O cristão
pode ouvir música secular? Líderes evangélicos divergem sobre o assunto.
A música ainda hoje é fonte de debates
entre evangélicos, e a liberdade para ouvir ou não músicas tidas como
“seculares” é uma das dúvidas mais persistentes para muitos fiéis.
Posições contrárias e a favor surgem em
fóruns de debate na internet, em cultos de jovens, páginas de redes sociais, etc.
Em vídeos de perguntas e respostas, dois
líderes cristãos nacionais mencionam posturas opostas a respeito do assunto.
O bispo Walter McAlister, líder da
Igreja Cristã Nova Vida afirma que é possível ouvir certas músicas sem que a
“alma seja poluída”, e prega o princípio de sensatez para avaliar o que deve
ser ouvido: “Há coisas nobres que ainda restam no ser humano. Uma pessoa que
não conhece Cristo, ainda assim, pode expressar beleza, sentimento… Coisas que
são nobres, belas”.
Em
posição contrária, o pastor Lucinho, da Igreja Batista da Lagoinha, afirma que
“não ouve e não recomenda” músicas que não sejam cristãs. Lucinho ficou
conhecido nacionalmente pela polêmica imagem em que aparece cheirando uma Bíblia como se fosse cocaína.
Pastor Lucinho lembra que “tudo me é
permitido, mas nem tudo convém” (1 Coríntios 10:23) e lembra que há opções no
meio gospel que podem servir como substitutas das músicas seculares.
Em contrapartida, o bispo McAlister
afirma que também há músicas “ditas cristãs” que não acrescentam nada à alma:
“São músicas vazias, superficiais, e distorcem a experiência cristã. E essas
músicas também não convém, não ajudam em nada”.
Cristão deve ouvir música do mundo?
(Só um alerta, em amor: essa questão não se define em 3 ou 4
parágrafos. Por isso, este será um post longo e, se você estiver sem tempo de
ler ou não tiver paciência de ler textos compridos, sugiro que nem vá adiante.
Mas, se quiser prosseguir, vamos juntos, passo a passo.)
1. O que a Bíblia chama de “mundo”?
Primeiro temos que compreender o que
a Biblia chama de “mundo”. No contexto das Escrituras, “mundo” (do gregokosmos) é todo um
sistema de valores e práticas que se opõem ao Evangelho, ou seja, àquilo que
Jesus ensinou. Ao Reino de Deus. Às boas-novas de salvação. Logo, tudo o que
contraria os genuínos ensinamentos cristãos, a ética cristã, a moral cristã, os
conceitos bíblicos é… do mundo. E, nesse sentido, não é “mundo” com
significado de “universo” ou “planeta terra”, mas no sentido de tudo aquilo que,
em resumo, levaria Jesus a fazer careta.
2. Os cristãos não devem se misturar
com o que é do mundo
Tendo
entendido o que é “mundo” segundo a Biblia, vamos ao segundo passo: provar
biblicamente que Jesus e o que é do mundo não se misturam. E, logo, que o
cristão e o que é do mundo não se misturam. Para isso, vamos à Palavra de Deus:
João 1:10 – “O Verbo estava no
mundo, o mundo foi feito porintermédio dele, mas o mundo não o conheceu”.
1 Jo 4.4,5 – “Filhinhos,
vós sois de Deus e tendes vencido os falsosprofetas, porque maior é aquele que
está em vós do que aquele queestá no mundo. Eles procedem do mundo; por essa
razão, falam daparte do mundo, e o mundo os ouve”.
João 3:17 – “Porquanto Deus
enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse
o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele”.
João 15:19 – “Se vós fôsseis do
mundo, o mundo amaria o que era seu; como,
todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por
isso, o mundo vos odeia”.
Há
muitas outras passagens, como a famosa Jo 3.16, mas, para não tornar este texto
demasiadamente enfadonho, acredito que essas já são suficientes para demonstrar
essa realidade: se você é
cristão, se você é sal da terra e luz do… mundo… não deve se misturar ao que
vai contra Cristo e aos ensinamentos de Cristo.
E
tudo o que vai contra Cristo… É mundo.
Até
aqui tudo bem? Ficou claro que, segundo a Biblia, o cristão não deve se
misturar com valores anticristãos, ou seja, mundanos? Ok então, vamos adiante.
3. O que é música “do mundo”?
Seguimos para o terceiro e
fundamental passo: dedinir o que exatamente é “música do mundo” – aquela que,
pelo que já vimos pelos dois passos anteriores, tem de ser evitada pelo
cristão. “Música do mundo” seria,
então, aquela que contraria o Evangelho, que se opõe aos ensinos de
Jesus, que leva aos ouvidos (e, em seguida, ao cérebro e, como consequência, ao coração e à
alma) mensagens que
batem de frente com a ética de Cristo, com as boas-novas do Reino de Deus. Então, o conceito de “música do mundo”
está ligado diretamente a aquilo que determinada canção diz: seus valores, sua
filosofia, seus ensinamentos.
Portanto, biblicamente, uma música
ser ou não do mundo não tem nada a ver com estilo musical, instrumentos
utilizados, melodia, harmonia ou ritmo. Tem a ver com MENSAGEM. Com o que ela diz. Com o que ela
defende. Com o que ela ensina.
Tendo
compreendido isso, vamos falar a respeito de alguns mitos e algumas verdades
sobre música “do mundo” e música “cristã”:
Embora todos amemos e devamos louvar, elogiar o Senhor em canções e reconhecer quem Ele é e faz, a Bíblia não afirma diretamente em nenhuma passagem que o cristão só pode ouvir músicas que falem de Deus ou que sejam louvores. Pelo contrário, uma leitura atenta dos livros de Salmos, Cântico dos Canticos e até mesmo Jó, por exemplo, demonstram que a exaltação da criação de Deus, do amor, de sentimentos belos são algo lícito ao povo de Deus. O Salmo 150 infere que louvar deve ser uma explosão de amor pelo Criador. Mas não há proibição bíblica de cantar o amor de um homem pela mulher que ama, por exemplo. Assim, não é antibíblico (logo, não é pecado) eu escrever uma poesia de amor para minha amada ou mesmo uma que exalte as belezas da cidade onde vivo e em seguida musicar esses versos. Poderia, por exemplo, cantar…
.
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
ou
Cidade maravilhosa,
Cheia de encantos mil!
Cidade maravilhosa,
Coração do meu Brasil!
Jardim florido de amor e saudade,
Terra que a todos seduz,
Que Deus te cubra de felicidade,
Ninho de sonho e de luz.
Cheia de encantos mil!
Cidade maravilhosa,
Coração do meu Brasil!
Jardim florido de amor e saudade,
Terra que a todos seduz,
Que Deus te cubra de felicidade,
Ninho de sonho e de luz.
…e
não estaria cometendo absolutamente nenhum pecado. Simplesmente porque nada do
que a letra dessas músicas diz contraria o Evangelho, se opõe aos ensinos de
Jesus, leva ao coração mensagens que batem de frente com a ética de Cristo, com
as boas-novas do Reino de Deus. Então a conclusao lógica e bíblica é que
músicas de amor, canções que exaltam belezas naturais ou até mesmo que, sei lá,
contem uma história sobre dois capiaus em visita a uma fazenda – e muitos
outros tipos de músicas seculares que não necessariamente são cantadas em
igrejas, gravadas por cantores supostamente cristãos ou que sejam tocadas em
rádios ditas “evangélicas” – são “música do mundo”. Simplesmente porque não se
encaixam na definição bíblica de “mundo”. Não contrariam a Bíblia. Não se opõem
a Cristo. Não ensinam nada diferente do que está nas Sagradas Escrituras.
São
músicas seculares? Sim. São músicas que não necessariamente falam de Deus ou de
seus feitos? São. Mas são músicas que contrariam Cristo ou o Evangelho? Não.
Então, evidentemente não são louvores ou músicas sacras, mas também não são
músicas “do mundo”, ou seja, músicas pecaminosas.
Aí você pode estar pensando “Uhu! Então liberou geral! Posso ouvir o que quiser!”. Nananinanão. Não é bem assim. Biblicamente você pode ouvir uma música que não necessariamente fale de Deus, mas você SEMPRE tem que prestar atenção na letra das músicas, na MENSAGEM que elas transmitem. Se essas músicas apregoam valores antibíblicos, porque aí sim elas são músicas do mundo. E aqui vou dar exemplos práticos. Em pleno Rock in Rio, li no twitter uma cristã dizendo que estava triste porque não poderia assistir ao show dos Titãs. Por isso, decidi tomar esse grupo como exemplo. Bem, os Titãs têm músicas cujas mensagens são claramente antibíblicas. E, por definição, são “música do mundo”. Por exemplo, comecemos com a música mais óbvia, chamada Igreja. Leia com atenção a letra, com especial atenção ao que está em negrito:
Eu não gosto de padre
Eu não gosto de madre
Eu não gosto de frei.
Eu não gosto de bispo
Eu não gosto de Cristo
Eu não digo amém.
Eu não monto presépio
Eu não gosto do vigário
Nem da missa das seis.
Não! Não!
Eu não gosto do terço
Eu não gosto do berço
De Jesus de Belém.
Eu não gosto do papa
Eu não creio na graça
Do milagre de Deus.
Eu não gosto da igreja
Eu não entro na igreja
Não tenho religião.
Não!
Não! Não gosto! Eu não gosto!
Não! Não gosto! Eu não gosto!
Eu não gosto de madre
Eu não gosto de frei.
Eu não gosto de bispo
Eu não gosto de Cristo
Eu não digo amém.
Eu não monto presépio
Eu não gosto do vigário
Nem da missa das seis.
Não! Não!
Eu não gosto do terço
Eu não gosto do berço
De Jesus de Belém.
Eu não gosto do papa
Eu não creio na graça
Do milagre de Deus.
Eu não gosto da igreja
Eu não entro na igreja
Não tenho religião.
Não!
Não! Não gosto! Eu não gosto!
Não! Não gosto! Eu não gosto!
Agora…
você, que é cristão, me responda sinceramente: você cantaria essa música
achando que “não tem nada a ver”? Se alegrando, sorrindo e pulando? Isso é algo
que uma pessoa lavada e redimida pelo sangue daquele que foi à Cruz pelos
pecadores sai cantando feliz da vida? Haveria anjos ao redor se alegrando? Você
responda.
Vamos a outra: Homem Primata. Selecionei um trecho:
Eu aprendi
A vida é um jogo
Cada um por si
E Deus contra todos
Você vai morrer
E não vai pro céu
É bom aprender
A vida é cruel…
A vida é um jogo
Cada um por si
E Deus contra todos
Você vai morrer
E não vai pro céu
É bom aprender
A vida é cruel…
E aí, crente? Cantamos e nos
alegramos cantando isso? “Deus contra todos”? Por favor, apenas pare um minuto
para pensar no que você está cantando: “Deus contra todos“! Como assim?!
Para completar o pacote, só mais
uma, da qual extraio um trecho: Epitáfio
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar…
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar…
O acaso? Mas se a Bíblia diz que há
um Deus que controla todas as coisas, como seria possível que “o acaso”
protegesse alguém? Biblicamente, “acaso” é um conceito que não existe. Logo, Epitáfio traz
uma mensagem antibíblica. E, logo, lamento informar, é música do mundo.
Usei
os exemplos do Titãs porque é um grupo bem conhecido e você possivelmente já
cantou essas canções (e outras que são tão chulas que nem me atrevo a escrever
a letra aqui), como eu mesmo já cantei milhares de vezes antes de Jesus me
converter, fui a shows, comprei os CDs. Só que aí somos salvos, o Espírito
Santo passa a habitar em nós e começa a nos convencer do pecado, da justiça e
do juízo. E você, que é salvo, sabe como essas coisas nos incomodam, não é? Aí
você começa a ouvir as MENSAGENS que grupos como os Titãs passam em músicas
como essas (e olha que só citei três, hein) e algo faz um clique no teu
espírito sobre esse papo “careta”, “radical”, “ortodoxo” e “fundamentalista” de
“não ouvir música do mundo”.
Mas, para não ficarmos falando
somente de uma banda, deixe-me pegar apenas um outro exemplo de um universo de
grupos e cantores que poderiam pegar: o conhecido Barão Vermelho. Seleciono uma
música que tem um título bem sugestivo e que era a minha preferida deles antes
de Jesus me justificar, chamada Nunca existiu pecado. Reproduzo
as 3 primeiras estrofes:
A rapidez velha do tempo
Revive inquisições fatais
Um novo ciclo de revoltas
E preconceitos sexuais
Revive inquisições fatais
Um novo ciclo de revoltas
E preconceitos sexuais
Por mais liberdade que eu
anseie
Esbarro em repressões fascistas
Mas tô a margem disso tudo
Desse mundo escuro e sujo
Esbarro em repressões fascistas
Mas tô a margem disso tudo
Desse mundo escuro e sujo
Não tenho medo de amar
Pra mim nunca existiu pecado
Essa vida é uma só
Nesse buraco negro eu não caio.
Pra mim nunca existiu pecado
Essa vida é uma só
Nesse buraco negro eu não caio.
Ou seja, Barão Vermelho está defendendo por meio da
mensagem dessa letra que:
1. Não existe pecado;
2. O Cristianismo é sexualmente preconceituoso;
3. A ética de Cristo é uma “repressão fascista” porque
contraria aquilo que o pecador deseja fazer;
4. Quem afirma que existe pecado (obviamente nós,
cristãos) representa um “mundo escuro e sujo”;
5. A defesa da ideia de que existe pecado é um “buraco
negro”.
.
Agora me diga você: em sua opinião, a letra dessa música contraria o Evangelho, se opõe aos ensinos de
Jesus, leva ao coração mensagens que
batem de frente com a ética de Cristo, com as boas-novas do Reino de
Deus… ou não? Se a sua resposta foi “sim”, então essa é uma
música “do mundo”. Portanto, chegamos aqui à grande conclusão: segundo os padrões bíblicos, “música do mundo” NÃO é sinônimo de
“música secular”.Logo, as músicas do mundo sim,
devemos evitar. As seculares, não necessariamente.
.
O que existe é música feita a partir de realidades bíblicas. E que podem ser feitas em diferentes estilos. “Vem com Josué lutar em Jericó…”, por exemplo, é rock. “Aquele que tem sede busca beber da agua que Cristo dá…” por sua vez, é axé. Cassiane em geral tem muito forró. E por aí vai. Logo, não existe nenhum estilo “maldito” ou, como diz um amigo meu, “não existe dó maior ungido e sol sustenido endemoninhado”. Se você for analisar com cuidado, verá que “música evangélica” no imaginário popular é:
●
Música cantada em igreja;
● Música cantada por cantor que frequenta igreja (dito “cantor evangélico”);
● Música gravada por grupo de louvor de igreja;
● Música que toca em rádio “evangélica”;
● Música lançada por gravadora “evangélica”;
● Música que consta em algum hinário tradicional.
● Música cantada por cantor que frequenta igreja (dito “cantor evangélico”);
● Música gravada por grupo de louvor de igreja;
● Música que toca em rádio “evangélica”;
● Música lançada por gravadora “evangélica”;
● Música que consta em algum hinário tradicional.
Só
que, desses itens, alguns são muito duvidosos. Das músicas cantadas em igrejas,
muitas carregam em si heresias e são músicas “do mundo” (calma, falaremos em
detalhes sobre isso daqui a pouco). Eu conheço pessoalmente “cantores
evangélicos” que vivem como pagãos, são pecadores, só estão atrás dos bens
materiais que sua notoriedade pode lhes proporcionar. Conheço “grupos de
louvor” que tocam pela fama e o dinheiro e não por um desejo real de louvar o
Senhor. Sei que muitas “rádios evangélicas” só existem para gerar lucro e poder
para seus donos, que por sua vez vivem vidas pecaminosas e totalmente fora do
Evangelho. Conheço os bastidores de certas “gravadoras evangélicas” onde o
ambiente é tão mundano que nenhum funcionário confia em sair pra almoçar e
deixar a bolsa em cima da mesa, pois ocorrem furtos ali dentro. E entenda: eu
conheço. Não ouvi falar. Sei o que estou dizendo.
Portanto,
dizer que só podemos ouvir “música evangélica” (se por “música evangélica”
entendermos o que mencionamos acima) é uma afirmação cheia de buracos.
.
Pelo contrário, é uma prática muito, mas muito mais usual em nossos hinários do que você imagina. Uma enorme quantidade das músicas contidas em hinários como a Harpa Cristã e o Cantor Cristão, por exemplo, originalmente eram canções entoadas em prostíbulos (não vou dizer quais para que da próxima vez que você for cantá-las não as considere indignas). Os músicos que tocavam nessas casas de pecado se convertiam, pegavam as melodias que conheciam (muitas das tinham letras originais que falavam sobre encher a cara de uísque e vinho, além de coisas similares), punham letras cristãs e passavam a cantá-las durante os cultos, nas igrejas. Isso é histórico, basta você estudar um pouco sobre isso que vai comprovar, não estou inventando nada disso.
E não só músicas de bordel. Músicas
seculares de outras linhas também. O hino 185 da Harpa Cristã, por exemplo, é o
Hino Nacional da Inglaterra com uma letra cristã: “Vem tu, ó Rei dos reis, buscar
os teus fiéis…“. Já o conhecido hino “Os guerreiros se preparam para
a batalha…” é o Hino Nacional das Ilhas Fiji, você sabia? O
tradicionalíssimo hino “Vencendo vem Jesus” (Glória, glória. Aleluuuuuia!) é uma versão de uma
música militar da época da guerra civil americana chamada “John Brown”s Body”,
que exaltava os esforços de um homem na guerra. Um mulher cristã ouviu a
melodia, gostou e pôs um letra cristã. E, a partir daí, começamos a cantar em nossas
igrejas, Deus sempre foi louvado maravilhosamente por intermédio dessa canção,
a entoamos ainda hoje e o religare do homem com o Criador ocorre
perfeitamente – apesar da origem pagã da música. Ou você achava que essa música
desceu do céu trazida por um anjo numa bandeja de prata? Não, muitas músicas
que consideramos “hinos sagrados” (e são!!!) têm origem secular e são
adaptações feitas para o canto religioso.
Mais recentemente há exemplos como o
do cantor Marco Aurélio, que gravou “Caminhada” (“Eu vi Jesus, Jesus me viu, no
mesmo instante me redimiu…“). Ela nada mais é do que a canção “My
Way”, cantada por músicos como Frank Sinatra e Elvis Presley. E por aí vai. A
pergunta é: essas versões deixam de ser válidas ou dignas de serem cantadas em
cultos e igrejas como hinos congregacionais porque originalmente eram
seculares? De jeito nenhum. Pois tornaram-se músicas com MENSAGENS cristãs.
E aqui chegamos ao ponto mais polêmico de todos. Só porque uma música foi composta ou é cantada por alguém que se apresenta como cristão isso não quer dizer que ela transmita valores biblicamente corretos. Há muitas e muitas músicas “evangélicas” que são “do mundo”. Exemplo: tem um conhecido grupo gospel (que inclusive saiu brigado de sua igreja) cujo vocalista (que agora já saiu da banda para seguir carreira solo) na “ministração” antes de começar uma de suas mais cantadas músicas em igrejas fala como se estivesse orando a seguinte frase (está registrada inclusive no CD):
-
Nós queremos um romance contigo, Senhor.
Peraí.
“Romance” com Deus? O Todo-Poderoso Criador dos Céus e da Terra agora virou o
quê? Nosso namoradinho? Desculpem-me, mas isso é antibíblico e, logo, mundano.
Outro
exemplo: um conhecido corinho cantado em muitos louvores, às lágrimas, por
muitos de nós, diz a seguinte coisa:
Diante dEle se dobram os reis
E se prostram para O adorar
Nem os anjos que O cercam louvando
Se permitem sua face olhar
E se prostram para O adorar
Nem os anjos que O cercam louvando
Se permitem sua face olhar
Só
tem um detalhe: essa letra é antibíblica. Mateus 18.10 diz: “Cuidado para não
desprezarem um só destes pequeninos! Pois eu lhes digo que os anjos deles nos
céus estão sempre vendo a face de meu Pai celeste”. Então temos que decidir se
os anjos contemplam a face de Deus ou não. Eu fico com a Bíblia, que diz que
sim, os anjos contemplam a face de Deus, ao contrário do corinho. E se o
corinho diz algo que vai contra o que está na Bíblia, desculpem, é “música do
mundo”. “Ah, Zágari, você está sendo radical, o resto da música é perfeito ,
afinal, é um louvor tão bonito…”, alguém poderia dizer. Bem, aí entram 1 Co 5.6
e Gl 5.9, que dizem que, biblicamente, um pouco de fermento leveda toda a
massa. Nesse sentido sou radical sim: basta uma única e pequena heresia na
letra de um “corinho”, de um “hino” ou de um “louvor” (como você preferir
chamar) para o descartarmos dos nossos cultos.
Isso sem falar dos chamados
“corinhos do fogo”, muito habituais nas igrejas pentecostais não-reformadas.
Tem um que diz “O fogo santo está queimando, o Espírito Santo está batizando“,
referindo-se ao que os pentecostais chamam de “batismo no Espírito Santo” e os
tradicionais de “plenitude do Espírito”, seguindo a linha defendida por
teólogos como John Stott. Fato é que, biblicamente, o responsável por esse
fenômeno é Jesus, o Deus Filho, e não o Espírito Santo. Outro ensino
antibíblico e, portanto, “do mundo”.
Fato
é que toda letra de cânticos (congregacionais ou não) “evangélicos” deve ser
submetida ao crivo bíblico. O certo não é o que a pessoa sente, se ela fica
emocionada, arrepiada ou se chora: o certo é o que está de acordo com a
Bíblia. Como afirmou o Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho em palestra
durante um Encontro de Músicos, na PIB de Manaus, “Raramente se fala de Jesus,
e, quando se fala, dá para notar que Jesus é muito mais um conceito para dentro
do qual as pessoas projetam seus sonhos de consumo ou de classe média do que o
Redentor e Salvador. A linguagem é horrorosa: mergulhar nos teus rios, beber
nos teus rios, voar nas asas do Espírito, estar apaixonado por Jesus, subir
acima dos querubins… uma série de expressões que não fazem sentido algum”,
afirmou Pr. Isaltino. E, convenhamos, com toda razão.
Cantamos
na igreja sem saber o que estamos cantando, por ignorância teológica e porque
determinada música toca na rádio, é de um grupo famoso, está na moda e o povo
gosta. Por exemplo, no “corinho” abaixo…
Quero subir ao Monte santo de
Sião
E entoar o novo cântico ao meu Deus
Mais que palavras minha vida eu quero entregar
Purifica o meu coração para entrar em Tua presença
contemplar a Tua grandeza
E entoar o novo cântico ao meu Deus
Mais que palavras minha vida eu quero entregar
Purifica o meu coração para entrar em Tua presença
contemplar a Tua grandeza
…o
que as pessoas não sabem por desconhecimento bíblico é que o “monte santo de
Sião”, segundo Hebreus 12.22-24, é um símbolo do Evangelho, da Igreja de Deus.
Consequentemente, todo cristão já está no “monte santo de Sião”. E, por isso,
não há teologicamente, segundo o Novo Testamento, por que “subir” nele. Mais um
equívoco bíblico. Também cantamos em nossas igrejas:
Eu só quero Te amar,
Eu só quero ver Tua face
Quero Tocar Seu coração
Eu só quero Te amar,
Eu só quero ver Tua face
Eu só quero ver Tua face
Quero Tocar Seu coração
Eu só quero Te amar,
Eu só quero ver Tua face
O
mesmo cantor tem outro corinho que diz:
Quero te ver, quero te ver
Eu quero te tocar,
eu quero te abraçar
Quero te ver
Eu quero te tocar,
eu quero te abraçar
Quero te ver
Detalhe:
é importante repararmos que o cantor está dizendo que quer ver Deus e sua face
EM VIDA e não no porvir. Só que se nós formos ler Êxodo 33.20, é claríssimo e
inequívoco o que Deus diz a Moisés: “Não me poderás ver a face, porquanto homem
nenhum verá a minha face, e viverá”. Então o que estamos pedindo nesses
corinhos é para ver a face de Deus e morrer? Algo está biblicamente errado e,
se formos analisar, estamos fazendo pedidos mundanos a Deus. Como eu “quero te
ver” se Ele diz na Biblia que “homem nenhum verá a minha face , e viverá”?
Instinto suicida?
Em
João 12.45 e João 14.9 Jesus afirma claramente a forma de ver o Pai: ver a Ele
próprio, Jesus. “Quem me vê a mim vê o Pai”. Logo, é buscando Cristo e sua
pessoa em espírito que temos acesso a Deus, não tem nada a ver com “eu só quero
ver a tua face”. No discurso de Pedro no dia de Pentecostes em At 2.28, ele
deixa claro que contemplar Deus face a face só ocorrerá na eternidade: “Com a
tua face me encherás de júbilo”. A face de Deus é biblicamente inalcançável
nesta vida. Logo, por que ficamos cantando pedindo para”ver sua face”, já que
isso biblicamente não é possível – logo, é antibíblico? Pronto, não me odeie
por dizer isso, mas a falta de canonicidade nessas afirmações de corinho tornam
músicas como essas…músicas “do mundo”.
Conclusão
Não
estou falando aqui de estilo musical. Pois a Bíblia não fala de estilo. Logo,
estilo é um assunto restrito aos gostos pessoais e não tem a ver com doutrinas
e teologia. Se uma música deve ter bateria ou não, se ela pode ser acelerada ou
não, se é rock, forró, bolero, valsa ou o que for, não importa. Simplesmente
porque biblicamente não importa. O tal gênero “música evangélica” não existe.
Cada “música evangélica” carrega um estilo próprio, seja esses que já mecionei,
seja algum diferente, como black music, hip hop, blues, bossa nova, sertanejo,
jazz, new wave, pop, reggae, samba, ska ou qual for. Dizer que “música tal não
é do mundo porque é estilo evangélico e não rock” é uma inverdade. Pois há
músicas evangélicas que são rock. E – repetindo – estilo musical só depende de
uma única coisa: gosto pessoal. Não tem nada a ver com Bíblia. Se estou errado,
por favor que alguém me prove nas Sagradas Escrituras.
A
ao fazermos a pergunta “o que essa música está dizendo contraria algo da
Bíblia?” temos de estar preparados para sofrer. Pois vamos
perceber que muito do que cantamos em nossas igrejas é música “do mundo” pela
simples razão de que afirma coisas que a Bíblia não diz.
Sei
que o que aqui escrevi contraria a crença de muitos. Certa vez, ao ministrar
numa Escola Dominical uma aluna ficou tão ofendida pela verdade que falei de
que hinos da Harpa Cristã vinham de bordéis que se levantou e se retirou da
sala. Sei que isso mexe com convicções e emoções. Mas não posso jamais fugir do
que as Sagradas Escrituras dizem. Não podemos fugir da verdade. São as
Escrituras que devem sempre nos nortear – e não aquilo que ficou estabelecido
pela cultura popular (em especial a cultura popular evangélica) ao longo das
décadas. E falo como evangélico, não sou desses pastores e teólogos revoltados
que inventaram agora que ser “evangélico” é palavrão. Nada disso. Falo como
filho da Reforma Protestante, herdeiro de Jesus e também de reformadores como
Lutero e Calvino. Não renego minhas origens. Sou cristão, de tradição
evangélica e me orgulho disso.
Para
terminar, volto ao início de nosso texto, para a pergunta-título deste artigo.
Se você me perguntar “um cristão deve ouvir música do mundo?”, eu vou voltar a
afirmar: “Claro que não!”. Pois o cristão deve sempre caminhar de acordo com as
Sagradas Escrituras. E se uma música, secular ou religiosa, traz em si
ensinamentos antibíblicos… meu irmão, minha irmã, jogue o CD fora.
Fonte:
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