cultural palestino, mas a Jesus e a seus primeiros discípulos em pessoa. Esse substrato ora se mostra, ora se oculta, nos vários relatos evangélicos e epistolares, dialogando com a cultura helênica dos gentios (como em Paulo) ou elaborando a releitura messiânica da fé de Israel (como em Hebreus):

 

Vento que cobre com poder: epi (agir sobre) com dynamis (potência), expressando ação eficaz e transformadora (Lc 1,35);

 

Vento que plenifica e inspira: plèrès pnêumatos (Lc 1,41; 1,67, At 2,1-4; 4,8; 4,31; 6,3-6; 7,55; 9,17; 11,24; 13,9), “cheio do Espírito”, também na terceira pessoa do plural: “cheios do Espírito” (plèreis);

 

Sopro divino que plenifica e conduz: plères (cheio) e égheto (conduzido), aplicado ao mesmo sujeito (Lc 3,1);

 

Sopro divino de profecia: Pneuma Kyriou (Lc 4,18), o Espírito do Senhor, que unge (èchrisen) e envia (apèstalken);

 

Vento que sopra onde quer: tó pneuma hópou thélei pnêi (sopro que sopra onde quer), com evidente trocadilho de palavras, significando vento e/ou de Espírito divino (Jo 3,8);

 

Espírito que faz nascer de novo: gheghennèmênon ek tou pêumatos (gerado pelo Espírito) e ghennethènai anóthen (nascido novamente ou do Alto), aplicados ao mesmo sujeito (Jo 3,5-7);

 

Vento impetuoso das tempestades: o Espírito vem hôsper (rumorosamente), como um pnôes biáias (sopro potente), semelhante ao vendaval (At 2,2);

 

Espírito divino sobre toda carne: pnêumatos mou epi pásan sarka (At 2,17; // Joel 3,1);

 

Espírito que desce como pomba: peristerán (Mt 3,16; Mc 1,10; Jo 1,32);

 

Sopro de profecia com mensageiro: ànghelos Kyriou (anjo do Senhor), seguido de êipen dè tó pneuma (então o Espírito disse), em continuidade de ação (At 8,26-30);

 

Espírito associado ao ar: hôsper (rumor de vendaval) como acima em At 2,2; hó poiôn tous anghélous autou pnêumata (e do vento criou seus mensageiros), em Hb 1,7 (citando Sl 104,4);

 

Espírito associado ao fogo: en pnêumati hagio kai pyri (com Espírito Santo e com fogo), descrevendo o batismo messiânico (Lc 3,16; Mt 3,11); glôssai hosêi pyros (línguas como que de fogo), acompanhando o vento impetuoso (At 2,2);

 

Espírito associado à água: baptízon en pnêumati hagiou (“banhará” no Espírito Santo), descrevendo o batismo messiânico (Jo 1,33); potamói ek tes koilías autou (torrentes fluirão do seio dele), sobre o Dom do Espírito da parte do Messias (Jo 7,37-39); hydatos eis zoèn (água para a vida eterna), metáfora do Dom do Espírito (Jo 4,14); en pêumati pantes ebaptísthemen (no Espírito todos foram “banhados” ), afirmando o batismo dos tempos messiânicos; seguido de pantes en pnêuma epotísthemen (todos do Espírito beberam), indicando o Espírito Divino como fonte de vida nova ou plena.

 

O trocadilho “o sopro onde quer sopra” (Jo 3,8) cabe também no aramaico falado por Jesus, pois ruah é simultaneamente vento e sopro. Nesse caso, não há adjetivos de poder aplicados ao vento, mas há uma indicação da sua mobilidade percebida por audição: “O sopro/vento onde quer sopra, e ouves o seu ruído; mas não sabes de onde vem nem para onde vai” (Jo 3,8). O trocadilho é intencional, com fim didático ao modo de uma breve mashal (parábola ou comparação usada pelos rabinos): “Assim acontece com todo aquele que nasceu do Vento/Espírito” (Jo 3,8). Desse modo, a percepção teológica serve-se da percepção sensível do vento para descrever a liberdade dos que são regenerados pelo Sopro Divino. A regeneração é expressa como “nascer de novo” ou “do Alto” (Jo 3,3), que são “duas traduções possíveis do grego anóthen” (MOLLAT, 2013, p. 1847). Ambas desembocam no “nascer da água [hydos] e do Vento [pneuma]”, dito logo em seguida (Jo 3,5). Isso é interessante do ponto de vista hilético, porque essas traduções rememoram dois loci de experiências originárias: o abismo, com suas águas inferiores; e a tempestade, com suas águas superiores.

 

O abismo é o caos profundo, o lugar das águas subterrâneas, sobre as quais paira o Espírito Divino que ativa a força regenerativa desse obscuro oceano (Gn 1,2). Nessa profundeza, os seres mergulham, dissolvem-se e dali renascem. Pela dynamis do Espírito Santo, as águas abissais se tornam útero que gera e regenera. “Nascer da água e do Espírito” é “nascer de novo” do caos e da decomposição, como “nova criatura” (Jo 3,3-5; 2Cor 5,17). Isso indica a passagem originária de todo novo princípio, comparável a uma páscoa primordial, a um recomeço “ab origine” (ELIADE, 1968, p. 170). No mito sumério-babilônico, o abismo é Tiamat, deusa do oceano profundo. Na fuga de Jonas pelo Mar de Társis, ele cai no abismo e é engolido por um monstro marinho, por três dias e três noites; dali ele sai e toma o caminho de Nínive (Jn 2, mais uma vez em terreno mesopotâmico). No judaísmo, a passagem pelo abismo é ritualizada no mergulho de purificação (mikva), em piscinas muitas vezes cavadas na rocha, e os essênios realizavam “abluções” para serem “purificados pelo Espírito de Santidade” (Regra de Qumran: 1QS IV,20-21b, apudPOUILLY, 1992, p. 51). O kerigma de Pedro diz que Jesus desceu às profundezas (hades) e de lá ressuscitou em três dias (At 2,29-36). Os cristãos participam da morte e da ressurreição do Messias, imergindo no “banho da regeneração e da renovação pelo Espírito Santo” (Tt 3,5), efeitos do batismo em total correspondência com o “nascer da água e do Espírito” dito por João. De seu lado, Paulo é ainda mais explícito quanto à passagem da morte à vida, através das águas abissais: “Pelo batismo nós fomos sepultados com Ele na morte, para que, assim como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6,4). Nessa perspectiva de vida nova incluem-se as metáforas do Espírito Santo como água e torrente (Jo 4,14; 7,37-39); o sentido teológico se desenvolve a partir da necessidade do oásis (wahat em árabe) e dos riachos sazonais (wadi em árabe) para a vida dos povos semitas, que dependiam dramaticamente dos recursos hídricos disponíveis.

 

A tempestade, por sua vez, remete ao Alto Céu, onde estão represadas as águas diluvianas, de onde caem rumorosas, agitadas pelo Espírito de Deus. Note-se que o dilúvio acontece tempestivamente, com a finalidade de purificar e regenerar a Terra. Enquanto as águas abissais recriam ab origine, as águas diluvianas recriam ab alto a partir da força pneumática do Sopro Divino: “nascer do Alto” (Jo 3,3; cf. também Is 32,15; Lc 24,49. Para os semitas, a tempestade se opera pelo encontro entre o fogo (esh) e as águas superiores (mayim), elementos que se unem no termo hebraico para o céu: shamáyim. Cabe, porém, às divindades atmosféricas administrar o furor que resulta desse encontro: “Enlil, deus do ar e do vento; Ishtar, deusa da tormenta; Gigil, deus do fogo; Adad, deus do clima” (DÍEZ DE VELASCO, 1998, p. 141). No Novo Testamento, o Pneuma Hagíos (Espírito Santo) é o único agente divino dessas manifestações, suplantando teologicamente as divindades atmosféricas dos antigos povos. A exceção dos anjos, que Deus criou dos ares (Sl 104,4), todos os demais aeríou pnêumatoi (espíritos aéreos) são considerados diabólicos pelo Judaísmo da época dos Apóstolos. Paulo, que era rabino, adverte os cristãos sobre as invectivas pecaminosas das exousías tou aéros (poderes do ar), em alerta contra o pnêuma maléfico que conduz à apeitheia (desobediência), como lemos em Efésios 2,2.

 

Elementos de tempestade estão presentes no Dia de Pentecostes, o quinquagésimo dia após a Páscoa: Lucas diz que o Espírito Santo desceu do Céu com um échos hôster (eco rumoroso) semelhante a um pnôes biáias (sopro forte de vendaval). Então, chovem do Alto as glôssai hosêipyros (línguas como que de fogo), que se espalham sobre os presentes reunidos (At 2,2). Nesse caso, vendaval e fogo são os elementos tempestuosos em destaque, interpretados escatologicamente como “o Espírito divino derramado sobre toda carne” (At 2,17 citando Joel 3,1). O destaque para o fogo – não para a água como no texto joanino (Jo 4,14; 7,37-39) – é um elemento judaico que indica julgamento e purificação (SCHWEIZER, 1971). Em última instância, o fogo é metáfora do próprio Espírito de Deus, que toca os presentes, plenifica-os, capacita-os com a habilidade de falar línguas estrangeiras e, finalmente, envia-os a testemunhar a Nova Aliança (Mt 3,11; Lc 3,16; At 2,5). Todos esses elementos compõem uma teofania, uma manifestação do Divino, identificado como o Deus da Aliança, plenamente revelado por Jesus. Isso se mostra nas reminiscências de Pentecostes com a teofania do Sinai: aos cinquenta dias depois da Primeira Páscoa, Moisés sobe ao monte; o Eterno lhe fala das chamas do espinheiro em fogo, então, Elohim se revela como Yahweh e o envia a testemunhar a Aliança perante o faraó, os demais egípcios e os seus irmãos hebreus (Êx 3,13-14).

 

Ruha na liturgia siríaca

 

Os cristãos siríacos atualmente são representados por duas comunidades: a Igreja Sírio-Ortodoxa de Antioquia, com sede histórica em Damasco, na Síria, e a Igreja Assíria do Oriente, com sede histórica em Derbil, no Iraque. Ambas utilizam o siríaco (variante do aramaico) como língua de culto, com traduções em árabe e em outras línguas modernas. Há ainda duas expressões dessa tradição em comunhão canônica com a Igreja Católica: a Igreja Caldeia Católica, formada por assírio-orientais reconciliados com Roma, com sede em Bagdá, no Iraque, sob o título de Patriarcado de Babilônia dos Caldeus; e a Igreja Maronita, tipicamente libanesa, com sede em Bkerke, no Líbano, sob o título de Patriarcado Maronita de Antioquia (DALMAIS, 2007).

 

Quanto ao presente tema, a tradição siríaca preserva elementos milenares na abordagem teológico-litúrgica do Espírito Santo. Certamente, no contexto geral das fontes, da terminologia e dos usos litúrgicos, há alguma influência grega, em decorrência dos Concílios Ecumênicos e do debate doutrinal com a sede de Constantinopla. Contudo, os elementos semitas são visíveis no rito e na linguagem, em parte graças à já mencionada Peshitta – tradução siríaca da Bíblia.

 

A começar dos textos bíblicos, enquanto pneuma é de gênero neutro em grego, e spiritus é masculino em latim, o siríaco mantém o gênero feminino para ruha. O Espírito Santo é traduzido como Ruha de-Qudsha, com “adjetivo feminino mais evidente na forma Ruha’k Qaddishta (Sl 50,13), ainda que seja menos usual” (BROCK, 2006, p. 253 101). Nisso se mantém a concordância com o hebraico ruah ha-qodesh e com o árabe ruuh al-qudshu ou al-quddus (substantivo), também no feminino. Aliás, a versão árabe para Espírito Santo é tomada do aramaico (AZMOUDEH, 2007).

 

Conceber o Espírito de Deus como feminino é coerente com seus efeitos de novo nascimento, de consolação e de doação amorosa (Jo 3,5-7; Jo 14,16-17; Rm 5,5). Nesse sentido, Brock observa que, além da Bíblia, outras fontes da literatura cristã do Norte da Mesopotâmia invocam o Espírito Santo como “Mãe” . Um prestigioso exemplo vem do teólogo e mestre espiritual Afrahat (270-345 d.C.). Nas suas Homilías sobre as Bem-aventuranças, ele exorta os que escolheram seguir a vida monástica, e diz: “[Vossa escolha] é justa e apropriada, meus filhos, pois deixastes para trás tudo o que é temporal, abandonando tudo por causa de Deus: em vez de um pai terreno, buscais o Pai celeste; em vez de uma mãe sujeita à queda, tendes por Mãe o excelso Espírito de Deus” (AFRAHAT apudBROCK, 2006, p. 251). E o apócrifo siríaco Atos de Tomé traz essa invocação ao Paráclito: “Vem, ó Dom supremo, vem ó Mãe compassiva” (seção 27); “Acima de todo nome, vos invocamos como Mãe” (seção 133) (AFRAHAT apudBROCK, 2006, p. 252).

 

Outro dado interessante é a epíclese, que invoca o Espírito Santo a “halitar” (ruhhapa) sobre as oferendas. O verbo é usado na conjugação rahhep (assoprar calidamente) em correspondência exata com rahef de Gênesis 1,2 em hebraico (BROCK, 2006). Também se pede ao Espírito Santo que “voe sobre” (ttas) para abençoar, evocando o símbolo pneumatológico da pomba (Mc 1,10 e Lc 3,22) que voou sobre Jesus (BROCK, 2006). O rito antioqueno usa ainda o verbo shamli (plenificar), de raiz próxima a shamê (céu atmosférico), com o sentido de preencher-se do Sopro de Deus à semelhança do ar que preenche o espaço em que se respira (BROCK, 2006).

 

Rih e Ruuh no Alcorão

 

O ar, considerado como vento, é rih em árabe, com o plural riyah – da mesma radical que ruuh: sopro, fôlego e novamente vento, em alguns casos. Semelhante ao hebraico e ao aramaico, os termos rih (vento) e ruuh (sopro) são substantivos femininos. Os elementos hiléticos são vários, aqui elencados a partir dos estudos de Toelle (2007):

 

Vento bom: rih tayba (Sura 10,22);

 

Espírito cumpridor da vontade divina: associado a am’r, palavra ou ordem divina (Sura 42,52);

 

Respiração insuflada por Deus em Adão: ruuh movido por nafakha, insuflar (Suras 15,29; 32,9; 38,72); da mesma radical que nafas (soprar) e tanafassa (respirar);

 

Entidade angélica a serviço de Deus: ruuh al-amin, espírito fidedigno (Suras 26,192; 70,4; 78,38; 97,3-4); os exegetas o indentificam com o Gibril, o Anjo Gabriel;

 

Espírito de santidade: ruuh al-quddus ou al-qudshu (Suras 2,87; 2,253; 5,110; 16,102), tomado do aramaico ruha de-qudsha, interpretado como manifestação da Palavra divina ou título do Anjo da Revelação e da Profecia, Gibril (Gabriel);

 

Vento potente: rih ’assifa, literalmente “vento [rih] que arranca as raízes [’asf]” (Sura 10,22; 21,81), expressão usada para indicar a tempestade; aparece uma vez como particípio feminino plural: rih al-’assifat (Sura 77,2);

 

Ventos fecundantes ou germinadores: riyah lawaqih (Sura 15,22);

 

Vento estéril e destruidor: rih ’aqim (Sura 51,41);

 

Vento que quebra os navios: adjetivado por qassif (Sura 17,69);

 

Vento que golpeia com o aguaceiro: adjetivado por i’ssar, literalmente “que suscita nuvens de trovoada” (Sura 2,266);

 

Vento ardente tórrido: adjetivado como lisan al-’arab, literalmente “que contém fogo” (Sura 2,266); indica o vento com areia escaldante das tempestades do deserto;

 

Vento ardente gélido: rih sarsar (Suras 41,16; 54,19; 69,6), que queima e destrói a vegetação com sua baixa temperatura; traduzido também por “vento devastador” .

 

Há também o caso particular dos ventos potentes al-’assifat nas Suras 18,45 e 77,2 precisamente, com o sentido de castigo ou de punição. Esses ventos “prejudicam a navegação e a agricultura e atiçam o fogo, quando se trata de exterminar um povo que, em virtude de sua iniquidade, acaba por esgotar a paciência divina” (TOELLE, 2007, p. 34). Com essas características, o Alcorão narra o castigo divino sobre as tribos de Ad e Thamud (Sura 69,4-8) e sobre “a cidade de Lot” (Sura 9,70: a Sodoma de Gn 19). Exemplo semelhante é o uso pedagógico que Allah faz dos ventos, enviados como sinal de advertência aos orgulhosos que desprezam o favor divino, ou em reação aos ímpios que praticam a injustiça (Suras 3,117; 2,266; 14,18). Há ainda o caso do samum (Suras 52,27 e 56,42): o vento escaldante e fétido que sopra no Inferno, imaginado a partir do vento tórrido e sufocante das tempestades de areia, com mesmo nome em árabe e em dialeto beduíno: samum. Contudo, nos textos corânicos:

 

[...] a função dominante dos ventos – na sua grande maioria citados no plural [riyah] – é positiva: mover as embarcações e favorecer o bom resultado das empresas humanas; suscitar e transportar as nuvens de chuva às terras sem água, dando de beber às pessoas e aos animais (Sura 15,22); além de fazer eclodir a variedade da flora

 

(TOELLE, 2007, p. 34).

Como diz o Alcorão: “Allah envia ventos benfazejos como prenúncio de sua misericórdia: esses carregam densas nuvens, que Nós conduzimos até uma terra árida e delas fazemos descer a água, pela qual produzimos toda sorte de frutos” (Sura 7,57).

 

Os ventos têm ainda “a tarefa de espalhar os detritos da vegetação morta no seio da terra, onde ficam até que as chuvas os revitalizem” (TOELLE, 2007, p. 34). Isso acontece efetivamente quando os ventos tempestuosos varrem o chão, solevam a areia e deixam à mostra o que estava enterrado, como raízes, troncos e ossos ressequidos. Assim, Deus revela a fragilidade das criaturas e suscita vida nova, com a força do seu Sopro-Espírito. É o que ensina o verso 57, numa advertência final: “Meditai! Pois do mesmo modo hei de ressuscitar os mortos” (Sura 7,57: compare-se com Ez 37,1-6).

 

Outro aspecto a considerar é a teologia islâmica da Revelação: Allah é uma divindade pessoal (al-Ilah), que profere a Palavra (am’r) e propõe uma aliança com toda a humanidade (mitaq). Recordado e invocado por seus 99 “mais belos Nomes” (asma al-husna: Sura 59,22-24), ele é ontologicamente O Uno (Ahadu: Sura 112). Os atributos revelam sua diversidade de ação, sem romper sua unidade de Ser, tal qual o Elohê dos hebreus. Como mencionado acima, a radical semita I-L (pronunciada El pelos cananeus) aponta ao eterno Ilu, que significava essencialmente “deus” para os mesopotâmicos em geral. Esse Nome é assumido pela tradição judaica e muçulmana a partir da fé de Abraão, como um marco histórico-religioso: Abraão representa o crente monoteísta (hanif em árabe), que abandona as centenas de divindades nomeadas e figuradas no culto dos assírios e caldeus para devotar-se ao Único e Eterno El. Há aqui a concepção de um Deus pessoal, que é altíssimo em sua santidade (qedushá em hebraico, qadassa em árabe), porém próximo em sua misericórdia (raham em hebraico, rahma em árabe). Esse é o Deus de Abraão, onipotente, compassivo e fiel (Gn 14,19-20; 17,1-2), invocado como Clemente e Misericordioso no Islã: al-Rahim wa’l-Rahman (Sura 1).

 

A unidade ontológica de Allah não permite concessões; é uma unidade radical, sem espaço para entidades divinas associadas a Ele. A palavra que dele procede (am’r) não constitui nenhum Verbo por geração intra-divina, mas expressa tão somente Sua vontade e soberania. Os profetas cumprem a palavra divina como “declaração verbal” (kalima) do próprio Allah e, nesse sentido, Jesus é elogiado no Alcorão como Kalima (Pronunciamento de Allah) e Massih (Eleito ou Enviado de Allah), um profeta escolhido e atestado por Allah através do milagre de ter nascido de Maria, sem pai humano (Sura 19,20). No Alcorão, Allah diz que Jesus é uma criatura nascida “mediante nosso espírito” (min ruhina: Sura 66,12): aqui, “o ruuh de Deus que opera a concepção do menino é um sopro intemporal e não o Espírito Santo, terceira pessoa da Trindade do cristianismo” (URVOY, 2007, p. 439).

 

Na verdade, suplantar qualquer vestígio da Trindade com a afirmação da Unidade (tawhid) de Allah é um procedimento simplificado por Muhammad no Alcorão, pois ele nunca refletiu sobre a doutrina cristã de Deus com as categorias gregas usadas nos Concílios de Éfeso, de Nicéia e de Constantinopla (KÜNG, 2010). As polêmicas monofisitas traziam confusão, mostravam um cristianismo dividido e sugeriam que era melhor aproximar-se do monoteísmo dos judeus de Medina. Esse é o ambiente teológico de Muhammad que, além do mais, parece confundir a Trindade Divina com uma família de três deuses, os quais seriam “Deus, o Pai; Maria, a mãe de Deus; e Jesus, o filho de Deus” (KÜNG, 2010, p. 575).

 

Já a crença de que existem entidades angélicas a serviço de Deus, denominadas individualmente ruuh (espírito), mostra que o processo de “angelização” deu-se também na formação do monoteísmo islâmico: ruuh pode indicar a respiração natural, dádiva do Criador aos humanos (Suras 15,29; 32,9; 38,72); pode ser o cumprimento de uma ordem divina (Sura 42,52); ou uma comunicação pessoal de Allah, portanto o “sopro santo” (ruuh al-quddus) que acompanha a sua palavra (Suras 2,87; 2,253; 5,110; 16,102); e pode também significar os malaika (anjos), criados a partir do ar (Sura 26,192-194; 70,4; 78,38; 97,3-4). Acima dos humanos e dos anjos está a divindade celeste, Rabb al-samawat – Mestre ou Governante dos Céus (Sura 37,5). Esse título foi incorporado por Muhammad, no Alcorão, como um dos Nomes de Allah, mas remonta a uma “primitiva divindade da região de Meca” adorada pelas tribos locais como “criadora da humanidade, do céu e da terra” (CHABBI, 2016, p. 170).

 

Quanto à identificação de ruuh al-quddus com o Anjo Gabriel, não é uma afirmação explícita do Alcorão, mas da tradição posterior. Em 800 d.C., a Suna diz: “na noite do Decreto [da Revelação divina a Muhammad] desceram os anjos e o Espírito, ou seja, Gabriel” (AL-BUHARI, 2009, p. 258). Essa interpretação é aceita pela exegese tradicional e pela mística, sobretudo entre os muçulmanos persas: “A Gabriel denominamos Espírito de Santidade” – como dito no “Tratado dos Nomes Divinos III”, Cap. 3, tópico 1 (AL-RAZI, 2009, p. 333); também no “Masnavi III”, tópico 17 (RUMI, 1984, p. 186). Apesar da tradição, essa opinião teológica é criticada pela exegese corânica recente: o Alcorão reconhece um “espírito de santidade” da parte de Deus, mas identificá-lo pessoalmente com Gabriel é uma “leitura que extrapola o corpus corânico” (CHABBI, 2016, p. 69). Ruuh al-Quddus expressa a dádiva objetiva da revelação de Deus a Muhammad: é “o Espírito enviado por Nossa ordem (am’r)” (Sura 42,52), ou seja, “o Espírito de Revelação” que fala “como Voz interior vinda de Deus” – não fruto da imaginação do Profeta – mas “em total alteridade, distinta de sua consciência pessoal no ato da Revelação” (RAHMAN, 2009, p. 98). Não se trata de um anjo, mas do Dom profético concedido por Deus.

 

Apreciação dos dados colhidos

 

Do ponto de vista hilético e fenomênico, os dados indicam – como observa Eliade – , que “o altíssimo, o fulgurante e o céu são as noções que têm sido usadas, mais ou menos manifestamente em termos arcaicos, por meio das quais os povos, as civilizações, exprimiam a ideia de divindade” (ELIADE, 1968, p. 48, grifos do autor). Ainda,

 

A transcendência divina se revela diretamente no inacessível, infinito, eterno, e na força criadora do Céu (a chuva fecundante). O modo de ser celeste é uma hierofania inesgotável. Por conseguinte, tudo o que acontece nos espaços siderais e nos estratos superiores da atmosfera – a órbita ritmada dos astros, a movimentação das nuvens, as tempestades, o trovão, os meteoros, o arco-íris – constituem momentos desta mesma hierofania

 

(ELIADE, 1968, p. 48).

No passado longínquo das primeiras civilizações, como entre sumérios e semitas, essas manifestações hierofânicas começaram a ser nomeadas e personificadas como entidades sagradas de caráter urânico: o Céu superior e o Sol radiante ganham atributos “de força, de criação, de governo e de soberania” (ELIADE, 1968, p. 48). A divindade altíssima é invocada como Ilshamê (assírio), Elohêshamayim (hebraico), Ilah al-sama (árabe tribal) e Rabb al-samawat (árabe corânico) com o sentido de Governante dos Céus: todos os demais fenômenos do ar se tornam ruiyah (árabe) ou ruhot (hebraico), ou seja, ventos e espíritos intermediários, sob seu divino comando. Por tais ventos, o Altíssimo insufla a vida nos corpos, assegura a fertilidade da Terra e envia sua palavra. Então, ruah-ruha-ruuh se torna sopro vital, vento fecundante e mensageiro divino, de forma que “as divindades atmosféricas constituem uma especialização das divindades celestes” – na variedade dos ventos, furacões, chuvas e brisas – “sem, contudo, perder seu caráter urânico, sempre classificadas ao lado das divindades celestes propriamente ditas” (ELIADE, 1968, p. 80).

 

Considerações Finais

 

A compreensão semita do Espírito inclui (na sua origem) e remete continuamente (na sua evolução) ao sopro sutil e ao vento impetuoso como realidades objetivas, de movimento e de efeito reconhecidos no clima, na terra e nos corpos vivos. Não se reduz jamais a um conceito definido por abstração, ou emanação de uma entidade metafísica de fora do cosmos, como entende a Gnose. Mesmo quando atribuem caráter divino ao ar e ao vento, os semitas o fazem a partir das potentes manifestações naturais, cuja força impacta e aponta para o Céu Infinito, com seu extrato superior (o firmamento: shamê, shamayim) e com seu extrato intermédio (a atmosfera: ruhot, riyah). Esse espaço intermédio é habitado pelos ventos brando ou tempestuoso, gélido ou tórrido, fecundante ou devastador, do Oriente iraniano ou do Ocidente mediterrâneo, como se lê na Bíblia e no Alcorão, com várias remissões assírio-babilônicas, como visto na “Epopeia de Gilgamesh” .

 

Portanto, à sua origem, os termos ruah (hebraico-aramaico), ruha (siríaco) e ruuh (árabe) têm o habitat próprio dos fenômenos atmosféricos médio-orientais que significavam vida ou morte para as populações locais. Enquanto os povos de floresta – como na Índia, África Central e Américas – exaltam as energias da vegetação, dos rebanhos e dos rios caudalosos, que os nutrem sob o raiar do Sol, os povos semitas exaltam a força da luz e do trovão, dos relâmpagos e dos vendavais, os quais se manifestam entre o deserto e o céu. Daí a presença desses fenômenos nas teofanias bíblicas (Êx 19,16-19; 1Rs 19,11-14; Sl 97,1-5).

 

Na perspectiva semita, a brisa ou a tempestade, e o frescor ou o vento tórrido, incidem diretamente nas possibilidades de chover ou de estiar, de inundar ou de secar, de florescer ou de fenecer, de respirar ou de sufocar. Enquanto potências aéreas acompanhadas de chuva e de relâmpago, os ventos determinam vida ou morte e apontam misteriosamente à Divindade Celeste que os governa (Elohê há-shamáyim, Ilah al-sama, Rabb al-samawat).

 

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Uma pessoa maravilhosa chamada Espírito Santo

José Carlos Ramos, D.Min.

Professor de Daniel e Apocalipse no Salt, Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP

 

Resumo: O Espírito Santo é revelado nas Escrituras como uma Pessoa divina semelhante ao Pai e ao Filho e, ao mesmo tempo, distinta de ambos. Mas grupos dissidentes do adventismo insistem que o Espírito Santo não passa de mera energia despersonalizada proveniente de Deus. Em resposta a essa teoria, o presente artigo provê um estudo bíblico-exegético sobre a natureza da terceira Pessoa da Divindade. O autor também procura restaurar o sentido original de algumas citações dos escritos de Ellen G. White distorcidas pelos antitrinitarianos.

 

Abstract: The Holy Spirit is revealed in the Scriptures as a divine Person like the Father and the Son but, at the same time, distinct to both. However, Adventist offshut groups insist that the Holy Spirit is only a mere despersonalized energy from God. In response to this theory, the present article provides a biblical-exegetical study on the third Person of the Godhead. The author also tries to restaure the original meaning of some quotations from the writings of Ellen G. White that have being distorted by anti-Trinitarians.

 

Introdução

Dos membros da Trindade, o terceiro é Aquele de Quem há menos informações objetivas, precisas, que definam o seu próprio Ser. O Filho Se tornou um de nós. Sua manifestação foi visível, material, em nosso nível. O Pai foi por Ele revelado. Mas o Espírito permanece um tanto imperceptível, à parte, despretensioso, operando sem autoprojeção, não Se impondo, não falando “de Si mesmo” (Jo 16:13). E no próprio ato do desprendimento, Ele cumpre a divina obra que O faz conhecido. É parte de Sua glória exaltar e glorificar o Filho e, através do Filho, o Pai, fazendo com que a revelação de ambos se efetive na consciência humana. Que exemplo de abnegação!

 

No quarto Evangelho, o Espírito executa pelo menos sete atividades, todas em exaltação a Jesus:

 

(1) Ensinar, e

 

(2) Fazer lembrar tudo o que Jesus disse – João 14:26

 

(3) Dar testemunho de Jesus – João 15:26

 

(4) Convencer do pecado, porque o mundo não crê em Jesus; da justiça, porque Ele foi para o Pai; e do juízo, porque Satanás foi julgado e derrotado – João 16:8

 

(5) Guiar a toda a verdade, e Jesus é a verdade (14:6) – João 16:13

 

(6) Declarar ou anunciar o que Jesus, da parte do Pai, Lhe entrega – João 16:13, 14, 15

 

(7) Glorificar a Jesus – João 16:14

 

O Apocalipse refere-se a Ele como os sete Espíritos de Deus (Ap 1:4, 5; 4:5). Sete é o número da plenitude. O Espírito alcança a plenitude nesta atividade cristocêntrica sétupla.

 

Isso é tão fundamental para o plano da redenção, que, sem o operar do Espírito, seria como se Jesus nunca tivesse encarnado e Deus nunca tivesse Se manifestado. Ele habilita o homem a entender a salvação e responder positivamente a ela. Sem Ele, a Igreja não poderia cumprir Sua missão e estaríamos fadados a permanecer neste mundo indefinidamente.

 

Objeto de especulação

Talvez o fato de existir pouca informação sobre o Espírito Santo faça com que uma conceituação sobre Ele se torne mais susceptível de especulação. Nos dias de Ellen G. White havia aqueles que afirmavam que o Espírito era uma “luz derramada” e “uma chuva caída”. Ela considerou essas ideias como de cunho espiritualista, ou espiritista, e as condenou por rebaixarem a Deus.1

 

Igualmente afrontoso é tomá-Lo por criatura. Há os que acreditam que Ele e Gabriel se equivalem. A inspiração nega isso fazendo clara distinção entre ambos no registro das palavras deste anjo a Maria: “Descerá sobre ti o Espírito Santo…” (Lc 1:35). Gabriel não poderia estar falando de si mesmo. E Ellen G. White assegura que o seguidor de Jesus pode sentir-se confiante e seguro no conflito “contra as hostes espirituais da maldade”, porque “mais que anjos estão nas fileiras. O Espírito Santo, o representante do Capitão do exército do Senhor, desce para dirigir a batalha.”2 Rebaixar o Espírito Santo à categoria de anjo é, na realidade, minimizar a Deus, algo muito a gosto de Satanás.

 

Outra forma especulativa no tratamento de tão sublime tema é despojar o Espírito de Sua personalidade. Entre os que negam a Trindade, é comum a afirmação de que Ele é apenas uma influência ou energia – o poder de Deus. Esta idéia é tão antiga quanto o século terceiro, quando Paulo de Samosata, monarquista/adocionista e bispo de Antioquia entre 260 e 272, a difundiu. No tempo da Reforma, Lélio Socino e seu sobrinho Fausto, ambos antitrinitaristas, propagaram a teoria.

 

Não há como negar que este conceito rebaixa o valor do Espírito Santo para a Igreja. L. E. Froom a isto se refere quando afirma que negar a personalidade do Espírito não é

 

mera questão técnica, acadêmica ou simplesmente teórica. É de suprema importância e do mais elevado valor prático. Se Ele é uma Pessoa divina e O consideramos como influência impessoal, estamos roubando desta Pessoa divina a deferência, honra e amor que Lhe são devidos. E mais: Se o Espírito é mera influência ou poder, podemos então procurar apropriar-nos dEle e usá-Lo.3

 

Continua Froom:

 

Não, o Espírito Santo não é uma tênue, nebulosa influência imanente do Pai. Não é algo impessoal, vagamente reconhecido, apenas um invisível princípio de vida… Jesus foi a personalidade mais influente e marcante neste velho mundo, e o Espírito Santo foi designado para preencher Sua vaga. Nada a não ser uma Pessoa poderia substituir Aquela maravilhosa Pessoa. Nenhuma simples influência seria suficiente.”4

 

Para substituir uma Pessoa maravilhosa só outra Pessoa maravilhosa.

 

Espírito de Deus, Espírito de Cristo, e o gênero neutro de Pneuma

Dissidentes se valem do fato de a Bíblia identificar o Espírito Santo como Espírito de Deus ou de Cristo (1Jo 4:2; 1Co 3:16; Gl 4:6; 1Pe 1:11, entre outros textos), para afirmar que o Espírito Santo é algo inerente a Deus, tal como a Sua energia, virtude, fôlego, glória, etc., e que, portanto, ao ser enviado, “parte de dentro (do interior) do Pai”.5

 

Ricardo Nicotra e Jairo de Carvalho, como exemplos, presumem que o verbo ekporeúomai, empregado em João 15:26 (um dos textos que registram a promessa do envio do Espírito), e vertido como “proceder” na Almeida Revista e Atualizada, significa originalmente sair, ou partir, ou vir de dentro de, do interior de.6 Não se sabe de onde eles copiaram esta idéia, mas o que temos aqui é uma dedução apressada e temerária. Quando tão somente ekporeúomai é registrado, não é feita referência ao ponto de partida do movimento que ele expressa; nesse aspecto, o verbo significa simplesmente sair, partir, encaminhar-se, conduzir-se, proceder, etc. (no sentido de ida e de vinda), tal como aparece em algumas passagens, como Lucas 3:7, que fala de multidões que “saíam para serem batizadas” (saíam de onde?), ou Atos 9:28, informando que, estando Paulo em Jerusalám, entrava e saía com toda a liberdade (entrava e saía sem sair de Jerusalém, isto é, ele se movimentava livremente na cidade).

 

Às vezes, o sentido de procedência de ekporeúomai está implícito, mas normalmente ele é dependente da preposição que rege o ponto de origem explícito na frase. Por esta razão, é totalmente supérfluo se valer de outros textos em que este verbo é empregado aparentemente com o significado aludido pelos dissidentes, se, nesses textos, a preposição é distintamente outra. Três exemplos alegados por Nicotra, com as referidas preposições aqui italizadas, são como seguem:

 

(1) “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4:4);

 

(2) “O que sai do homem, isso é o que o contamina” (Mc 7:20); e

 

(3) “Então vi sair da boca do dragão, da boca da besta…” (Ap 16:13).7

 

O original de (3) não consigna verbo algum, e é levado em conta apenas na pretensão do dissidente, razão porque desconsideramos esse exemplo. Observamos, então, que em (1), a preposição é diá cujo sentido principal é através de; qualquer palavra, normalmente, é emitida através da boca, daí procedendo. Alegar que antes que uma palavra seja dita ela se formulou na mente, o que pode até ser um fato,8 e que, portanto, significa “sair de dentro”, é impor ao verbo um sentido que ele, por si só, não reúne. É a preposição que se liga ao ponto de onde parte o movimento que poderá dar esse significado.9

 

Por exemplo, em (2), a preposição é ek, “de, desde”, e pode implicar o sentido “de dentro de”, como o emprego de ésôten, “de dentro”, em Marcos 7:21 e 23 demonstra. Dizemos que pode, porque nem sempre é isto o que ocorre, ainda que seja empregada a preposição ek. Exemplos: “Do trono [ek tou thrónou] saem relâmpagos, vozes trovões…” (Ap 4:5), e “rio da água da vida… que sai do trono [ek tou thrónou] de Deus” (22:1) não significam necessariamente que os relâmpagos, vozes, trovões e o rio saem de dentro do trono.

 

Ademais, se o sentido original de ekporeúomai fosse mesmo “vir de dentro”, como querem os dissidentes, seria uma desnecessária redundância Marcos 7:21 e 23 registrar ésôthen ekporeúetai, “procedem de dentro”; seria o mesmo que dizer em português: sair para fora, entrar para dentro, subir para cima e descer para baixo.

 

Assim, a preposição é importante para se estabelecer o ponto de origem do movimento expressado por ekporeúomai. Em João 15:26, a preposição é pará, também “de, desde”, mas com a acepção de posição, colocação, etc. (cf. à nossa palavra paralelo). Segundo Robertson, uma das maiores autoridades no estudo do koiné, o grego popular do Novo Testamento, pará significa “ao lado de”, “junto com”.10 Em outras palavras, o Espírito Santo procede de onde o Pai está, não do íntimo dEle.

 

Assim, o verbo ekporeúomai, para ter o significado requerido por Nicotra e Carvalho na aplicação que fazem ao Espírito Santo, teria que, no mínimo, estar ligado à preposição ek, ou, então, apó, como na construção “saía de Jericó” em Marcos 10:46. E este não é o caso em João 15:26.

 

Portanto, a fórmula “Espírito de Deus”, ou “de Cristo”, indica procedência e não inerência, e implica que a obra do Espírito Santo é executada em subordinação ao Pai e ao Filho. Parte desta obra é a representação vicária de Ambos neste mundo. De fato, Jesus prometeu aos discípulos que, juntamente com o Pai, retornaria para eles na pessoa do Espírito Santo (Jo 14:16-18, 23).

 

Outro expediente utilizado pelos que rejeitam a personalidade do Espírito Santo é o gênero neutro do grego pneuma, espírito. “A Bíblia não empregaria uma palavra neutra para identificar uma personalidade,” dizem. Contra esta hipótese se verifica que o termo é usado em referência a entidades reconhecidamente pessoais. “São todos eles espíritos ministradores…”, afirma o escritor sagrado acerca dos anjos (Hb 1:14).

 

Especulação na ordem do dia

Condenando as especulações, o Espírito de Profecia adverte: “A natureza do Espírito Santo é um mistério. Os homens não a podem explicar, porque o Senhor não revelou. Com fantasiosos pontos de vista, pode-se reunir passagens das Escrituras e dar-lhes um significado humano; mas a aceitação desses pontos de vista não fortalecerá a Igreja. Com relação a tais mistérios – demasiado profundos para o entendimento humano – o silêncio é ouro.”11

 

Quanto a esse assunto (natureza do Espírito Santo), está na ordem do dia o que Ellen White classifica de “fantasiosos pontos de vista”. Dissidentes oportunistas e aventureiros, com “comichões nos ouvidos” (2Tm 4:3), imaginam ser crime de apostasia a aceitação da divindade do Espírito Santo, e, inescrupulosamente, intentam arrancar das páginas sagradas alguma noção que lhes satisfaça as divagações; com isto, acabam preterindo o criterioso ensino bíblico e do Espírito de Profecia sobre tão sublime tema, por arrazoados fantasistas e inconsequentes que, no mínimo, denigrem o caráter sacratíssimo deste Ser. E isso, sim, é crime. E o que é pior: julgam-se os portadores da verdade, enquanto o povo de Deus, em sua totalidade, está errado.

 

Não obstante, o que acontecia no tempo de Ellen G. White, e que mereceu sua veemente censura, está literalmente ocorrendo hoje, pois tal como a serva do Senhor denunciou, os atuais dissidentes igualmente reúnem um punhado de “passagens bíblicas”, arbitrariamente catadas aqui e ali e, sem o mínimo respeito às mais elementares regras hermenêuticas, colocam-nas numa cadeia temática ilegítima que as obriga a afirmar aquilo que eles pretendem. O resultado é uma interpretação barata, superficial, abusiva, tendenciosa, sem o necessário respaldo de pesquisa séria e responsável, o que, inevitavelmente, conduz a conclusões confusas e contraditórias; ora o Espírito é definido em termos de pessoalidade, ora em termos de abstração.

 

Para se confirmar esse fato, basta uma olhadela em publicações produzidas por separatistas. Algumas colocações aí feitas quanto ao Espírito Santo são de estarrecer mesmo o leitor casual. “Entre outras, cada qual mais descomunalmente absurdas,”12 são feitas as seguintes declarações:

 

O Espírito Santo…

 

(1) …é o sopro, o fôlego de Deus,13 no sentido de que da mesma forma que o homem tem fôlego (isto é, espírito) Deus também tem fôlego (isto é, espírito).14 Em outras palavras, a teoria transforma uma simples analogia empregada por Paulo (ver 1Co 2:11) numa realidade substancial que toma o homem por modelo. Mas se isto é o que Espírito de Deus significa, é inevitável a ideia de que o antropomorfismo divino, longe de ser um engano,15 é um conceito correto: o homem é a padronização de Deus – como é com ele, assim é com Deus!!! Mas vejamos: não importando se o homem tem fôlego porque respira ou respira porque tem fôlego, uma questão aqui pertinente é: Deus respira? (bem, esse seria o caso se Ele tivesse fôlego como o homem). Tem Ele um sistema respiratório que inclui, por exemplo, pulmões? Há no céu uma camada atmosférica para suprir a respiração dos que ali habitam?

 

(2) …é o próprio Senhor,16 no sentido de que o Espírito Santo equivale ou a Cristo, ou ao Pai, ou a ambos. Este raciocínio descamba para uma variação de outra heresia; seria um sabelianismo17 dicotômico.

 

(3) …é isto.18 O dissidente Jairo Carvalho afirma que é “um total desprezo chamar mesmo um ser humano de ‘isto’”, quanto mais Deus, o que para ele é “uma prova de que o Espírito Santo não pode ser um Deus”,19 já que, como ele supõe, Atos 2:33 O identifica como “isto”. Mas nesse caso, não importando o que ou quem Ele seja, o Espírito Santo é, segundo esse raciocínio, inferior ao próprio homem, pois “isto”, que não é cabível a este, é próprio para o Espírito Santo.

 

Pena que o Sr. Carvalho não tenha percebido que o demonstrativo neutro não se aplica à pessoa do Espírito Santo propriamente, mas ao efeito poderoso da Sua operação, o milagre que todos testemunharam! O texto diz: “Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis.” Por um lado, “Espírito Santo”, o assunto da promessa, e “isto”, o que foi derramado, não se correspondem necessariamente; por outro lado, segundo o discurso de Pedro à multidão atônita, o “isto” foi referido como aquilo que “vedes e ouvis”. O que eles viam e ouviam? Era o Espírito Santo ou era a Sua operação? Bem, ali estava um grupo de iletrados galileus falando, nos vários idiomas representados, as grandezas de Deus (vs. 6-8, 11 e 12), e isto eles estavam muito bem vendo e ouvindo; em outras palavras, eles testemunhavam o poder do Espírito em exercício, e era exatamente o poder do Espírito, e não Sua pessoa, que fora derramado.

 

Com efeito, Atos não afirma que Deus derramou o Seu Espírito, mas do Seu Espírito (ver 2:17). Em 10:45, é o “dom do Espírito” que “foi derramado.” À luz de 1 Coríntios 12, o Espírito Santo é tanto dom como doador. Derramar significa conceder generosamente, e refere-se fundamentalmente aos recursos do Espírito. Dias antes, Jesus havia prometido isso aos discípulos; receberiam poder ao descer sobre eles o Espírito (At 1:8). É a Pessoa quem desce; é o poder que é “derramado”. O que aconteceu com a igreja primitiva foi a repetição do que já acontecera com Jesus (10:38). Neste texto, o Espírito é distinto de poder, e vice-versa. De fato, ao ser batizado, o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma de pomba (Mt 3:16), e o resultado foi um poderoso ministério. O senso de derramamento transparece no relato de Marcos, que afirma que “os céus rasgaram-se” (1:10), enquanto o de pessoalidade é notado em Lucas, ao afirmar que o Espírito veio em “forma corpórea” (3:22).

 

Houve, portanto, uma compreensão equivocada de Atos 2:33 por parte do Sr. Carvalho. O demonstrativo isto se refere antes à consequência da manifestação do Espírito, que à Sua pessoa.

 

(4) …é a mente de Deus.20 Mas a Bíblia diz que o próprio Espírito tem mente (Rm 8:27); seria correto falar em mente da mente?

 

(5) …é o dedo de Deus.21 Nesse caso, o Espírito Santo seria uma pequena parte d[o corpo d]e Deus. E aí pergunta-se: “Deus tem corpo?”

 

(6) …é qualquer anjo fiel22 com especial menção primeiramente a Lúcifer,23 então a Gabriel, quando aquele que se tornou Satanás foi expulso do céu.24 Na verdade, o autor confundiu a verdade afirmando que Gabriel é um Espírito Santo, mas não o Espírito Santo, o qual é a glória de Deus.25 Mas quantos Espíritos Santos existem? A Bíblia diz que é apenas um (Ef 4:4). Para Carvalho, entretanto, qualquer anjo fiel pode ser um Espírito Santo; Gabriel é a terceira pessoa da Divindade (que ele insiste em dizer que é “a partir da Divindade”),26 e deve ser distinguida do Espírito Santo. Mas a inspiração afirma que ambos, a terceira pessoa e o Espírito Santo, são o mesmo ser: “O príncipe da potestade do mal só pode ser mantido em sujeição pelo poder de Deus na terceira pessoa da Divindade,27 o Espírito Santo.”28

 

(7) …é a glória de Deus.29 Aqui o dissidente se aproximou consideravelmente de uma das abstrações espíritas condenadas por Ellen G. White; havia em seu tempo aqueles que diziam que o Espírito Santo era uma “luz derramada”.30 Mas o mais deplorável é consignado ao final das colocações de Carvalho: como o Espírito Santo é meramente a glória divina, então mesmo o “pior inimigo de Deus”, Satanás, tem o Espírito Santo, pois ele “ainda possui um pouco da glória que recebeu de Deus.”31 Simplesmente estarrecedor!

 

É espantoso como determinados elementos, como fruto de seus devaneios, chegam ao extremo de nescidades como esta; isto é sacrilégio de elevada ordem, diante da qual as palavras de Jesus soam oportunas: “…a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. … Se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir… visto que é réu de pecado eterno”(Mt 12:31, 32; Mc 3:29).  Dizer que o Espírito Santo é a glória de Deus, que o próprio diabo ainda retém e emprega em sua obra de engano, como o Sr. Carvalho afirma, é, na realidade, dizer que o Espírito Santo é um instrumento nas mãos do diabo para a operação do mal e serviço do pecado!!! Na esperança de, quem sabe, despertar um pouco a consciência do dissidente, pergunto: “O Espírito Santo continua ainda glorificando a Cristo, como João 16:14 afirma que é uma de Suas tarefas, quando Ele é usado pelo diabo em sua obra satânica?”

 

Um Ser pessoal e divino

Impugnadas as lucubrações meramente humanas quanto ao Espírito Santo, observemos agora o que a revelação tem a dizer sobre tão excelso tema.

 

Quando Ellen G. White afirma que “a natureza do Espírito Santo é um mistério”,32 não significa que nada podemos aprender sobre Ele. Aquilo que a revelação nos transmite não é especulação; é a realidade que temos o dever de, pela fé, aceitar.

 

Dois pontos sobre o Espírito Santo estão devidamente assentados nas páginas sagradas: Ele é uma pessoa, e é Deus. “O Espírito Santo tem personalidade, do contrário não poderia testificar ao nosso espírito e com nosso espírito que somos filhos de Deus. Deve ser uma pessoa divina, do contrário não poderia perscrutar os segredos que jazem ocultos na mente de Deus.”33

 

A Personalidade do Espírito Santo

A personalidade do Espírito Santo é claramente inferida do testemunho bíblico. As seguintes referências não deixam dúvida a respeito:

 

(1) Ele é citado entre pessoas: “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo…” (At 15:28). Além disso, Ele aparece na fórmula batismal junto ao Pai e ao Filho (Mt 28:19); seria redundância Jesus mencionar o Espírito Santo, tendo já mencionado o Pai, fosse Ele a mera energia dEste, ou Seu sopro, ou Sua glória; também não faria sentido Jesus ordenar o batismo em nome de uma Pessoa, o Pai, de outra Pessoa, o Filho, e agora em nome de uma energia, ou sopro, ou glória, o Espírito.34

 

(2) Pode e deve ser mantida comunhão com Ele (Fp 2:1; 2Co 13:14). Não se mantém comunhão com uma energia, nem com um sopro, ou glória.

 

(3) Não é mero poder, mas tem poder (Rm 15:19). Seria outra redundância a Bíblia falar do poder do Espírito Santo, fosse Ele mero poder; seria “o poder do poder”, o que é um contra-senso, da mesma forma que “mente da mente” visto acima.

 

(4) Pode-se mentir a Ele (At 5:3). Mente-se a uma pessoa e não a uma energia, a uma luz, ou à glória.

 

(5) Pode-se-Lhe resistir (At 7:51). É possível cumprir o papel de um resistor (componente que impede, ou atenua, o fluxo da corrente elétrica) para com o Espírito Santo? Sim, e isto o pecador faz quando, diante do apelo divino, prefere permanecer no erro. Mas tal não significa que o Espírito Santo não seja uma pessoa, pois não é apenas a uma energia que se resiste. Pessoas também podem ser resistidas, incluindo Deus (11:17). O texto fala de se resistir às claras evidências da verdade, apresentadas pelo Espírito Santo.

 

(6) Pode-se guerrear contra Ele (Gl 5:17). O que é uma intensificação de resistência ao Espírito Santo.

 

(7) Pode-se ultrajá-Lo (Hb 10:29). Como é possível ultrajar uma energia, o sopro, a glória? Ultrajar se liga naturalmente ao sentido de afrontar, insultar, difamar, injuriar, ofender, deprimir, vilipendiar, desacatar, vituperar, envergonhar. Como se pode fazer tudo isso a uma abstração?

 

(8) Pode-se blasfemar contra Ele como se blasfema contra o Filho (Mt 12:31). É possível blasfemar contra o sopro, contra uma energia? Blasfema-se contra uma pessoa, como é caso de Jesus aqui.

 

(9) Ele executa específicas funções próprias, não de uma abstração, mas de uma pessoa:

 

• sonda, perscruta a Deus – 1Co 2:10

 

• concede dons para a edificação da Igreja – 1Co 12:8, 12

 

• manifesta-Se nesses dons –1Co 12:7 (em outras palavras, ao conceder dons à Igreja o Espírito Se dá a ela)

 

• contende com pecadores – Gn 6:3

 

• ordena sobre itens relevantes para a obra e o povo de Deus – At 8:39; 10:19, 20

 

• envia pessoas no processo do cumprimento de alguma missão – At 10:19, 20

 

• ensina o que uma vez ouviu – Jo 16:13 (ouvir não é próprio de uma energia), ver também 14:26; 1Co 2:13

 

• revela, especialmente pelo exercício profético – At 1:16; 2Pe 1:21; 1Tm 4:1

 

• testifica através da intuição na consciência, bem como com o testemunho da Igreja – Rm 8:16; At 5:32; Ap 22:17

 

• move o agente humano na captação da revelação divina – 1Pd 1:21

 

• incute novas realidades ainda não percebidas – Hb 9:8

 

• indica a correta compreensão do que é revelado – 1Pd 1:11

 

• guia os filhos de Deus – Rm 8:14, inclusive na busca de “toda a verdade” – Jo 16:13

 

• assiste nas fraquezas – Rm 8:26

 

• intercede corrigindo nossas orações – Rm 8:26

 

• produz frutos na vida dos que se submetem a Ele – Gl 5:22, 23

 

• lava e renova, o que resulta em salvação – Tt 3:5. Em João 3:5, 6 este ato é referido por Jesus em termos do novo nascimento

 

• escreve a lei de Deus nas tábuas do coração – 2Co 3:3

 

• santifica – 2Ts 2:13; 1Pd 1:2

 

• sela os que são de Deus – Ef 1:13

 

(10) Ele possui mente (Rm 8:27). O termo grego, traduzido “mente” neste texto em algumas versões, é phrónema (alguma coisa que se tem em mente, que passa pela mente, o pensamento), em contraste com nous (a mente como sede da consciência, da reflexão, da percepção, do entendimento, do julgamento crítico e da determinação). O importante é que phrónema pressupõe a existência de nous. Apenas um ser pessoal é dotado de nous, e pode exercer phrónema. O Espírito Santo é um ser pensante, o que implica inteligência e consciência. Ele não pode ser menos que uma pessoa.

 

Mas o que é uma entidade pessoal? É aquela que afeta outras entidades pessoais e é afetado por elas. Afeta-nos Deus? Naturalmente. Podemos afetá-Lo? Bem, Sua tristeza e alegria, misericórdia e justiça, interesse por nós e condescendência, amor e ira indicam que sim. Deus é afetado por Suas criaturas porque antes de mera consciência das coisas, Ele tem autoconsciência; esta é o traço fundamental da personalidade porque é a capacidade que uma pessoa tem de referir a si mesma a consciência de qualquer coisa ou experiência pela qual passa. Isso não acontece com um animal, porque ele não pode distinguir entre o ego pessoal e a momentânea sensação que experimenta. Por não ser um ente pessoal, ele não consegue formar uma noção objetiva de seus sentimentos e das ações que estes geram, e aplicá-los a si mesmo. O ser humano, ao contrário, torna-se, por exemplo, consciente de erros cometidos, reconhece-os como tais, e chega à autoconsciência da culpa. Isso porque é um ser pessoal, dotado de mente e razão.

 

Aplicando isso a Deus, dizemos que Sua autoconsciência é prova irretorquível de Sua personalidade. Isaías 55:8 fala de Seus pensamentos. Ele pensa porque tem mente, e ter mente O faz pessoal. Então, quando nos é afirmado que também o Espírito Santo tem mente, não podemos senão concordar que Ele é, de fato, um ser pessoal. Se assim é, perguntamos: afeta Ele a cada um de nós? Por suposto que sim.35 Afetamos igualmente a Ele? Claro, pois a Bíblia fala da tristeza (Ef 4:30), do anseio (Tg 4:5), da alegria (1Ts 1:6), da vontade (1Co 12:11), do amor (Rm 15:30), e até do ciúme (Tg 4:5) do Espírito Santo.

 

(11) Além disso, o Novo Testamento emprega fartamente pronomes pessoais gregos em referência ao Espírito Santo. Apenas em João 14-16 isso ocorre 24 vezes, e Ele próprio faz referência a Si com o pronome pessoal: “Disse o Espírito [a Pedro]: Estão aí dois homens que te procuram; levanta-te, pois, desce e vai com eles nada duvidando; porque Eu os enviei” (At 10:19, 20).

 

(12) Finalmente, a palavra inconteste de Jesus não deixa qualquer margem para dúvida no que respeita à personalidade do Espírito Santo. “Eu rogarei ao Pai,” prometeu Ele à Igreja, “e Ele vos dará outro Consolador, o Espírito Santo” (Jo 14:16, 26). Chamando-O “Consolador”, Jesus evocou Sua personalidade. O original parákletos (etimologicamente chamado para estar ao lado de), é masculino e aplica-se à pessoa que apóia, conforta, orienta, defende, etc., o que uma abstração não faz.

 

A Divindade do Espírito Santo

Um estudo mais atento da Palavra de Deus, e, acima de tudo, desprovido de idéias pré-concebidas, atesta naturalmente a divindade do Espírito Santo. Pode Ele ser menos que Deus, se possui os atributos exclusivamente divinos de Eternidade (Hb 9:14), Onisciência (1Co 2:10 e 11) e Onipresença (Sl 139:7)? Quem menos que Deus pode criar e comunicar vida (Jó 33:4), convencer do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8), regenerar (Tt 3:5), santificar (2Ts 2:13; 1Pe 1:2), escrever Sua lei nas tábuas do coração (2Co 3:3), ressuscitar (Rm 8:11), e selar o crente para o dia da redenção (Ef 4:30)?

 

Como um ser menor que Deus pode perscrutá-Lo? (1Co 2:10). Como pode a blasfêmia contra o Espírito Santo não ser perdoada, enquanto que aquela contra Jesus pode (Mt 12:31)? Porventura, pecar contra uma coisa, ou uma criatura, é algo mais sério que pecar contra Deus? E como é possível que, segundo a fórmula batismal (28:19), alguém deva ser batizado em nome do Pai (que é Deus), do Filho (que também é Deus), e do Espírito Santo (que seria uma coisa ou uma criatura, como supõem os antitrinitaristas)?

 

Além disso, é-nos afirmado que, no próprio ato de mentirem ao Espírito Santo, Ananias e Safira mentiram “a Deus” (At 5:4). Nesse mesmo sentido de correspondência, Paulo primeiramente declara que somos santuário “de Deus, e que o Espírito de Deus habita em” nós (1Co 3:16; ver também 6:19), para então afirmar que “somos santuário do Deus vivente”, e que é o próprio Deus que habita em nós (2Co 6:16, 17). Percebemos claramente aqui que o Espírito Santo habitando no coração é Deus se fazendo aí presente. Isso não seria possível se Ele mesmo, o Espírito Santo, não fosse Deus.

 

E quanto a Jesus? Reconheceu Ele a divindade do Espírito Santo? Bem, deixemos mais uma vez que Ele fale. Ele prometeu “outro Consolador” (Jo 14:16). “Outro” pressupõe um Consolador prévio, o próprio Jesus, também identificado como Parákletos (1Jo 2:1). Dois termos gregos são vertidos “outro” em nossas Bíblias: állos e héteros, o primeiro, empregado aqui, significando “outro da mesma espécie”, enquanto o segundo “outro de natureza diferente”. O prometido Consolador é Alguém tão divino quanto Jesus. Fosse Ele Gabriel, como querem os dissidentes, teria que ser classificado héteros, e não állos.

 

Mas, qual a qualidade da divindade de Jesus? A Bíblia e o Espírito de Profecia não deixam por menos: Ele é tão divino quanto o Pai, e é um com Este desde toda a eternidade (Jo 1:1; 10:30). “Cristo era Deus em essência e no mais alto sentido. Ele esteve com Deus desde toda a eternidade…”36 Se assim é com o primeiro Consolador, não será diferente com o segundo. O mesmo Espírito de Profecia confirma esse fato: “O Consolador que Cristo prometeu enviar depois de ascender ao Céu, é o Espírito em toda a plenitude da Divindade, tornando manifesto o poder da graça divina a todos quantos recebem e crêem em Cristo como um Salvador pessoal.”37 “Toda a plenitude da divindade” é precisamente o que Colossences 2:9 afirma residir corporalmente em Cristo. De fato, o Espírito Santo é o segundo Consolador, da mesmíssima natureza do primeiro.

 

É-nos afirmado ainda: “Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é uma pessoa, como o próprio Deus, está andando por estes terrenos.”38 Pode ainda haver dúvida que, à luz da inspiração, o Espírito Santo seja uma pessoa, e seja Deus?

 

Um com o Pai e um com o Filho

Um último ponto referente à divindade do Espírito Santo se faz necessário. Pela doutrina da Trindade entendemos que Jesus é um com o Pai porque possui a mesma natureza divina dEle. São distintos como Pessoas, mas iguais em Divindade. Isto resulta em que onde Um está pessoalmente, ali o Outro estará essencialmente. Enquanto o Filho estava pessoalmente na Terra, o Pai estava essencialmente aqui (embora pessoalmente continuasse no Céu), pois Jesus afirmou: “Não estou só, porque o Pai está comigo” (Jo 16:32). Da mesma forma, enquanto O Pai estava pessoalmente no Céu, Jesus estava essencialmente ali, pois disse a Nicodemos muito antes da ascensão: “Ninguém subiu ao Céu, senão Aquele que de lá desceu, o Filho do homem que está no Céu” (3:13).39

 

Devemos crer que é exatamente isso o que ocorre em relação ao Espírito Santo? A resposta é “sim!”, pois, como vimos, Ele é állos, isto é, da mesma natureza divina de Jesus. É por isso que o Salvador, imediatamente após prometer a vinda do “outro Consolador” que estaria não apenas “com”, mas “nos” discípulos (Jo 14:16, 17), pôde também assegurar-lhes que, por este Consolador, Ele, Jesus, voltaria para eles (v. 18) e, com o Pai, faria neles morada (v. 23). Isto porque o Espírito Santo é igual a Jesus e ao Pai em divindade. Assim, onde Ele estiver, Pai e Filho também estarão. É por esta razão que Jesus declarou ser vantajoso aos discípulos que voltasse ao Céu, pois assim lhes enviaria o Espírito (Jo 16:7), e, através dEle, estaria em todo o tempo com toda a Sua comunidade de seguidores.

 

O Espírito Santo é o representante de Cristo, mas despojado da personalidade humana, e dela independente. Limitado pela humanidade, Cristo não poderia estar em toda a parte em pessoa. Era, portanto, do interesse deles [os discípulos] que fosse para o Pai, e enviasse o Espírito como Seu sucessor na Terra. Ninguém poderia ter então vantagem devido a sua situação ou seu contato pessoal como Cristo. Pelo Espírito, o Salvador seria acessível a todos. Nesse sentido, estaria mais perto deles do que se não subisse ao alto.40

 

Com isto em mente, não há qualquer dificuldade para se entender o que Ellen G. White quis dizer quando declarou:

 

Impedido por Sua humanidade, Cristo não poderia estar em todos os lugares pessoalmente; então foi para benefício deles que Ele deveria deixá-la, ir para o Pai, e enviar o Espírito Santo para ser Seu sucessor na Terra. O Espírito é Ele mesmo, despojado da personalidade humana e independente dela. Ele Se representaria como estando presente em todos os lugares por Seu Espírito, como onipresente.41

 

Como ela afirma, o Espírito Santo reunindo, a exemplo de Jesus, a plenitude da divindade, é o sucessor de Cristo, e pode tão perfeitamente representá-Lo neste mundo, que se torna uma bendita realidade a presença essencial dEle aqui, isto é, “Ele mesmo,” Cristo, “despojado da personalidade humana e independente dela… como estando presente [com Seu povo] em todos os lugares por Seu Espírito, como onipresente.” “O Senhor Jesus age através do Espírito Santo, pois é Seu representante.”42

 

Quão surpreendentemente fascinante é o plano de Deus e Seu trato com os pecadores! Enaltecido seja o Seu nome.

 

Conclusão

Que pessoa maravilhosa é o Espírito Santo! Que humildade, que interesse, que desvelo! Ele nos ama a ponto de instar conosco a que sejamos salvos. Ele está disposto a aplicar em nossa vida a obra redentora da cruz em toda a Sua extensão. A exemplo do Pai e do Filho, Ele anseia por nossa presença no reino de Deus. Já Lhe agradecemos por isso?

 

De fato, Ele é um precioso amigo. Se O resistirmos, magoá-Lo-emos, e Ele poderá se afastar triste e pesaroso por nossa indelicadeza e apego a ideias que O desmerecem, e que resultarão finalmente em nossa ruína eterna. Mas se O valorizarmos como Ele merece, e O acolhermos em nossa vida, Ele tomará posse do nosso ser, far-nos-á crescer em semelhança com Jesus, até que coloquemos nossos pés na cidade celestial.

 

“Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações” (Hb 4:7).

 

Referências

1 Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997), 614. ↑

 

2 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001), 352. Esta afirmação do Espírito de Profecia denota claramente a personalidade e divindade do Espírito Santo. ↑

 

3 LeRoy E. Froom, A Vinda do Consolador (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988), 40. À página 36 da edição castelhana, acrescenta-se ao final do parágrafo a seguinte colocação: “Mas se O reconhecemos como Pessoa, estudaremos como nos submeter a Ele de modo que nos use segundo Sua vontade.” ↑

 

4 Ibid, 41, 42. ↑

 

5 Ricardo Nicotra, “Eu e o Pai Somos Um” (São Paulo: Ministério Bíblico Cristão, maio/2004), 9, 34 e 35; Jairo Carvalho, A Divindade (Contenda, PR: Ministério 4 anjos, s.d.), 114. ↑

 

6 Ibid, 35. ↑

 

7 Ibid. ↑

 

8 Embora, de vez em quando, palavras sejam proferidas ou escritas por aí sem, ao menos, se pensar nelas. ↑

 

9 É bom lembrar neste momento que Jesus é chamado Logos, “Palavra” (a Almeida verte “Verbo”), nos escritos joaninos (Jo 1:1, 14; 1Jo 1:1; Ap 19:13), e nem por isso iríamos afirmar que Ele, na encarnação, procedeu de dentro do Pai. O emprego da preposição prós, “com”, no prólogo do quarto Evangelho indica que Jesus veio da íntima companhia do Pai, de um relacionamento face a face, de um companheirismo como iguais (ver A. T. Robertson, A Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Reserarch [Nashville, TN: Broadman, 1934], 613, e The Divinity of Christ in the Gospel of John [New York: Fleming H. Revell, 1916], 39): “O Verbo estava com [prós] Deus… Ele estava no princípio com [prós] Deus” (Jo 1:1, 2). Vemos, então, que é sempre importante levar em conta a preposição usada e sua conotação. ↑

 

10 Robertson, A Grammar, 613; ver pp. 553-649 para uma abordagem geral das preposições gregas. ↑

 

11 Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1986), 52. ↑

 

12 A fórmula é de Rui Barbosa em alusão às prerrogativas papais de infalibilidade (ver O Papa e o Concílio [Rio de Janeiro: Elos, s/d], I:113). ↑

 

13 Nicotra, 8, 9. Carvalho, 44-46, 74, 110. ↑

 

14 Nicotra, 8, 9, 11. ↑

 

15 Por exemplo, muito da “teologia” grega do tempo dos apóstolos era antropomórfica, o que naturalmente recebeu o repúdio da fé cristã. ↑

 

16 ↑Nicotra, 12, 32, 33, 36; Carvalho, 18, 19, 20, 21, 26, 31, 32, 50, 51,

 

17 Sabelianismo, de Sabélio, herege do terceiro século, que afirmava que uma única Pessoa na Divindade se manifesta de três modos distintos: às vezes como Pai, outras como Filho, e ainda outras como Espírito Santo. Assim, para Sabélio, o Espírito Santo era às vezes o Pai, outras vezes o Filho. ↑

 

18 Carvalho, 21. ↑

 

19 Ibid. ↑

 

20 Nicotra, 8. ↑

 

21 Ibid, 28. ↑

 

22 Carvalho, 24. ↑

 

23 Ibid, 132, 133. ↑

 

24 Ibid., 80, 134, 135, 136, 137. ↑

 

25 Ibid., 80, 137. ↑

 

26 Ver nota a seguir. ↑

 

27 “A partir da Divindade”, em vez de “da Divindade”, é como Jairo Carvalho verte o original inglês “of the Godhead”, do texto em apreço de Ellen G. White. Ele recorre ao Webster’s Dictionary em apoio à sua versão, afirmando que, segundo este, “of ” é sinônimo de “from”, que ele afirma significar “a partir de” (107). Mas, na acepção que o dissidente requer, é duvidoso atribuir tal significado à preposição “from”. Em sua edição mais completa, o aludido dicionário supre os diversos casos de equivalência entre “of” e “from”, e nenhum deles coincide com o que o dissidente imagina (ver “of ” em Webster’s Dictionary of the English Language – Unabridged – Encyclopedic Edition [Chicago, IL.: J. G. Ferguson Publishing Company, 1979], II:1241, 1242). Igualmente não pode ser alegado que, “na época em que o texto [de Ellen G. White] foi escrito, por volta de 1890”, um dos significados de “of ” era “a partir de” (Carvalho, 107, 128), pois o mesmo Dicionário supre os significados obsoletos do termo e também nenhum deles é o que o dissidente pretende. Quisesse a serva do Senhor declarar o que ele afirma, teria registrado algo como “starting from” em lugar do simples “of ”. ↑

 

28 Evangelismo, 617. Se é apenas pelo poder do Espírito Santo que se vence o inimigo, o que será dos que O negam e rejeitam? Senhores dissidentes, pensem nisso! ↑

 

29 Carvalho, 22, 52, 114, 116, 117, 118, 121, 122, 124, 125, 142, 143, 159. ↑

 

30 Evangelismo, 614. ↑

 

31 Carvalho, 165. ↑

 

32 Atos dos Apóstolos, 52. ↑

 

33 Evangelismo, 617. ↑

 

34 Afirmar, como o Sr. Nicotra faz (18-24), que a fórmula batismal no tríplice nome de Deus em Mateus 28:19 foi interpolada posteriormente ao texto original do Evangelho, sendo, portanto, apócrifa, não é verdade, como ficou evidenciado em Jose C. Ramos, “Mateus 28:19 ¯ falso ou autêntico?”, Revista Adventista, maio de 2005, 10, 11. ↑

 

35 Veja, por exemplo, Lucas 2:27; João 3:5, 6; 16:8; Romanos 8:4, 23; 14:17; Gálatas 5:17, 22, 23; 1 Pedro 1:2; 2 Pedro 1:21. ↑

 

36 Ellen G. White, “The Word Made Flesh,” Review and Herald, 5 de abril de 1906, 8. ↑

 

37 Evangelismo, 615 (itálicos supridos). ↑

 

38 Ibid., 616. ↑

 

39 Quanto à genuinidade da fórmula “que está no céu” em João 3:13, ver José C. Ramos, “La Revelación de Dios em JesuCristo en el Cuarto Evangelio”, Theologika VII, 2 (1993) 93: 112-127, principalmente 117-121. ↑

 

40 O Desejado de Todas as Nações, 669. Ênfase suprida. ↑

 

41 Manuscrito 14, 23 e 24. Ênfase suprida. ↑

 

42 Ellen G. White, “Our Battle with Evil”, Review and Herald, 10 de fevereiro de 1903, 8. ↑

 

Fonte: Revista Parousia, 2° Semestre de 2005, UNASPRESS

 

 

 

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Notas

 

3 Acrescentamos o interessante caso dos iorubás e nagôs da África, que denominam a divindade universal de Ol, o firmamento estrelado de Orum, e o ar atmosférico de Samó, em plena correspondência com as radicais semitas: e-l(divindade), o-r (luz celeste) e s-m (céu atmosférico): um caso a estudar (PRANDI, 2007).

Como citar este artigo/How to cite this article MAÇANEIRO, M. Para uma arqueologia do Espírito na tradição semita: Ruah – Ruha – Ruuh. Reflexão, v. 45

https://biblia.pro.br/o-que-e-ruah-no-contexto-original-hebraico/

https://www.redalyc.org/journal/5765/576563439009/html/#:~:text=O%20Esp%C3%ADrito%20Santo%20%C3%A9%20traduzido,substantivo)%2C%20tamb%C3%A9m%20no%20feminino.

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