Ciúme e Bíblia: considerações teóricas e práticas
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Na mitologia grega, Ftono (em grego Φθονος,
"inveja", "ciúme") é a personificação e o deus dos ciúmes e
da inveja.
Este
deus, enciumado de Baco antes mesmo dele nascer, provocou o
ciúme de Atena,
com uma imagem de Ares com uma armadura coberta de sangue
falso1 ,
e o ciúme deHera, mandando a deusa procurar outro marido
no céu, porque Zeus agora ficaria com Sêmele2 ,
e continuou provocando Hera e Atena, lembrando dos vários casos de Zeus e
prevendo feitos heroicos para Baco3 .
O ciúme é um sentimento comum
e complexo, que se manifesta em diferentes circunstâncias e níveis entre as
pessoas. Lidar com essa emoção ou administrá-la é algo muitas vezes urgente nos
contextos sociais, especialmente familiares, uma vez que tal sentimento tem a
tendência de destruir relacionamentos. O que se segue abaixo são algumas
considerações teológicas e práticas sobre o assunto em questão.
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CONSIDERAÇÕES TEOLÓGICAS
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A palavra grega "zelos",
que aparece nos textos bíblicos, muitas vezes é traduzida
como "ciúmes". O sentido básico desse termo é de calor,
fervor, borbulhar ou encher, que figurativamente pode ser entendido como
indignação, rivalidade, oposição a alguém ou algo. Podemos então, definir o
ciúme como um estado de alma "tempestuoso" que pode levar o cristão a
atitudes legítimas que envolvem cuidado e proteção ou a todo tipo de
comportamento anti-social, egoísta, desenvolvido ao lado de outras emoções como
o medo, insegurança, tristeza, desânimo e ira.
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Portanto
existem dois sentidos, um positivo (bom) e outro negativo (mau), nos quais a
palavra "ciúme" pode ser utilizada. Quando "zelos" é
aplicada ao santo Deus, o sentido é unicamente positivo, enquanto que há
variação de intenção dos autores bíblicos quando relacionada ao homem. No
caso de Gl 5.20, por exemplo, o sentido de "zelos"
intencionado pelo apóstolo Paulo é ilegítimo de acordo com o contexto da
passagem, onde é listada algumas obras da carne, da vontade humana corrompida
pelo pecado. Eis alguns outros textos que atestam esse ensino:
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Sentido bom: Rm 10.2;
2Co 7.7,11; 9.2; Fp 3.6; Is 9.7; Ez 16;37-38; 23.25; Sl 69.9; 119.139.
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Sentido mau: Jó 5.2; Pv 6.24; Ec 4.4; 9.6; Rm 13.13; 1Co 3.3; 2Co 12.20.
Sentido mau: Jó 5.2; Pv 6.24; Ec 4.4; 9.6; Rm 13.13; 1Co 3.3; 2Co 12.20.
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O ciúme no seu mais intenso nível ou grau, passa a ser chamado de inveja ("fthonos"; ver Gl 5.21) como pode ser observado em algumas narrativas das Escrituras. Quase sempre o sentido pretendido para inveja é negativo, exceto quando raramente usada para se relacionar a Deus (ver Tg 4.5). O ciúme/inveja foi, por exemplo, o motivador do assassinato de Abel cometido por seu irmão Caim, da fuga de Jacó diante de Esaú, da venda de José como um escravo pelos seus irmãos e da tentativa de homicídio do rei Saul contra Davi (ver especialmente Gn 37.11, At 7.9 e 1Sm 18.9). Tais histórias nos servem de exemplos para não subestimarmos esse "inimigo" que existe dentro de nós, o qual nos compete dominá-lo pela graça, em Cristo, o qual foi vítima da inveja de seus opositores (Mt 27.18 // Mc 15.10).
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O ciúme no seu mais intenso nível ou grau, passa a ser chamado de inveja ("fthonos"; ver Gl 5.21) como pode ser observado em algumas narrativas das Escrituras. Quase sempre o sentido pretendido para inveja é negativo, exceto quando raramente usada para se relacionar a Deus (ver Tg 4.5). O ciúme/inveja foi, por exemplo, o motivador do assassinato de Abel cometido por seu irmão Caim, da fuga de Jacó diante de Esaú, da venda de José como um escravo pelos seus irmãos e da tentativa de homicídio do rei Saul contra Davi (ver especialmente Gn 37.11, At 7.9 e 1Sm 18.9). Tais histórias nos servem de exemplos para não subestimarmos esse "inimigo" que existe dentro de nós, o qual nos compete dominá-lo pela graça, em Cristo, o qual foi vítima da inveja de seus opositores (Mt 27.18 // Mc 15.10).
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Nesse sentido,
precisamos particularmente nos lembrar que Corinto era uma igreja com muitos
problemas relacionados ao ciúme/inveja. Suas divisões e rixas, certamente eram
fruto desse sentimento, o qual Paulo solenemente identifica (1Co 3.3; 2Co 12.20), para que os coríntios
reconhecessem parte do problema que estava atribulando os irmãos e prejudicando
a comunhão e crescimento da igreja. Assim como esses cristãos do passado, cabe
a nós hoje ouvirmos a tão maravilhosa exortação do apóstolo do Senhor em
espírito de oração:
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"o
amor não arde em ciúmes" (ARA)
"o
amor não inveja" (NVI).
1Co
13.4
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CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS
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Abaixo estão enumeradas algumas perguntas que poderão ajudar na identificação e tratamento do ciúme em sua vida cristã. O uso de técnicas de psicoterapia podem ser úteis, desde que sejam usadas sob a orientação da Palavra de Deus (procure um especialista cristão nessa área). No entanto, muitas delas exaltam excessivamente o papel da auto-imagem nos cuidados com o indivíduo, negando ou invalidando a existência do pecado na natureza humana. Como cristãos precisamos entender que sem a santificação (Jo 17.17 // Cl 3.5a) e sem a graça de Deus, jamais seremos restaurados desse mal que habita em nós.
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Abaixo estão enumeradas algumas perguntas que poderão ajudar na identificação e tratamento do ciúme em sua vida cristã. O uso de técnicas de psicoterapia podem ser úteis, desde que sejam usadas sob a orientação da Palavra de Deus (procure um especialista cristão nessa área). No entanto, muitas delas exaltam excessivamente o papel da auto-imagem nos cuidados com o indivíduo, negando ou invalidando a existência do pecado na natureza humana. Como cristãos precisamos entender que sem a santificação (Jo 17.17 // Cl 3.5a) e sem a graça de Deus, jamais seremos restaurados desse mal que habita em nós.
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1. Faça uma lista com
as atitudes que o seu próximo tem e que despertam em você o ciúme (no sentido
positivo, bom).
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2. Faça a mesma lista, agora com o ciúme no sentido negativo, mau.
2. Faça a mesma lista, agora com o ciúme no sentido negativo, mau.
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3. Qual sentido prevaleceu?
3. Qual sentido prevaleceu?
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4. Em quais situações ou circunstâncias você sente ciúme?
4. Em quais situações ou circunstâncias você sente ciúme?
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5. Qual a frequência desse sentimento em você? Diário, ocasionalmente, raramente?
5. Qual a frequência desse sentimento em você? Diário, ocasionalmente, raramente?
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6. O seu próximo tem contribuído para despertar o ciúme em você? Se sim, o que ele deveria fazer para te ajudar? Que mudanças comportamentais ele deveria fazer? Se não, em que você necessita mudar?
6. O seu próximo tem contribuído para despertar o ciúme em você? Se sim, o que ele deveria fazer para te ajudar? Que mudanças comportamentais ele deveria fazer? Se não, em que você necessita mudar?
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7. Na sua família ou em amizades próximas, alguém tem te estimulado a ter ciúme? Você tem sido influenciado por eles (elas) nesse sentido?
7. Na sua família ou em amizades próximas, alguém tem te estimulado a ter ciúme? Você tem sido influenciado por eles (elas) nesse sentido?
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8. O ciúme tem te atrapalhado em quê? Quais áreas da sua vida tem sido especificamente afetadas?
8. O ciúme tem te atrapalhado em quê? Quais áreas da sua vida tem sido especificamente afetadas?
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9. O ciúme tem te ajudado em quê? Quais áreas da sua vida tem sido especificamente melhoradas?
9. O ciúme tem te ajudado em quê? Quais áreas da sua vida tem sido especificamente melhoradas?
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10.
Com que frequência você tem orado especificamente por isso em sua
vida? Você também tem orado em favor do seu próximo nesse sentido?
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11.
Qual (ais) versículo (s) bíblico (s) você escolheria para memorizar, guardar,
para que ele (s) seja (m) útil (eis) contra o ciúme no momento da tentação?
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12.
Você tem solicitado a ajuda de seus líderes (pastor, presbíteros ou outros
irmãos) para lutar contra o ciúme? Se não, porquê?
CIÚMES NA
BÍBLIA [BR] Etimologia da palavra:
Ciúme – s.f. – do latim zelumen para o latim zelus, do grego zêlos, com o
sentido de cuidado, ardor, inveja. Definição dos termos 1 – Ciúmes 2 – Ciúme 1
– Quando usado no plural – "ciúmes" – indica ou caracteriza um
sentimento doloroso de inveja e/ou posse exclusiva e egoísta. 2 - Quando usado
no singular – "ciúme" 2.1 – Emulação, de emulação, do latim
emolumento com sentido de retribuição, gratificação. 2.2 - Receio de perder
alguma coisa; cuidado, zelo. Palavras relacionadas: 1 - Inveja – s.f. – do
latim incidia 1.1 - Desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outra
pessoa. 1.2 - Desejo violento de possuir o bem alheio. 2 - Amor – som. - Do
latim amore 2.1 – Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem-estar de
outrem. 2.2 - Sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro ser; devoção
extrema. 2.3 - Ter muito cuidado, zela, carinho. 3 - Pai-nosso. - Do latim
passione 3.1 – Amor ardente; inclinação afectiva e sensual que se sobrepõe à
lucidez e a razão. 3.2 - Afecto dominador e cego. 3.3 - Ainda, e
principalmente, o Martírio, a Paixão de Cristo. Passagens bíblicas com as
palavras "CIÚMES/CIÚME: No A.T. Gn. 30:1 - Ciúmes, indicando um sentimento
de inveja; algo mau e negativo. Gn. 37:11 - Idem, cf. acima. Nm. 5:14 - Ciúmes,
usada duas vezes com o sentido ainda mau e negativo e com uma certa dose de
paixão, desconfiança, insegurança. Pv. 6:34 - Usada no singular, indicando um
sentimento de preocupação em perder algo que é importante; um sentimento de
zelo e cuidado, portanto, algo positivo e bom, pois, um zelo demonstrando
preocupação. Ct. 8:6 - Ainda a palavra em seu bom sentido, o ciúme como algo a
reavivar, revitalizar o amor, no caso, o amor entre o casal.Um sentimento sadio
e inerente a qualquer casal saudável e servos do Senhor. Ez. 8:3 - Nessa
passagem temos o termo utilizado nos dois sentidos.No plural com referência aos
ciúmes do Senhor pelas abominações de Jerusalém e que despertou a ira do Senhor
cf. Cap. 9.O segundo uso, ciúme, no singular, nos informa do cuidado e zelo de
Deus.Em sua infinita misericórdia, Ele têm, sim, ciúmes no sentido de castigar,
mas, de forma diferente ao homem, é um castigo provocado por ciúmes que levam
ao zelo, ao ciúme de forma corretiva afim de preservar e cuidar daquilo que é
Seu, porque Ele tem e demonstra misericordia a Seu povo em Seu infinito amor.
Vamos ao N.T. Rm. 10:19 -
O Apóstolo Paulo usa o termo ciúmes com relação a Israel, ao Povo Escolhido que
rejeitou seu Messias.Uma vez que os judeus O rejeitaram (Jo.1:11), Ele se
voltou para os gentios (Jo. 1:12), provocando ciúmes com o sentido de inveja,
de egoísmo, entre os judeus. Rm. 11:11 - Da mesma forma como acima, a salvação
dos gentios provocando inveja nos judeus que haviam se esquecido das bênçãos
prometida a todas as nações cf. Gn. 12:1-3 E 22:18. Rm. 13:13 - A palavra ciúme
usada como exortação aos membros da incipiente igreja, para que não andassem em
ciúmes, invejas e egoísmos e as abominações descritas no v.9. 1 Co. 3:3 –
conforme acima. 1 Co. 13:4 – exortação ao amor como um sentimento bom e
saudável e que não arde em ciúmes, paixões. Gl. 5:20 - Exortação contra as
obras da carne, e, entre elas, a que engloba praticamente todas as abominações:
ciúmes. Tg. 4:5 - O termo ciúme usado em relação ao Espírito Santo com
referência àqueles que são servos reais do Senhor (Jo. 4:23-24). Vamos recordar
Ez. 8:3, onde o Senhor arde em ciúmes mas por ciúme daquilo que a Ele pertence
(Jo.6:37; 6:44; 14:6; 8:31-32). Esse que habita em nós, (1Co.6:19-20), zela,
tem cuidado, preocupa-se connosco.Por essa razão pela santificação, devemos
estar livres das impurezas (1Co.6:18). Esse o sentido positivo de ciúme, o
Senhor retribui, gratifica àqueles que a Ele são fiéis, não com receio de
perder, mas por puro cuidado e bem-estar de seus filhos em Jesus (Rm. 8:17).
Essa a forma do verdadeiro cristão agir, ter CIÚME E AMOR.Zelo e preocupação
sabendo que, de forma recíproca terá a retribuição da outra parte.Paixão,
inveja e ciúmes são obras da carne. Definição das palavras segundo o Dicionário
Electrónico Aurélio Século XX. Bíblia usada: João Ferreira de Almeida - conf.
Bible Work''s 4.0. Chave Bíblica da SBB – Soc
1.
Zeloso
Cuidadoso , atencioso com o que gosta
Marido e mulher um cuida do outro com muito
amor
2. Zeloso
Ter cuidado fervoroso; se empenhar, lutar por manter algo
original; ter ciúmes de.
Êxodo 34:14 porque não adorarás outro deus; pois o nome do
SENHOR é Zeloso, sim, Deus zeloso é ele).
Gálatas 4:18 É bom ser sempre zeloso pelo bem e não apenas quando estou presente convosco.
Gálatas 4:18 É bom ser sempre zeloso pelo bem e não apenas quando estou presente convosco.
3. Zeloso
Aquele que tem ciúme.
Porque não te inclinarás diante de outro deus; pois o nome do
SENHOR é Zeloso; é um Deus zeloso.
Êxodo 34:14 ( A palavra zeloso utilizada no texto original em
hebraico é traduzida por ciúme).
O Espírito de Deus tem ciúmes?
Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O
Espírito que em nós habita tem ciúmes? Tg 4:5 (ACF2007)
Esta é uma passagem que apresenta considerável dificuldades de compreensão, se examinada mais atentamente e à luz de seu contexto. A questão que se levanta é se espírito se refere ao Espírito Santo, ao espírito humano ou a um espírito maligno. O que dá espaço à polêmica é a conotação negativa do termo ciúme, agravada pelo fato da passagem citada por Tiago não ser encontrada no Antigo Testamento na forma em que é expressa.
A dificuldade é evidenciada pela variedade de formas com que “προς φθονον επιποθει το πνευμα ο κατωκησεν εν ημιν” (literalmente “com ciúme anseia o espírito que fez habitar em nós”), é traduzido. A Almeida Revista Corrigida diz “o Espírito que em nós habita tem ciúmes”, a Tradução Brasileira “com zelos anela por nós o Espírito que ele fez habitar em nós”, a Almeida Revista traduz “o Espírito que ele fez habitar em nós anseia por nós até o ciúme”, a Almeida Revista e Atualizada “é com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós” e a NVI traz “o Espírito que ele fez habitar em nós tem fortes ciúmes”. A Bíblia de Jerusalém apresenta “Ele reclama com ciúme o espírito que pôs dentro de nós?” e a Almeida Revista e Corrigida Anotada traz a seguinte alternativa: “Porventura o espirito que em nós habita, cobiça para inveja?”.
Traduções em linguagens mais modernas também apresentam várias possibilidades. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje diz “o espírito que Deus pôs em nós está cheio de desejos violentos”, a Bíblia Viva traduz “o Espírito Santo, que Deus pôs em nós, vigia sobre nós com terno ciúme” e a Versão Fácil de Ler “Deus quer que o espírito que colocou em nós viva somente para Ele”. Como se vê, pela simples comparação de traduções e versões fica difícil chegar a um consenso. É difícil até mesmo concluir se se trata de uma afirmação (“o espírito tem ciúmes”) ou uma pergunta (“o espírito tem ciúmes?”).
A palavra ciúme
Qual é o significado real do termo traduzido como ciúme? Ele deve ser tomado num sentido bom ou mau? No grego secular o termo phtoneo significa inveja “que faz com que alguém tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo deseja, sem porém, possuí-lo” (DITNT). Embora pareça ser sinônimo de zelos, ciúme, os escritores clássicos distinguem um do outro. Enquanto zelos é “o desejo de ter aquilo que outro homem possui, sem necessariamente ter ressentimento contra aquele que o possui”, pthonos“se ocupa mais em privar o outro da coisa desejada do que em obtê-la”.
No Novo Testamento, a forma verbal ocorre apenas uma vez, enquanto que o substantivo aparece nove vezes. Em Gl 5:26 “invejando-nos uns aos outros” contrasta com “viver no Espírito” (Gl 5:25). Nas epístolas aparece em várias listas de qualidades más. Em Gl 5:21 é uma “obra da carne”, em Rm 1:29 é uma característica daqueles a quem Deus entregou a um “sentimento perverso”, e em Tt 3:3 dos inconversos. Em 1Pe 2:1 é algo que os crentes devem deixar para trás, 1Tm 6:4 diz que nasce de questões e contendas de palavras motivadas pela soberba. Os evangelhos (Mt 27:18; Mc 15:10) nos informam usando esse termo que foi por inveja que os líderes religiosos entregaram Jesus a Pôncio Pilatos. Em Fl 1:15 o termo é contrastado com “boa vontade”.
O que se pode concluir do uso bíblico de phthonos é que refere-se a um “sentimento de desgosto produzido por testemunhar ou ouvir falar da vantagem ou prosperidade de alguém” (Vine). E devido a esse sentido sempre negativo, jamais é utilizado em referência a Deus ou ao Espírito Santo, e se em Tg 4:5 o sujeito é Deus ou o Espírito Santo, trata-se de uma excepcionalidade e tanto.
O texto citado por Tiago
É impossível identificar com certeza qual passagem Tiago tinha em mente. Alguns acreditam que que ele não se referia a nenhuma passagem específica, mas fazia um resumo do ensino do Antigo Testamento. Porém a fórmula de introdução que usa, “a escritura diz” parece requerer uma citação direta. Vejamos algumas das possíveis passagens, sem pretender esgotar as alternativas.
Algumas passagens dizem que Deus é zeloso. Êxodo 20:5 diz que “eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso” e noutra parte “o nome do SENHOR é Zeloso; é um Deus zeloso” (Ex 34:14). Esse zelo divino é primeiramente voltado para a Sua glória, mas também por aqueles que lhe pertencem: “Zelei por Sião com grande zelo, e com grande indignação zelei por ela” (Zc 8:2). Esse zelo faz de Deus um fogo consumidor “o SENHOR teu Deus é um fogo que consome, um Deus zeloso” (Dt 4:24). Porém uma informação deve ser dada aqui. O termo hebraico usado nessas passagens, e em outras correlatas, quando citadas no Novo Testamento ou traduzidas na Septuaginta, é semprezelos e nunca phthonos.
Uma passagem contraposta a essas é Gn 4:7: “Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”. O que dizem que essa é a passagem que Tiago tinha em mente advogam que ciúme não tem a ver com o zelo divino, e sim com desejos pecaminosos dos homens. Nesse caso, espírito é usado em contraposição ao Espírito Santo. “Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam” (Gl 5:17). Outras passagens poderiam ser sugeridas (Gn 6:3; Is 63:8–16; Ez 36:17; Zc 1:14; 8:2-3), mas infelizmente não ajudam a elucidar a questão.
O sujeito da oração
Tendo levantado as questões anteriores, podemos nos voltar para a discussão da identidade do espírito. Faremos isso considerando quem é o sujeito na oração. As possibilidades são Deus, o Espírito Santo, o espírito do homem e o espírito maligno.
Até onde pude constar a única tradução que se aproxima (a conclusão é questão de interpretação) de um espírito maligno aqui é o Novo Testamento Judaico: “Ou vocês supõem que a Escritura fala em vão ao dizer que há um espírito em nós que deseja intensamente?”. Yiechiel Lichstenstein, citado no Comentário Judaico do Novo Testamento, diz “Em minha opinião, o espírito aqui se refere não a Deus, mas a Satanás”. Ele busca apoio no verso 7, que diz “resisti ao Diabo e ele fugirá de vós” e recorre a Gn 4:7 afirmando que “o espírito maligno é o impulso maligno em nós”, apoiando essa interpretação de Gênesis no Tamulde (Bava Batra 16a): “Ele é Satanás, o impulso maligno”.
Algumas traduções colocam Deus como sujeito e o Espírito (Santo ou humano) como o objeto do ciúme. Um exemplo é a Bíblia de Jerusalém: “Ele reclama com ciúme o espírito que pôs dentro de nós?”, seguida pela Fácil de Ler: “Deus quer que o espírito que colocou em nós viva somente para Ele”. Uma vez aceita essa tradução, resta saber a identidade do Espírito. Algumas versões trazem a expressão “que ele fez habitar em nós” (vamos passar ao largo da discussão sobre os manuscritos usados nas traduções). É uma expressão comum para se referir ao Espírito Santo e inédita em referência ao espírito humano. Nesse caso, é mais provável que espírito seja uma referência ao Espírito Santo.
Parece-me que a maioria das traduções colocam o Espírito Santo como sujeito. A Almeida Revista e Atualizada representam bem esse grupo de traduções e versões: “É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós”. Porém, nem todas afirmam positivamente que o Espírito tem ciúmes, mas colocam a questão na forma interrogativa, que alguns entendem ser uma pergunta retórica, que pede um não como resposta, como sugere a nota da Almeida Revista e Corrigida Anotada: “Porventura o espirito que em nós habita, cobiça para inveja?”.
Finalmente, há a possibilidade de que espírito se refira ao espírito humano. A NTLH parece indicar isso: “O espírito que Deus pôs em nós está cheio de desejos violentos”. Apesar de grafar Espírito, com maiúscula, a Almeida Revista e Atualizada, também pode ser entendida assim. “O Espírito que em nós habita tem ciúmes”. E se “que fez habitar em nós” for admitido como possível para o espírito humano, outras traduções podem ser consideradas como apresentando o espírito humano como aquele que tem ciúmes.
Minha posição
Pela complexidade da passagem, qualquer posição deve ser considerada provisória e sujeita a revisão. Portanto, não pretendo ser dogmático. Mas considerando que ciúme/inveja é tomado sempre num mau sentido na Bíblia e jamais utilizado tendo Deus ou o Espírito Santo como sujeitos, acho muito improvável que a divindade seja representada como tendo ciúmes (lembrando que zelo é uma tradução sui generis aqui). Além disso, o verso seguinte estabelece um contraste, dizendo “Antes, dá maior graça” (Tg 4:6). Portanto, creio que como em todo o Novo Testamento, aqui também ciúme tenha uma conotação má, incompatível com o caráter de Deus. Assim, vejo duas possibilidades: ou a sentença é interrogativa e retórica (“o Espírito tem ciúme? Não”) ou o espírito referido é o humano, tomado de paixões carnais. Das duas, fico com a primeira, mas considero a segunda também consistente com o contexto e com o restante da Bíblia.
Soli Deo Gloria
Fonte:
http://www.dicionarioinformal.com.br/zeloso/
http://bereianos.blogspot.com.br/2012/07/ciume-e-biblia-consideracoes-teoricas-e.html#.U0C_sfldX4w
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ftono
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