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sexta-feira, 14 de junho de 2013

490-LIVROS APÓCRIFOS E SUA HISTÓRIA




APÓCRIFOS SAIBA UM POUCO DE SUA HISTÓRIA

LIVROS APÓCRIFOS SAIBA UM POUCO DE SUA HISTÓRIA
Os livros aceitos por alguns — Apócrifos
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O âmbito mais crucial de desacordo a respeito do cânon do Antigo Testamento entre os cristãos é o debate sobre os chamados livros apócrifos.
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Em suma: esses livros são aceitos pelo católicos romanos como canônicos e rejeitados por protestantes e judeus. Na realidade, os sentidos da palavra apocrypha refletem o problema que se manifesta nas duas concepções de sua canonicidade. No grego clássico, a palavra apocrypha significava “oculto” ou “difícil de entender”. Posteriormente, tomou o sentido de esotérico, ou algo que só os iniciados podem entender, não os de fora. Pela época de Irineu e de Jerônimo (séculos III e IV), o termo apocrypha veio a ser aplicado aos livros não-canônicos do Antigo Testamento, mesmo aos que foram classificados previamente como “pseudepígrafos”. Desde a era da Reforma, essa palavra tem sido usada para denotar os escritos judaicos não-canônicos originários do período intertestamentário. A questão diante de nós é a seguinte: verificar se os livros eram escondidos a fim de ser preservados, porque sua mensagem era profunda e espiritual ou porque eram espúrios e de confiabilidade duvidosa.
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Natureza e número dos apócrifos do Antigo Testamento
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Há quinze livros chamados apócrifos (catorze se a Epístola de Jeremias se unir a Baruque, como ocorre nas versões católicas de Douai). Com exceção de 2 Esdras, esses livros preenchem a lacuna existente entre Malaquias e Mateus e compreendem especificamente dois ou três séculos antes de Cristo. Na página seguinte se podem ver suas datas e classificação:
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Argumentos em prol da aceitação dos apócrifos do Antigo Testamento
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Os livros apócrifos do Antigo Testamento têm recebido diferentes graus de aceitação pelos cristãos. A maior parte dos protestantes e dos judeus aceita que tenham valor religioso e mesmo histórico, sem terem, contudo, autoridade canônica. Os católicos romanos desde o Concilio de Trento têm aceito esses livros como canônicos. Mais recentemente, os católicos romanos têm defendido a idéia de uma deuterocanonicidade, mas os livros apócrifos ainda são usados para dar apoio a doutrinas extrabíblicas, tendo lido proclamados como livros de inspiração divina no Concilio de Trento. Outros grupos, como os anglicanos e várias igrejas ortodoxas, nutrem deferentes concepções a respeito dos livros apócrifos. A seguir apresentamos Um resumo dos argumentos que em geral são aduzidos para a aceitação desses livros, na crença de que detêm algum tipo de canonicidade:
1.Alusões no Novo Testamento.
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O Novo Testamento reflete o pensamento i registra alguns acontecimentos dos apócrifos. Por exemplo, o livro de Hebreus fala de mulheres que receberam seus mortos pela ressurreição Hb 11,35), e faz referência a 2 Macabeus 7 e 12, Os chamados apócrifos ou pseudepígrafos são também citados em sua amplitude pelo Novo Testamento (Jd 14,15; 2Tm 3.8).
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2.Emprego que o Novo Testamento faz da versão dos Septuaginta.
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A tradução grega do Antigo Testamento hebraico, em Alexandria, é conhecida como Septuaginta (lxx). É a versão mais citada pelos autores do Novo Testamento e pelos cristãos primitivos. A lxx continha os livros apócrifos. A presença desses livros na lxx dá apoio ao cânon alexandrino, mais amplo, do Antigo Testamento, em oposição ao cânon palestino, mais reduzido, que os omite.
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3.Os mais antigos manuscritos completos da Bíblia.
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Os mais antigos manuscritos gregos da Bíblia contêm os livros apócrifos inseridos entre os livros do Antigo Testamento. Os manuscritos Aleph, A e b (v. Cap. 12) incluem esses livros, revelando que faziam parte da Bíblia cristã original.
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4. A arte cristã primitiva.
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Alguns dos registros mais antigos da arte cristã refletem o uso dos apócrifos. As representações nas catacumbas às vezes se baseavam na história dos fiéis registrada no período intertestamentário.
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Tabela de livros apócrifos
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1. Sabedora de Salomão (c. 30 a.C.)
2. Eclesiástico (Siraque) (132 a.C.)
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O livro da sabedoria
Eclesiástico
Religioso
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3. Tobias (c. 200 a.C.)
Tobias
Romance
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4. Judite (c. 150 a.C.)
Judite
Histórico
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5. 1Esdras (c. 150-100 a.C.)
6. 1Macabeus (c. 110 a.C.)
7. 2Macabeus (c. 110-70 a.C.)
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3Esdras *
1Macabeus
2Macabeus
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Profético
8. Baruque (c. 150-50 a.C.)
9. Epístola de Jeremias (c. 300-100 a.C.)
10. 2Esdras (c. 100 a.C.)
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Baruque 1-5
Baruque 6
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4Esdras **
Lendário
11. Adições a Ester (140-110 a.C.)
12. Oração de Azarias (séculos I ou II a.C.) (Cântico dos três jovens)
13. Susana (século I ou II a.C.)
14. Bel e o Dragão (c. 100 a.C.)
15. Oração de Manassés (século I ou II a.C.)
Ester 10:4 – 16:24
Daniel 3:24-90 **
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Daniel 13 **
Daniel 14 **
Oração de Manassés *
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5. Os primeiros pais da igreja.
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Alguns dos mais antigos pais da igreja, de modo particular os do Ocidente, aceitaram e usaram os livros apócrifos em seu ensino e pregação. E até mesmo no Oriente, Clemente de Alexandria reconheceu 2 Esdras como inteiramente canônico. Orígenes acrescentou Macabeus bem como a Epístola de Jeremias à lista de livros bíblicos canônicos. Irineu mencionava O livro da sabedoria, e outros pais da igreja citavam outros livros apócrifos.
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6. A influência de Agostinho.
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Agostinho (c. 354-430) elevou a tradição ocidental mais aberta, a respeito dos livros apócrifos, ao seu apogeu, ao atribuir-lhes categoria canônica. Ele influenciou os concílios da igreja, em Hipo (393 d.C.) e em Cartago (397 d.C), que relacionaram os apócrifos como canônicos. A partir de então, a igreja ocidental passou a usar os apócrifos em seu culto público.
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7. O Concilio de Trento.
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Em 1546, o concilio católico romano do pós-Reforma, realizado em Trento, proclamou os livros apócrifos como canônicos, declarando o seguinte:
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O sínodo [...] recebe e venera [...] todos os livros, tanto do Antigo Testamento como do Novo [incluindo-se os apócrifos] — entendendo que um único Deus é o Autor de ambos os testamentos [...] como se houvessem sido ditados pela boca do próprio Cristo, ou pelo Espírito Santo [...] se alguém não receber tais livros como sagrados e canônicos, em todas as suas partes, da forma em que têm sido usados e lidos na Igreja Católica [...] seja anátema.[1]
Desde esse concilio de Trento, os livros apócrifos foram considerados canônicos, detentores de autoridade espiritual para a Igreja Católica Romana.
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8. Uso não-católico.
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As Bíblias protestantes desde a Reforma com freqüência continham os livros apócrifos. Na verdade, nas igrejas anglicanas os apócrifos são lidos regularmente nos cultos públicos, ao lado dos demais livros do Antigo e do Novo Testamento. Os apócrifos são também usados pelas igrejas de tradição ortodoxa oriental.
9. A comunidade do mar Morto.
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Os livros apócrifos foram encontrados entre os rolos da comunidade do mar Morto, em Qumran. Alguns haviam sido escritos em hebraico, o que seria indício de terem sido usados por judeus palestinos antes da época de Jesus.
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Resumindo todos esses argumentos, essa postura afirma que o amplo emprego dos livros apócrifos por parte dos cristãos, desde os tempos mais primitivos, é evidência de sua aceitação pelo povo de Deus. Essa longa tradição culminou no reconhecimento oficial desses livros, no Concílio de Trento (1546), como se tivessem sido inspirados por Deus. Mesmo não-católicos, até o presente momento, conferem aos livros apócrifos uma categoria de paracanônicos, o que se deduz do lugar que lhes dão em suas Bíblias e em suas igrejas.
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Razões por que se rejeita a canonicidade dos apócrifos
Os oponentes dos livros apócrifos têm apresentado muitas razões para excluí-los do rol de livros canônicos. Seus argumentos serão apresentados na mesma ordem dos argumentos levantados pelos que advogam a aceitação de um cânon maior.
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1.A autoridade do Novo Testamento.
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O Novo Testamento jamais cita um livro apócrifo indicando-o como inspirado. As alusões a tais livros não lhes emprestam autoridade, assim como as alusões neotestamentárias a poetas pagãos não lhes conferem inspiração divina. Além disso, desde que o Novo Testamento faz citações de quase todos os livros canônicos do Antigo e atesta o conteúdo e os limites desse Testamento (omitindo os apócrifos — v. cap. 7), parece estar claro que o Novo Testamento indubitavelmente exclui os apócrifos do cânon hebraico. Josefo, o historiador judeu, rejeita expressamente os apócrifos, relacionando apenas 22 livros canônicos.
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2. A tradução dos Septuaginta.
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A Palestina é que era o lar do cânon judaico, jamais a Alexandria, no Egito. O grande centro grego do saber, no Egito, não tinha autoridade para saber com precisão que livros pertenciam ao Antigo Testamento judaico. Alexandria era o lugar da tradução, não da canonização. O fato de a Septuaginta conter os apócrifos apenas comprova que os judeus alexandrinos traduziram os demais livros religiosos judaicos do período intertestamentário ao lado dos livros canônicos. Filo, o judeu alexandrino, rejeitou com toda a clareza a canonicidade dos apócrifos, no tempo de Cristo, assim como o judaísmo oficial em outros lugares e épocas. De fato, as cópias existentes da lxx datam do século IV d.C. e não comprovam que livros haviam sido incluídos na lxx de épocas (interiores,
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3. A Bíblia cristã primitiva.
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Os mais antigos manuscritos gregos da Bíblia datam do século IV. Seguem a tradição da LXX, que contém os apócrifos. Como foi observado acima, era uma tradução grega, e não o cânon hebraico. Jesus e os escritores do Novo Testamento quase sempre fizeram citações da lxx, mas jamais mencionaram um livro sequer dentre os apócrifos. No máximo, a presença dos apócrifos nas Bíblias cristãs do século IV mostra que tais livros eram aceitos até certo ponto por alguns cristãos, naquela época. Isso não significa que os judeus ou os cristãos como um todo aceitaram esses livros como canônicos, isso sem mencionarmos a igreja universal, que nunca os teve na relação de livros canônicos.
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4. A arte cristã primitiva.
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As representações artísticas não constituem base para apurar a canonicidade dos apócrifos. As representações pintadas nas catacumbas, extraídas de livros apócrifos, apenas mostram que os crentes daquela era estavam cientes dos acontecimentos do período intertestamentário e os consideravam parte de sua herança religiosa. A arte cristã primitiva não decide nem resolve a questão da canonicidade dos apócrifos.
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5. Os primeiros pais da igreja.
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Muitos dos grandes pais da igreja em seu começo, dos quais Melito, Orígenes, Cirilo de Jerusalém e Atanásio, depuseram contra os apócrifos. Nenhum dos primeiros pais de envergadura da igreja, anteriores a Agostinho, aceitou todos os livros apócrifos canonizados em Trento.
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6. O cânon de Agostinho.
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O testemunho de Agostinho não é definitivo, nem isento de equívocos. Primeiramente, Agostinho às vezes faz supor que os apócrifos apenas tinham uma deuterocanonicidade (Cidade de Deus, 18,36), e não canonicidade absoluta. Além disso, os Concílios de Hipo e de Cartago foram pequenos concílios locais, influenciados por Agostinho e pela tradição da Septuaginta grega. Nenhum estudioso hebreu qualificado esteve presente em nenhum desses dois concílios. O especialista hebreu mais qualificado da época, Jerônimo, argumentou fortemente contra Agostinho, ao rejeitar a canocidade dos apócrifos. Jerônimo chegou a recusar-se a traduzir os apócrifos para o latim, ou mesmo incluí-los em suas versões em latim vulgar (Vulgata latina). Só depois da morte de Jerônimo e praticamente por cima de seu cadáver, é que os livros apócrifos foram incorporados à Vulgata latina (v. cap. 18).
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7. O Concilio de Trento.
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A ação do Concilio de Trento foi ao mesmo tempo polêmica e prejudicial. Em debates com Lutero, os católicos romanos haviam citado Macabeus, em apoio à oração pelos mortos (v. 2Macabeus 12.45,46). Lutero e os protestantes que o seguiam desafiaram a canonicidade desse livro, citando o Novo Testamento, os primeiros pais da igreja e os mestres judeus, em apoio. O Concilio de Trento reagiu a Lutero canonizando os livros apócrifos. A ação do Concilio não foi apenas patentemente polêmica, foi também prejudicial, visto que nem todos os catorze (quinze) livros apócrifos foram aceitos pelo Concilio. Primeiro e Segundo Esdras (3 e 4Esdras dos católicos romanos; a versão de Douai denomina 1 e 2Esdras, respectivamente, os livros canônicos de Esdras e Neemias) e a Oração de Manasses foram rejeitados. A rejeição de 2Esdras é particularmente suspeita, porque contém um versículo muito forte contra a oração pelos mortos (2Esdras 7.105). Aliás, algum escriba medieval havia cortado essa seção dos manuscritos latinos de 2Esdras, sendo conhecida pelos manuscritos árabes, até ser reencontrada outra vez em latim por Robert L. Bentley, em 1874, numa biblioteca de Amiens, na França.
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Essa decisão, em Trento, não refletiu uma anuência universal, indisputável, dentro da Igreja Católica e na Reforma. Nessa exata época o cardeal Cajetan, que se opusera a Lutero em Augsburgo, em 1518, publicou Comentário sobre todos os livros históricos fidedignos do Antigo Testamento, em 1532, omitindo os apócrifos. Antes ainda desse fato, o cardeal Ximenes havia feito distinção entre os apócrifos e o cânon do Antigo Testamento, em sua obra Poliglota complutense (1514-1517). Tendo em mente essa concepção, os protestantes em geral rejeitaram a decisão do Concilio de Trento, que não tivera base sólida.
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8.Uso não-católico.
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O uso dos livros apócrifos entre igrejas ortodoxas, anglicanas e protestantes foi desigual e diferenciado. Algumas os usam no culto público. Muitas Bíblias contêm traduções dos livros apócrifos, ainda que colocados numa seção à parte, em geral entre o Antigo e o Novo Testamento. Ainda que não-católicos façam uso dos livros apócrifos, nunca lhes deram a mesma autoridade canônica do resto da Bíblia. Os não-católicos usam os apócrifos em seus devocionais, mais do que na afirmação doutrinária.
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9. Os rolos do mar Morto.
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Muitos livros não-canônicos foram descobertos em Qumran, dentre os quais comentários e manuais. Era uma biblioteca que continha numerosos livros não tidos como inspirados pela comunidade. Visto que na biblioteca de Qumran não se descobriram comentários nem citações autorizadas sobre os livros apócrifos, não existam evidências de que eram tidos como inspirados. Podemos presumir, portanto que aquela comunidade cristã não considerava os apócrifos canônicos. Ainda que se encontrassem evidências em contrário, o fato de esse grupo ser uma seita que se separara do judaísmo oficial mostraria ser natural que não fosse ortodoxo em todas as suas crenças. Tanto quanto podemos distinguir, contudo, esse grupo era ortodoxo quanto à canonicidade do Antigo Testamento. Em outras palavras, não aceitavam a canonicidade dos livros apócrifos.
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Resumo e conclusão
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O cânon do Antigo Testamento até a época de Neemias compreendia 22 (ou 24) livros em hebraico, que, nas Bíblias dos cristãos, seriam 39, como já se verificara por volta do século IV a.C. As objeções de menor monta a partir dessa época não mudaram o conteúdo do cânon. Foram nu livros chamados apócrifos, escritos depois dessa época, que obtiveram grande circulação entre os cristãos, por causa da influência da tradução grega de Alexandria. Visto que alguns dos primeiros pais da igreja, de modo especial no Ocidente, mencionaram esses livros em seus escritos, a igreja (em grande parte por influência de Agostinho) deu-lhes uso mais amplo e eclesiástico. No entanto, até a época da Reforma esses livros não eram considerados canônicos. A canonização que receberam no Concilio de Trento não recebeu o apoio da história. A decisão desse concilio foi polêmica e eivada de preconceito, como já o demonstramos.
Que os livros apócrifos, seja qual for o valor devocional ou eclesiástico que tiverem, não são canônicos, comprova-se pelos seguintes fatos:
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1. A comunidade judaica jamais os aceitou como canônicos.
2. Não foram aceitos por Jesus, nem pelos autores do Novo Testamento.
3. A maior parte dos primeiros grandes pais da igreja rejeitou sua Canonicidade.
4. Nenhum concilio da igreja os considerou canônicos senão no final do século IV.
5. Jerônimo, o grande especialista bíblico e tradutor da Vulgata, rejeitou fortemente os livros apócrifos.
6. Muitos estudiosos católicos romanos, ainda ao longo da Reforma, rejeitaram os livros apócrifos.
7. Nenhuma igreja ortodoxa grega, anglicana ou protestante, até a premente data, reconheceu os apócrifos como inspirados e canônicos, no sentido integral dessas palavras. À vista desses fatos importantíssimos, torna-se absolutamente necessário que os cristãos de hoje jamais usem os livros apócrifos como se foram Palavra de Deus, nem os citem em apoio autorizado a qualquer doutrina cristã.
Com efeito, quando examinados segundo os critérios elevados de canonicidade, estabelecidos e discutidos no capítulo 6, verificamos que aos livros apócrifos falta o seguinte:
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1.Os apócrifos não reivindicam ser proféticos.
2.Não detêm a autoridade de Deus.
3.Contêm erros históricos (v. Tobias 1.3-5 e 14.11) e graves heresias teológicas, como a oração pelos mortos (2Macabeus 12.45[46]; 4).
4. Embora seu conteúdo tenha algum valor para a edificação nos momentos devocionais, na maior parte se trata de texto repetitivo; são textos que já se encontram nos livros canônicos.
5. Há evidente ausência de profecia, o que não ocorre nos livros canônicos. Os apócrifos nada acrescentam ao nosso conhecimento das verdades messiânicas.
7. O povo de Deus, a quem os apócrifos teriam sido originariamente apresentados, recusou-os terminantemente.
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A comunidade judaica nunca mudou de opinião a respeito dos livros apócrifos. Alguns cristãos têm sido menos rígidos e categóricos; mas, seja qual for o valor que se lhes atribui, fica evidente que a igreja como um todo nunca aceitou os livros apócrifos como Escrituras Sagradas.
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Fonte de pesquisa: Norman L. Geisler William E. Nix – Introdução Bíblica, Págs. 93-102 .
* Livros não aceitos como canônicos no Concilio de Trento, em 1546.
** Livros não relacionados no sumário de Douai por estarem apensos a outros livros.
[1]
Philip Schaff, org., The creads of Christendom, 6a, ed. rev., New York, Harper, 1919/ p. 81, v. 2.
VIA: http://gilbertotheiss.blogspot.com/2009/03/curiosidades-sobre-os-apocrifos.html
http://www.idagospel.com 


Os Livros Apócrifos


Desde que o homem iniciou o processo de escrita daquilo que por Deus era ordenado, houve a necessidade de se distinguir entre o que era escrito por inspiração divina e o que era escrito meramente por vontade humana. O Espírito de Deus agia de modo a que a pessoa que estava escrevendo tivesse clara noção de que o que ela escrevia era texto autoritativo, ou seja, que estava falando em nome de Deus, logo o que era escrito, era Palavra de Deus. Da mesma forma aqueles que estavam com esta pessoa, também tinham esta noção, proveniente da mesma origem: O Espírito Santo de Deus.
Cânon
“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (II Timóteo 3:16 ACF1).
Ao conjunto dos livros que foram reconhecidos como tendo sido escritos desta forma, damos o nome de cânon bíblico. A palavra cânon é proveniente da palavra grega kanwn, que significa cana, junco, bastão ou vareta. Desta forma significando algo que deve estar reto ou ser mantido reto, e assim algo que mede ou que pode ser medido. O termo veio a ser aplicado às Escrituras, para denotar que elas continham a regra autoritativa de fé e prática, o padrão de doutrina e dever2. Parece ter sido Atanásio (séc. IV) o primeiro a tratar a palavra com este sentido. São, portanto chamados de canônicos os livros que foram inspirados por Deus, os quais compõem as Escrituras Sagradas.
Apócrifo
A palavra “apócrifo” tem origem na palavra grega apokrufov que significa, segundo o léxico de Liddell e Scott, algo “escondido”, “secreto”, “obscuro”, “de difícil compreensão”, e é aplicada a textos que têm sua autenticidade incerta ou a escritos cuja autoria é desconhecida ou questionada.
Tanto na teologia judaica quando na cristã, o termo “apócrifo” se refere a qualquer porção de texto pretensamente escriturística, mas que não correspondendo à regra estabelecida para a determinação de um livro como canônico, ficou fora do cânon oficial, sendo considerada, portanto, como um texto cujo conteúdo é espúrio ou falseado, não devendo ser levado em consideração na formação de quaisquer ensinos doutrinários, ou no estabelecimento de quaisquer práticas eclesiásticas.
Uso atual dos apócrifos
Mesmo havendo, em geral, um consenso sobre este assunto entre o povo de Deus, desde tempos remotos, a sociedade em geral não tem este conceito plenamente solidificado, ou claramente compreendido, como conseqüência disto sempre houve escritos seculares que tentam tratar os livros apócrifos como tendo o mesmo grau de autoridade que um texto canônico, ou como tendo ainda maior autoridade, ocorrência esta que tem crescido em quantidade e em vigor nos últimos tempos, como acontece, por exemplo, com o livro (e filme) intitulado “O Código DaVinci” de Dan Brown, o qual baseia muito de sua argumentação em textos apócrifos.
E pior, criou-se, por força do grande misticismo pós-moderno, uma “corrida” aos apócrifos (inclusive por alguns estudiosos cristãos). São pessoas que equivocadamente supõem haver nos livros apócrifos alguma nova “revelação” ou “informação pertinente”. Contudo, esta busca é algo extremamente perigoso, uma vez que confiar em informações prestadas por um livro que desde os primórdios do cristianismo foi considerado como sendo falso e espúrio é, para dizer pouco, um ato de grande insensatez. Quem confia no que diz uma testemunha que, sabidamente, ao longo do tempo tem mentido e enganado? Ela pode em algum momento até dizer uma verdade, mas como saber? Como se ter certeza? Lembremo-nos da fábula do menino e do lobo! Em verdade, não é possível ter-se confiança naquilo que diz um livro apócrifo. Sua leitura pode, até certo ponto (DIANTE DE EXTREMA CAUTELA), ser ilustrativa em alguns aspectos, mas, nunca deve ser tomada como tendo autoridade, ou verdade reservada, ou revelação. Deve-se ter absoluto cuidado para não se ter a fé abalada por quaisquer informações encontradas nestes livros. Muitos deles foram escritos exatamente com este objetivo em mente, qual seja, enfraquecer ou abalar a fé dos leitores na Santa Palavra de Deus.
A Questão da Septuaginta
A Septuaginta é uma tradução de alguns livros do hebraico para o grego. Foram traduzidos todos os livros canônicos da Bíblia hebraica, entretanto, com grandes diferenças em relação ao texto aceito por judeus e cristãos como canônico. Também estão traduzidos vários outros livros espúrios, ou apócrifos. A tradução da Septuaginta está envolta em lendas, entre as quais a mais famosa é a de que foi escrita por 72 sábios eruditos judeus (?), sendo 6 de cada tribo de Israel (?). Segundo a lenda ela teria sido escrita para compor o rol de livros da biblioteca de Alexandria, um populoso centro urbano, que à época (segundo ou terceiro século antes de Cristo, segundo esta mesma lenda), já era o centro mundial da intelectualidade helenística e pagã.
A esta tradução, que supostamente foi terminada ainda durante o reinado do macedônio Ptolomeu II Philadelphus (de 281 a.C. a 246 a.C.) foi dado o título de LXX3, em algarismos romanos (?), significando o número setenta.4 É importante notar que não há qualquer confirmação para esta lenda, a qual se baseia em um único documento chamado “Carta de Aristeas”, documento este que está crivado de dados claramente fictícios e mitológicos, o que faz com que este escrito também conste da lista de livros apócrifos do Antigo Testamento.
Não há qualquer registro de um documento bíblico em grego, como tendo sido escrito em 250 a.C. Bem como, não há qualquer registro na história judaica de que tal esforço de tantos eruditos hebreus, que tivessem à época também conhecimento pleno do grego, e que tivessem se deslocado para Alexandria de modo a realizar tão grande tarefa. Algo assim teria sido, com certeza, digno de nota. Lembrando também que as dez tribos do norte estavam (como hoje ainda estão) perdidas, sem que se possa discernir sequer onde cada uma está, quanto mais selecionar-se 6 eruditos de cada uma delas, que conhecessem profundamente o hebraico e também o grego!
Os defensores desta lenda, quando pressionados a mostrar provas concretas de sua veracidade, apontam para a Hexapla de Orígenes (do 3º século depois de Cristo), contudo, deste trabalho pouco resta para se analisar, e entendendo-se a quinta coluna desta obra como sendo o texto original da Septuaginta veríamos vários livros apócrifos incluídos, livros estes que se tivessem sido traduzidos pelos supostos 72 sábios hebreus, o teriam sido antes mesmo de serem escritos, pois a data destes livros é claramente posterior à suposta tradução dos setenta. Pode-se concluir que se a quinta coluna realmente segue os manuscritos da Septuaginta, então ou ela foi uma tradução realizada pelo próprio Orígenes ou é de qualquer forma um trabalho posterior à alegada data da tradução da LXX.
Eusébio e Filo afirmaram que apenas o Pentateuco em grego existia à época de Jesus, e não todo o Antigo Testamento. Na verdade, encontramos hoje somente o papiro de Ryland # 458 contendo os capítulos de 23 a 28 de Deuteronômio. Mas, como este papiro é datado de 150 a.C. podemos concluir que provavelmente havia razão para que Eusébio e Filo afirmassem a existência do Pentateuco em grego à época de Jesus. Entretanto, mesmo sendo este o caso, como parece ser, dificilmente tal documento teria qualquer influência fora do seu habitat, ou seja, Alexandria e outras localidades onde o grego era a língua dominante, e teria menos influência ainda, ou melhor, não encontraria qualquer guarida, em Israel, junto a fariseus e zelotes que lutavam com todas as forças para manter sua religião e suas tradições intocadas. Este argumento é reforçado pelos achados de Qumram, a partir dos quais se conclui que o hebraico era língua conhecida e corrente à época do Senhor Jesus Cristo. Seja como for, as evidências de uma completa LXX existente e em uso à época de Jesus Cristo, são poucas e não conclusivas.
O mais provável é que uma tradução de todo o Antigo Testamento (ou uma revisão de um texto já existente??) do hebraico para o grego tenha sido concluída posteriormente (no decorrer do segundo século), usando inclusive como base o texto de passagens do Novo Testamento em grego para completar e facilitar a tradução dos versos do Antigo Testamento citados pelo Novo Testamento.
Nós podemos ver este fato claramente ilustrado no caso de Romanos 3:10-18, onde:
  • 3:10-12 é citação do Salmo 14:1-3 ou Salmo 53:1-3
  • 3:13 é citação de Salmo 5:9 e Salmo 140:3
  • 3:14 é citação do Salmo 10:7
  • 3:15-17 é citação de Isaías 59:7-8
  • 3:18 é citação do Salmo 36:1
Na Septuaginta, os versos de Romanos 3:13-18 estão anexados ao final do verso 3 do Salmo 14 (acrescentando ao seu conteúdo original), e em seqüência, verso a verso, palavra por palavra, tal qual foram citados pelo apóstolo Paulo em Romanos. Neste exemplo podemos perceber com clareza que não é o Novo Testamento que cita a Septuaginta, mas sim, é a Septuaginta que cita o Novo Testamento, até porque não há um só manuscrito em hebraico que traga uma leitura sequer semelhante à da Septuaginta no Salmo 14:3, nem tampouco se encontra esta leitura em traduções antigas da Palavra de Deus como a Peshitta (antiga tradução para o siríaco).
Jerônimo, após ter comparado os manuscritos da Septuaginta com manuscritos em hebraico, afirma:
“Seria tedioso agora enumerar, as muitas adições e omissões que a Septuaginta fez, e todas as passagens que nas cópias das igrejas estão marcadas com cruzes e asteriscos [N.T.: símbolos que indicavam palavras que apareciam no grego e não no hebraico e vice-versa]. Os judeus geralmente riem quando ouvem nossa versão desta passagem de Isaías: ‘Bendito é aquele que tem sementes em Sião e servos em Jerusalém [Isaías 31:9].’ Em Amós também … Mas como nós devemos lidar com os originais em Hebraico nos quais estas passagens e outras como estas estão omitidas, passagens tão numerosas que reproduzi-las irá requerer livros sem conta?” – [Carta LVII de Jerônimo].
Diante de todos os fatos, é possível afirmar, com boa dose de certeza, que a Septuaginta é um texto posterior (com exceção feita ao Pentateuco), e é, em geral, não confiável, e que assim o foi desde o princípio. Não devendo, portanto, em momento algum, ser tomada como autoridade escriturística.
Livros Deuterocanônicos
O termo deuterocanônico foi primeiramente usado por Sixto de Siena em 1566, para descrever textos do Antigo Testamento, antes considerados apócrifos, mas que a igreja católica romana havia canonizado durante o Concílio de Trento (que ocorreu entre 13/dez/1545 e 04/dez/1563), colocando-os em uma segunda lista de canonização. Este fato lhes dá o nome: deuterocanônicos (segundo cânon). Estas porções de texto foram incluídas juntamente com os textos sagrados, sendo que a igreja católica romana não faz qualquer distinção entre os textos apócrifos (agora deuterocanônicos) e os textos verdadeiramente canônicos. Os escritos que se enquadram neste cânon secundário são: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, I e II Macabeus, e partes de Daniel e de Ester. Há que se destacar que os textos deuterocanônicos não são aceitos como canônicos nem pelos judeus, nem pelos protestantes.
Livros “Anagignoskomena”
A Septuaginta (tratada acima), cujo exemplar mais antigo data do século IV d.C. contém vários livros que não estão presentes na Bíblia hebraica. Estes livros apesar de serem apócrifos na correta acepção da palavra, são chamados de “anagignoskomena” por serem livros “reconhecidos” ou “publicados” (neste caso pela Septuaginta), mesmo que isto seja um contraditório com o fato de serem apócrifos, ou seja, de serem livros não reconhecidos pelo povo de Deus sob a ação do Espírito Santo.
Livros Pseudo-epígrafes (Pseudepígrafes)
Tecnicamente um livro pseudo-epígrafe é um texto em estilo bíblico que se atribui um autor que não o escreveu. Há um outro uso para a palavra (apesar de não ser completamente preciso), onde se atribui o título de pseudo-epígrafe a livros apócrifos que não fazem parte de nenhuma impressão da Bíblia, opondo-se deste modo aos apócrifos que foram considerados como deuterocanônicos ou “anagignoskomena”.
Apócrifos do Antigo Testamento
Livros Deuterocanônicos:
  • Tobias – Livro que conta a estória de um Judeu reto da tribo de Naftali chamado Tobias enquanto vivia em Nínive, após a deportação das tribos do norte pela Assíria em 721 a.C.
  • Judite – Livro que conta a estória de uma mulher corajosa e bela em sua maturidade, vestida para festa com todas as suas maravilhosas jóias, acompanhada por uma fiel criada, que obtém sucesso em decapitar o general invasor Holofemes.
  • Sabedoria – Livro sapiencial, cujo autor clama ser Salomão. Muitos estudiosos atribuem sua autoria a algum judeu alexandrino, pois suas idéias são claramente gregas, mais especificamente, se enquadram no pensamento helenístico alexandrino.
  • Eclesiástico – Sua autoria é atribuída a alguém chamado Jesus, filho de Sirach. As suposições para a sua data de escrita variam enormemente indo de 247 a.C. a 132 a.C. O livro é formado por reflexões pessoais do autor, e teria sido transcrito por seu neto.
  • Baruque – Livro é atribuído a Baruque, o escrivão de Jeremias, e foi pretensamente escrito na Babilônia. Traz confissões de pecados, clamor por misericórdia, uma exaltação à sabedoria, uma mensagem aos cativos, e uma carta pretensamente escrita por Jeremias, a qual o próprio Jerônimo, teólogo católico romano, chamou de pseudo-epígrafe (texto escrito por um autor que diz ser outra pessoa).
  • I Macabeus – Livro histórico que narra o período de aproximadamente um século após a conquista da Judéia pelos gregos sob o comando de Alexandre o Grande. Sem data ou autor definidos, nem no livro, nem em escritos antigos de outros autores. Provavelmente foi escrito entre os últimos anos do 2º século a.C. e antes de 63 a.C.
  • II Macabeus – Livro que narra a revolta dos judeus contra Antíoco e conclui com a derrota do general sírio Nicanor em 161 a.C. por Judas Macabeus. É uma sinopse composta por um autor desconhecido de um trabalho maior, normalmente atribuído a Jason de Cirene, do qual muito pouco se sabe, exceto pela inferência de que teria vivido em Israel, supõe-se que não tenha sido escrito antes de 124 a.C.
  • Adições a Daniel – Textos em grego, incluídos junto aos textos originais em hebraico. São os versos 24-90 do capítulo 3 (oração dos jovens na fornalha), e os capítulos 13 (relato de Suzana) e 14 (a farsa do dragão).
  • Adições a Ester – Textos em grego, incluídos junto aos textos originais em hebraico. Há adições aos capítulos 1, 3, 4, 5, 8, 9 e 10.
Livros Anagignoskomena:
Todos os livros que depois foram considerados como deuterocanônicos também fazem parte dos anagignoskomena. E além destes temos:
  • III Macabeus – O livro na verdade não tem nada a ver com os Macabeus ou com sua revolta contra o imperialismo grego, como acontece com I e II Macabeus. III Macabeus conta a estória da perseguição dos judeus sob o reinado de Ptolomeu IV. Provavelmente o título do livro vem da similaridade de sua estória com a estória narrada em II Macabeus. Mas, seu conteúdo é claramente ficcional.
  • IV Macabeus – Este livro é na verdade uma homilia louvando a supremacia religiosidade sobre as paixões, e para tanto faz uso de muitos pensamentos de origem pagã. Também relata vários diálogos de mártires que diferem substancialmente dos mesmos diálogos encontrados em II Macabeus.
  • I Esdras – Sua autoria é desconhecida, e a data de escrita somente pode ser suposta em um período de tempo extremamente longo, algo como um período entre 300 a.C. e 100 d.C. Este livro em sua maior parte segue um paralelo da narrativa contida em Esdras, Neemias e no livro de II Crônicas, sendo que algumas seções são traduções diretas destes livros. O nome de I Esdras vem do fato de que o livro canônico de Esdras é conhecido na igreja ortodoxa grega como a primeira metade de II Esdras (a segunda metade é Neemias). Contudo, na igreja ortodoxa russa o livro de II Esdras se refere ao I Esdras da Septuaginta. Já no catolicismo romano o livro de Neemias é às vezes chamado de II Esdras. Como pode ser visto, a confusão é grande quanto à nomenclatura deste livro e dos livros canônicos, quando se tenta incluí-lo entre eles.
    Odes – Sua autoria e data de escrita são desconhecidos. É um livro que está na Septuaginta logo após o Salmo 151. Como o nome indica é um livro de canções que em grande parte repete canções encontradas em outros livros da Bíblia, como as canções de Moisés (Êxodo 15:1-19, Deuteronômio 32:1-43), a oração de Ana, mãe de Samuel (I Samuel 2:1-10), inclui também orações e canções encontradas em outros livros apócrifos, como a oração dos três jovens (complemento deuterocanônico de Daniel). Mas, o mais interessante é o livro incluir orações que são encontradas no Novo Testamento, como o Magnificat de Maria (Lucas 1:46-55) e o cântico de Zacarias (Lucas 1:68-79). Algo realmente fantástico para um livro do Antigo Testamento (Já que alguns defendem que a Septuaginta foi inteiramente traduzida e reconhecida antes de Cristo).
  • Oração de Manassés – É um curto escrito de 15 versos que relata uma oração de penitência do rei Manassés de Judá enquanto esteve preso pelos assírios. O rei Manassés é registrado pela Bíblia como sendo um dos reis mais idólatras de Judá em todos os tempos (II Reis 21:1-18), mas quando foi tomado cativo pelos assírios, se arrepende e clama misericórdia a Deus (II Crônicas 33:10-17). Este livro pretende reproduzir a oração de Manassés a Deus neste momento.
  • Salmo 151 – Este é um salmo curto, atribuído ao rei Davi, somente encontrado na Septuaginta. Apesar de recentemente terem sido encontrados dois manuscritos, nas cavernas de Qumram, que dão base hebraica para este salmo, ele continua sendo considerado como apócrifo, exceto pela igreja ortodoxa grega que o tem como canônico.
Livros Pseudo-epígrafes (Pseudepígrafes)
  • Ahicar ou Haiquar – Segundo o livro ele foi um sábio Assírio conhecido por sua grande sabedoria. O livro também conhecido como “As palavras de Ahicar” foi encontrado em um papiro aramaico de aproximadamente 500 a.C. Ahicar profere durante a narrativa várias palavras de sabedoria para seu sobrinho, como sendo de sua autoria. Mas, de fato, elas são muito similares a partes do livro de Provérbios e algumas outras a partes do livro apócrifo de Eclesiástico.
  • Apocalipse de Abraão – É um apocalipse de origem hebraica que foi provavelmente escrito entre 80 e 100 d.C. É somente encontrado em uma tradução para o eslovaco antigo. O primeiro terço do livro narra a conversão de Abrão do politeísmo ao monoteísmo, sendo seguido então do texto apocalíptico. Esta parte do livro se inicia com Abraão sacrificando a Deus (Gênesis 15:7-16), mas ao invés de serem aves de rapina que desciam sobre o sacrifício, este texto diz ter sido o anjo Azazel. Este nome aparece na Bíblia primeiramente em Levítico 16:8, onde é traduzido como “o bode emissário”. No livro apócrifo de I Enoque Azazel é descrito como um anjo caído do grupo dos “vigilantes”, e está diretamente associado ao inferno. Seguindo a narrativa apocalíptica o anjo Laoel guia Abraão e este aprende várias canções de louvor a Deus e vê Azazel ser condenado ao mundo inferior. Abraão é então levado ao templo de Jerusalém onde vê este ser usado para idolatria resultando na sua destruição por estrangeiros. Mas, o Templo é por fim apresentado como tendo sido reconstruído em data posterior.
  • Apocalipse de Elias – Este é um trabalho anônimo que se apresenta como uma revelação dada por um anjo. O seu título vem do fato deste livro citar o nome de Elias por duas vezes. O livro se divide em cinco partes:
  1. Trata da questão do jejum e da oração.
  2. Uma profecia sobre os Assírios.
  3. Referencia a futura chegada do filho da iniqüidade, o qual é descrito em detalhes.
  4. Referencia o martírio de Elias e Enoque (baseado na morte das duas testemunhas conforme registrado no livro canônico do Apocalipse de João), o martírio de Tabita (Atos 9:36-42), e de mais sessenta outros homens.
  5. Referencia a destruição do filho da iniqüidade após o último julgamento.
  • Apocalipse de Esdras – É um texto que reclama ter sido escrito por Esdras, mas que certamente foi escrito muito tempo depois, a sua datação é bem controversa, indo desde o 2º século d.C. até o 9º século d.C. O seu texto se baseia fortemente em outro apócrifo mais antigo conhecido como II Esdras (IV Esdras na vulgata ou III Esdras para os ortodoxos russos). O texto mostra o autor tendo visões do céu e do inferno, onde as punições a que são submetidos os pecadores são descritas em detalhe.
  • Apocalipse de Sidraque – Também conhecido como Palavra de Sidraque, é um texto apócrifo antigo, mas de datação incerta. Seu título provém da forma grega do nome de Sadraque, um dos três que foram levados vivos à fornalha ardente pelo rei Nabucodonosor. O texto descreve como Sadraque foi levado à presença de Deus, por Jesus Cristo em pessoa. Mas, mesmo que o texto se mostre superficialmente Cristão, ele é derivado de um texto judeu mais antigo, onde o nome de um arcanjo foi substituído pelo nome de Jesus.
  • Apocalipse de Sofonias – Este livro reclama ter sido escrito por Sofonias (o profeta), sua narrativa consiste de Sofonias sendo levado a visitar o céu e o inferno. Em sua visão do inferno Sofonias teria visto dois anjos gigantes, sendo que um deles é apresentado como sendo Eremiel, e é o guardião das almas. O outro dá a Sofonias um rolo contendo uma lista de todos os seus pecados, mas um segundo rolo é apresentado e Sofonias é julgado inocente e é transformado em um anjo.
  • Apócrifo de Ezequiel – É um livro escrito no estilo do Antigo Testamento e contém revelações que teriam sido dadas a Ezequiel. Hoje sobrevivem apenas alguns fragmentos em citações de Epifânio, Clemente de Roma e Clemente de Alexandria, e o Papiro Chester Beatty # 185. É provável que tenha sido escrito entre 50 a.C. e 50 d.C.
  • Ascensão de Isaías – Este apócrifo é datado do 2º século d.C. e foi compilado por um estudioso Cristão do qual nada se sabe. O texto tem três partes distintas, sendo que a primeira parece ter sido escrita por um autor judeu e as outras duas por autores cristãos. A primeira parte, normalmente chamada de o Martírio de Isaías, repete e expande os eventos descritos em II Reis 20. No meio desta narrativa foi inserido um apocalipse cristão conhecido como o Testamento de Ezequias. A segunda parte do livro se refere à Visão de Isaías e sua jornada assistido por um anjo.
  • Assunção de Moisés – É um escrito de origem judaica, com data e autoria incertas. É encontrado apenas em um manuscrito do século VI em latim. Traz uma breve descrição da história judaica até aproximadamente o 1º século d.C. O texto com aproximadamente vinte capítulos revela as profecias secretas reveladas por Moisés a Josué no final de sua vida.
  • II Baruque – Também conhecido como o Apocalipse siríaco de Baruque, é datado do final do 1º século ou início do 2º d.C. após a queda de Jerusalém em 70 d.C. Este trabalho (contrariando Jeremias que afirma ser Baruque um escriba) apresenta Baruque como um profeta e bastante superior a Jeremias. É um misto de oração, lamentação e visões, com um estilo de escrita próximo ao usado no livro canônico de Jeremias. Trata especialmente da sobrevivência do povo judeu, mesmo após a destruição do Templo.
  • III Baruque – Também conhecido como o Apocalipse grego de Baruque, é datado do final do 1º século ou início do 2º d.C. após a queda de Jerusalém em 70 d.C. Este texto tal qual II Baruque também trata da sobrevivência do povo judeu após a destruição do Templo, argumentando que o Templo está preservado no céu e é apresentado como estando completamente funcional lá, sendo mantido por anjos, não havendo, portanto qualquer necessidade de reconstruí-lo aqui na terra. Neste texto Baruque é apresentado a vários “céus”, onde testemunha a punição dos construtores da torre de Babel, e da serpente do Jardim do Éden até que finalmente chega ao portão do quinto céu, o qual somente o arcanjo Miguel é capaz de abrir.
  • IV Baruque – É também conhecido como as Omissões de Jeremias (Paraleipomena de Jeremias) quando combinado com a Epístola de Jeremias. É considerado apócrifo por todas as denominações Cristãs exceto a Igreja Ortodoxa Etíope. Sendo um pseudo-epígrafe significa que Baruque não o escreveu. O texto está severamente editado, sendo difícil definir quando cada parte foi escrita. Baruque é apresentado neste texto como sendo um intermediário entre Jeremias e Deus, e não somente um escriba. Advoga a xenofobia, o divórcio de esposas estrangeiras, e o exílio daqueles que não se divorciarem. Deste modo, os que não se divorciaram são retratados como sendo os ancestrais dos samaritanos.
  • Conflito de Adão e Eva com Satanás – É um texto Cristão encontrado em etíope e árabe, provavelmente do 5º século d.C. Descreve os acontecimentos que se seguiram à expulsão do Jardim do Éden e segue até o testamento e o translado de Enoque.
  • Livro de Enoque – Este é um título dado a um conjunto de livros que se atribuem a Enoque, o bisavô de Noé (Gênesis 5:18-24). Normalmente o título “Livro de Enoque” se refere a I Enoque, que existe inteiro somente em uma tradução em língua etíope. Há outros dois livros chamados Enoque, II Enoque que existe somente em eslovaco antigo, e III Enoque que existe somente em hebraico. O livro é dividido em cinco partes distintas:
  1. O livro dos Vigilantes (I Enoque 1-36).
  2. O livro das Parábolas (I Enoque 37-71), também conhecido como as Comparações de Enoque.
  3. O livro dos Luminares Celestes (I Enoque 72-82), também conhecido como livro dos Luminares ou Livro Astronômico.
  4. As Visões de Sonhos (I Enoque 83-90), também chamado de o livro dos Sonhos.
  5. A Epístola de Enoque (I Enoque 91-108).
A passagem de I Enoque 1:9 é citada em Judas 14-15. Devido a este fato, muitos dos primeiros pais da Igreja consideraram este livro como sendo canônico, entre eles Justino Mártir, Irineu, Orígenes, Clemente de Alexandria e Tertuliano. Contudo, a Igreja como um todo negou a canonicidade deste livro. E isto gerou inclusive problemas para a aceitação da carta de Judas, por citar um livro apócrifo. No fim o entendimento foi de que a citação de I Enoque 1:9 em Judas foi canonizada pela ação do Espírito Santo ao permiti-la no Texto Sagrado.
Este texto foi datado como sendo do período dos Macabeus (aproximadamente 160 a.C.).
  • II Enoque – Também conhecido como Os Segredos de Enoque é um texto de origem judia com data e autoria incertas. Ele sobrevive apenas em uma cópia em eslovaco antigo, texto este que certamente foi traduzido a partir de uma cópia em grego. O livro trata da jornada de Enoque através de dez céus até se encontrar com Deus, seguido por uma discussão sobre a criação do mundo, e as instruções de Deus para Enoque para que retornasse à Terra e disseminasse o que aprendera de Deus. Ao final Enoque é levado de volta ao céu e é transformado no anjo Metatron. Neste ponto o texto passa a tratar das histórias de Matusalém, Nir (irmão mais novo de Noé), e Melquisedeque.
  • III Enoque – Existe somente em hebraico, sendo datado do 5º o 6º século d.C. o livro clama ter sido escrito pelo rabi Ismael que se tornou sumo sacerdote após ter visões do céu. O livro se inicia com o relato da Ascensão de Ismael (1-2), em seguida mostra Ismael encontrando-se com o Enoque (3-16), e uma descrição das moradas celestiais (17-40), termina apresentando as maravilhas celestes (41-48).
  • História dos Recabitas – História dos descendentes de Recabe (II Samuel 4:2ss), vivendo em uma ilha liderados por Jonadabe (filho de Recabe). O livro lembra muito os escritos mitológicos gregos, mostrando particularmente similaridades com os contos de Terapeuta.
  • Carta de Aristeas – É uma falsificação de origem heleno-judaica atribuída a um certo Aristeas que a teria escrito para Filócrates, descrevendo uma tradução para o grego das leis judaicas por setenta e dois tradutores enviados ao Egito de Jerusalém a pedido da biblioteca de Alexandria, o que teria resultado na tradução conhecida como Septuaginta. Em 1684, Humphrey Hody publicou o documento “Contra historiam Aristeae de LXX, interpretibus dissertario”, no qual mostrou que a assim chamada “Carta de Aristeas” era uma falsificação tardia produzida por um judeu helenizante, originalmente distribuída para atribuir autoridade à versão LXX. Esta dissertação é normalmente tida como conclusiva.
  • Vida de Adão e Eva – Este escrito de origem judaica foi originalmente escrito provavelmente em torno de 70 a.C. A estória trata dos acontecimentos imediatamente posteriores à expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden e continua até a morte de Adão e depois de Eva. O livro também apresenta uma visão da queda da raça humana do ponto de vista de Eva.
  • Salmos de Salomão – É um conjunto de dezoito salmos apócrifos atribuídos a Salomão, mas que provavelmente foram escritos por um fariseu da Judéia por volta do período da tomada de Jerusalém por Pompeu em 63 d.C. São modelados de modo semelhante aos salmos encontrados na Bíblia. E os salmos 17 e 18 são semelhantes ao Salmo 72 do livro de Salmos.
  • Pseudo-Filo – Texto em latim, chamado desta forma por estar normalmente anexado ao trabalho de Filo de Alexandria, mas claramente, não sendo um trabalho de Filo. Nesta obra o templo de Jerusalém é dito como ainda existindo, o que poderia indicar uma data de composição anterior a 70 d.C.
  • Testamento de Abraão, de Isaque e de Jacó – É um trio de trabalhos peculiares, apesar de não haver indícios de que fossem originalmente uma única obra. Em seus estilos lembram a bênção de Jacó encontrada em Gênesis 49:1-27. Os Testamentos foram originalmente compilados provavelmente no final do segundo século d.C. por um judeu cristão desconhecido, o de Abraão narra a relutância dele em morrer e como a morte pessoalmente lhe veio e o enganou para que morresse. O Testamento de Isaque está carregado de temas cristãos, apesar de se entender que estes temas foram acrescentados ao trabalho originalmente judeu. Relata que um anjo o leva ao céu, onde vê a tortura dos pecadores antes de se encontrar com o falecido Abraão. Isaque, não estando ainda morto é instruído por Abraão a voltar e escrever seu testamento, o que faz antes de morrer definitivamente. O Testamento de Jacó se inicia com Jacó sendo visitado pelo arcanjo Miguel e avisado de sua morte iminente. Neste testamento são os anjos que Jacó encontra que pregam a mensagem central.
  • Testamento dos Doze Patriarcas – Este livro apócrifo traz os últimos desejos dos doze filhos de Jacó. É considerado como literatura apocalíptica judaica. Os testamentos foram escritos em hebraico, provavelmente no final do 2º século a.C. ou início do 1º, sendo que estudos recentes apontam para uma data entre 135 e 63 a.C. Tudo indica que teve um único autor, provavelmente um fariseu. Mas, sofreu edição posterior e interpolação de material de origem cristã em seu texto original.
  • Visão de Esdras – É texto apócrifo que clama ter sido Esdras seu escritor. Os seus manuscritos mais antigos, compostos em latim, datam do 11º século d.C. O texto tem grande dependência de II Esdras, possui um apocalipse incipiente e retrata Deus respondendo às preces de Esdras, e enviando-lhe sete anjos para lhe mostrar o paraíso.
Apócrifos do Novo Testamento
Praticamente todos os textos apócrifos do Novo Testamento são pseudo-epígrafes, ou seja, são textos que clamam ter sido escritos por alguém que não os escreveu. Dividem-se em várias categorias, como evangelhos da infância, evangelhos judeu-cristãos, evangelhos rivais aos canônicos, visões, cartas, textos gnósticos, etc.
Evangelhos da Infância
A falta de informação sobre a infância de Jesus nos evangelhos canônicos levou os primeiros Cristãos a uma fome por mais detalhes sobre a juventude de Jesus. Esta fome fez com que no 2º século e depois, alguns escrevessem contando lendas sobre este período da vida do Senhor, nenhum deles canônico, mas certamente populares em seu tempo e depois, sendo que ainda hoje vemos reflexos de seu conteúdo na religiosidade popular.
  • Proto-evangelho de Tiago – Também chamado de Evangelho de Tiago, ou Evangelho de Tiago da Infância, foi escrito provavelmente em torno de 150 d.C. O documento se apresenta como tendo sido escrito por Tiago, passando por Tiago o Justo, irmão de Jesus. O livro contém três partes de oito capítulos cada, iniciando-se com a estória do nascimento e infância de Maria e consagração ao templo, a segunda parte conta a crise causada por Maria se tornar mulher e, portanto sua iminente contaminação do templo e a designação de José como seu guardião e os testes de sua virgindade, e por fim relata o nascimento de Jesus em uma caverna, com a visita de parteiras, escondendo Jesus de Herodes o Grande em uma manjedoura, e também o martírio de Zacarias pai de João o Batista durante o massacre das crianças, e como João o Batista e sua mãe foram escondidos de Herodes Antipas nas montanhas.
  • Evangelho de Tomé da Infância – Não deve ser confundido com o Evangelho de Tomé. O autor deste evangelho é desconhecido. A data provável de sua escrita está entre 80 e 185 d.C. e descreve a vida do menino Jesus, com eventos extravagantes sendo alguns deles malévolos. Em um dos episódios Jesus está fazendo pássaros de barro, os quais em seguida ganham vida. Este ato é também atribuído a Jesus no Corão. Em outro episódio uma criança espalha a água que Jesus está juntando. Jesus então amaldiçoa a criança que murcha até morrer.
  • Evangelho do Pseudo-Mateus – Também chamado de Nascimento de Maria e Infância do Salvador, ou de Evangelho de Mateus da Infância. É uma composição em latim do 4º ou 5º século d.C. Este texto tem autoria, mas clama ter sido escrito por Mateus e traduzido por Jerônimo. O seu conteúdo é basicamente uma reprodução editada do Proto-evangelho de Tiago, seguida da fuga para o Egito, e de uma reprodução editada do Evangelho de Tomé da Infância. É nele que primeiramente se menciona um boi e um burro como estando presentes no nascimento de Jesus.
  • Evangelho Arábico da Infância – Foi compilado, provavelmente, no 6º século d.C. e se baseia no Evangelho de Tomé da Infância e no Proto-evangelho de Tiago. Consiste de três partes: O nascimento de Jesus, os milagres durante a fuga para o Egito e os milagres de Jesus como menino. Partes da narrativa deste evangelho, especialmente a segunda parte (os milagres no Egito), também podem ser encontrados no Corão.
  • Outros evangelhos da Infância – A Vida de João o Batista, supostamente escrito pelo bispo Serapião em 390 d.C. e A História de José o Carpinteiro, provavelmente composto no 5º século d.C. no Egito.
Evangelhos Judeu-Cristãos
Alguns grupos dentre os primeiros Cristãos mantinham uma forte submissão ao judaísmo, especialmente à lei mosaica, os quais o apóstolo Paulo chamou de judaizantes, acabaram por criar evangelhos segundo suas próprias crenças.
A maior parte destes escritos sobrevive apenas como comentários críticos produzidos por pessoas da cristandade paulina, que eram Cristãos que seguiam os ensinos do apóstolo Paulo, também tratados em I Coríntios 1:12 e 3:4 como “os que são de Paulo”.
  • Evangelho dos Hebreus – Este evangelho, composto em hebraico, está perdido exceto por algumas citações de Epifânio, um escriba da igreja que viveu no final do 4º século d.C. Este evangelho era também conhecido por Jerônimo, que afirma em um de seus escritos que o estava traduzindo para o grego. Sua data e autoria são desconhecidas, apesar de alguns o atribuírem ao próprio Mateus.
    Em geral, segue o conteúdo do Evangelho canônico de Mateus, mas com algumas divergências importantes. Um dos pontos de maior distinção é que ele referencia o Espírito Santo como sendo a mãe de Jesus, coloca Tiago, o Justo, como cabeça da igreja de Jerusalém, e se concentra em exortar para uma estrita obediência à lei judaica. Também altera a oração do Senhor, substituindo o “pão nosso de cada dia”, por “pão para amanhã”. Epifânio, em seu trabalho afirma: Eles dizem que Cristo não foi o primogênito de Deus o Pai, mas criado como um dos arcanjos… que ele domina sobre os anjos e sobre todas as criaturas do Todo-Poderoso, e que ele veio e declarou em seu Evangelho, o qual é chamado Evangelho segundo Mateus, ou Evangelho segundo Mateus aos Hebreus, dizendo: “Eu vim para fazer com que cessem os sacrifícios, e se vós não cessardes com os sacrifícios, a ira de Deus sobre vós não cessará”.
  • Evangelho dos Nazarenos – Aparentemente deriva do Evangelho dos Hebreus, com poucas diferenças. Quanto à data e local de escrita há muita controvérsia, mas como Clemente usou o livro no final do 2º século, ele é certamente mais antigo que isto. O local de escrita mais cotado é Alexandria no Egito.
  • Evangelho do Ebionitas – Este evangelho tem grande afinidade com o Evangelho dos Hebreus e com o dos Nazarenos. Como os outros dois ele também somente sobrevive em pequenos fragmentos encontrados em citações de autores dos primeiros séculos. Epifânio ressalta algumas diferenças entre o Evangelho dos Ebionitas e o Evangelho dos Nazarenos. Segundo ele os Nazarenos eram considerados como parte da cristandade ortodoxa, enquanto o Ebionitas eram considerados hereges, especialmente por rejeitarem o nascimento virginal de Jesus. Neste evangelho Jesus aparece como sendo vegetariano, e somente no batismo recebe sua “parte divina”.
Evangelhos rivais dos Evangelhos canônicos
Muitas versões alternativas, grandemente editadas, de evangelhos existiram durante os primórdios do Cristianismo. Estas alterações normalmente serviam para dar suporte a alguma visão religiosa particular, em geral, considerada herética pela igreja primitiva.
  • Evangelho de Marcion – Também conhecido como Evangelho do Senhor foi um texto usado em meados do segundo século por Marcion excluindo os outros evangelhos. Este evangelho sobrevive apenas em citações de seus críticos, contudo é possível através destas citações se reconstruir praticamente todo o seu texto original. Este evangelho se baseia no Evangelho canônico de Lucas, tendo sido editado para se acomodar à teologia de Marcion, por exemplo, os dois primeiros capítulos de Lucas, sobre o nascimento de Jesus e o início em Cafarnaum foram eliminados e foram feitas modificações no restante para acomodar o Marcionismo, por exemplo, em Lucas 10:21 temos “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra”, em Marcion se lê: “Graças dou, Pai, Senhor do céu”, destacando a visão gnóstica de que a terra é má, logo, Deus não é seu Senhor.
  • Evangelho de Mani – Este evangelho escrito por Mani, um persa que viveu no 3º século d.C. Ele tentou fazer uma síntese das correntes religiosas de sua época: cristianismo, zoroastrismo e budismo, produzindo com isto um novo evangelho. O texto se parece mais com um comentário dos evangelhos do que uma nova testemunha. Mani, afirma ser profeta e apóstolo, como em: “Eu, Mani, o Apóstolo de Jesus o Amigo, pela vontade do Pai, o verdadeiro Deus, por quem comecei…”.
Evangelhos de Logia (ou de dizeres, frases e parábolas curtas)
  • Evangelho de Tomé – Não deve ser confundido com o Evangelho de Tomé da Infância. Este é um evangelho gnóstico que foi encontrado em 1945 nas cavernas de Nag Hammadi, em um manuscrito copta. Diferentemente dos evangelhos canônicos, este não traz uma narrativa conectada aos dizeres atribuídos a Jesus. É apenas uma coleção de dizeres e parábolas que teriam sido proferidos por Jesus, alguns diálogos com o Senhor, e dizeres que alguns dos discípulos teriam reportado a Tomé, chamado Dídimo. A obra consiste de 114 dizeres atribuídos a Jesus, alguns dos quais lembram as falas do Senhor nos evangelhos canônicos. No 4º século, Cirilo de Jerusalém mencionou o Evangelho de Tomé, nos seguintes termos: “Não permita que ninguém leia o evangelho segundo Tomé, porque esta obra, não é de um dos doze apóstolos, mas de um dos três perniciosos discípulos de Mani”. Contudo, os textos em Nag Hammadi são certamente mais antigos que a época de Mani. Os críticos tendem a datar este Evangelho no final do primeiro século.
    Em um de seus ditos (v.70) encontramos Jesus dizendo que a salvação está no interior do ser humano: “Se colocardes para fora o que está em vosso interior, o que tendes vos salvará. Se não o colocardes para fora, o que tendes em vosso interior vos matará”. No v.3, temos: “O Reino de Deus está dentro de vós”. Escritos como este evangelho são certamente a razão para a igreja ter buscado estabelecer de forma oficial o cânon do Novo Testamento. Estabelecendo a crença na morte e na ressurreição do Senhor como o coração da mensagem proclamada pela Igreja desde o seu início no livro de Atos dos Apóstolos.
  • Evangelho de Felipe – É um evangelho gnóstico datado do 2º ou 3º século, de autor desconhecido. Similarmente ao evangelho gnóstico de Tomé este também é um evangelho de dizeres, ou falas atribuídas ao Senhor, algumas das quais lembram as palavras do Senhor encontradas nos evangelhos canônicos. Entre seus ditos encontramos: “Aquele que tem o conhecimento da verdade é um homem livre, mas o homem livre não peca, porque ‘Aquele que peca é escravo do pecado’. A verdade é a mãe, o conhecimento o pai”. E ainda: “Jesus veio para crucificar o mundo”.
Evangelhos Morais
Alguns textos tomaram a forma de discursos sobre a moralidade, e em particular sobre a abstinência sexual, normalmente apresentando um debate entre Jesus e um de seus discípulos, estes são os evangelhos morais.
  • Evangelho dos Egípcios (em Grego) – Não deve ser confundido com o Evangelho dos Egípcios em Copta, que é uma obra completamente diferente. Este evangelho foi escrito provavelmente na primeira metade do 2º século em Alexandria. Ele foi citado por Clemente de Alexandria. Este evangelho toma a forma de uma conversa entre a discípula de Jesus, Salomé (Marcos 15:40) e Jesus, que advoga a causa do celibato, como comenta Cameron: “cada fragmento endossa o ascetismo sexual como meio de quebrar o ciclo letal do nascimento e de superar as diferenças pecaminosas entre o homem e a mulher, permitindo a todas as pessoas retornar ao que foi entendido como seu estado primordial de androgenia” (Cameron 1982).
  • Evangelho de Tomé, o contendor – Ou livro de Tomé o contendor, não deve ser confundido com o Evangelho de Tomé. O evangelho se inicia assim: “As palavras secretas que o salvador disse a Tomé, as quais eu, eu mesmo, Matias, escrevi, enquanto andava ouvindo-os falar um com o outro”. Este escrito foi achado na biblioteca de Nag Hammadi, no deserto egípcio. Alguns consideram que este livro pode ser o Evangelho de Matias, livro este que estava perdido. Nele Jesus trata Tomé como seu próprio irmão gêmeo, e lhe expõe o tema da moralidade, e particularmente da sexualidade. Jesus segue então mostrando como o celibato oferece a rota para a salvação, e como a paixão sexual é um fogo que causa ilusão, e aprisionamento em um estado de luxúria.
Evangelhos da Paixão
São evangelhos que tratam especificamente da questão da morte e da ressurreição de Jesus.
  • Evangelho de Pedro – O evangelho de Pedro é uma narrativa da paixão, que foi bem conhecida no início da história Cristã, mas que desapareceu com o tempo. Hoje é conhecida apenas de ouvir falar, especialmente pela carta de Serapião, bispo de Antioquia de 190 a 203 d.C., referenciada por Eusébio, que afirma o seguinte: “muito dele se enquadra nos corretos ensinos sobre o Salvador, mas algumas partes podem encorajar seus ouvintes a cair na heresia do docetismo”.
  • Atos de Pilatos – Se inclui como um apêndice ao texto medieval em latim chamado Evangelho de Nicodemos. O texto é provavelmente da metade do 4º século, sendo de autoria desconhecida. A primeira parte do livro relata o julgamento de Jesus, com base em Lucas 23 e a segunda trata da ressurreição. Nele, Lúcio e Carino, duas almas ressuscitadas após a crucificação, relatam ao Sinédrio os acontecimentos da descida de Cristo ao Limbo. O episódio do Angustiante Inferno descreve Dimas (nome dado por este manuscrito ao malfeitor crucificado com Jesus e que recebeu Dele o perdão) acompanhando Cristo no Inferno, e a libertação dos patriarcas do Antigo Testamento que eram justos.
  • Evangelho de Bartolomeu – As primeiras referências a este texto foram feitas por Jerônimo e recentemente foram descobertos alguns fragmentos de manuscritos em copta contendo o texto. Este texto contém as visões de Bartolomeu, e os atos de Tomé, mas é predominantemente um texto sobre a paixão e a eucaristia. O texto começa com a crucificação de Jesus, e então passa à ida de Jesus ao inferno, onde encontra com Judas e prega para ele. Jesus resgata todos os que estão no inferno, exceto Judas, Caim e Herodes o Grande. Bartolomeu está presente à cena, e é depois levado ao mais alto nível do céu, de modo a poder ver a liturgia (católica) indo celebrar a ressurreição.
  • Questões de Bartolomeu – Não deve ser confundido com o Evangelho de Bartolomeu. O texto sobrevive em cópias em grego, latim e eslovaco antigo, mesmo que cada cópia varie grandemente da outra. O texto apresenta Jesus respondendo aos seus discípulos algumas perguntas formuladas por Bartolomeu. O texto se atém fortemente ao misticismo judaico (tal qual o Livro de Enoque), buscando dar explicações para os aspectos sobrenaturais do Cristianismo. O livro mostra como Jesus desceu ao inferno, por suas próprias palavras, trata da imaculada concepção de Maria, e finalmente, Bartolomeu pede para ver Satanás, e então um coro de anjos arrasta Satanás acorrentado do inferno, mas vê-lo faz com que os apóstolos morram. Jesus então imediatamente os ressuscita e dá a Bartolomeu o controle sobre Satanás. O texto também afirma que a queda do homem foi causada por Eva ter tido relações sexuais com Satanás.
Atos dos Apóstolos de Leucius
São textos que tratam da vida dos apóstolos após a ressurreição de Jesus. Todos atribuídos a Leucius Charinus supostamente um discípulo de João o apóstolo, e que se uniu a este em oposição aos Ebionitas.
  • Atos de João – É uma coleção de narrativas e tradições do 2º século d.C. inspirada no evangelho canônico de João. Alguns atribuem sua autoria a Prócoro, um dos diáconos selecionados em Atos 6. Este livro apresenta duas viagens de João a Éfeso, cheias de eventos dramáticos, milagres como o colapso do templo de Ártemis, assim como também apresenta João pregando no teatro para convencer os seguidores de Ártemis. Contém também o episódio da última ceia com a “dança de roda da cruz” que teria sido instituída por Jesus, dizendo: “Antes de eu ser entregue a eles, cantemos um hino ao Pai e assim sigamos a ver o que mente diante de nós”, direcionou para que fosse formado um círculo ao redor dele, dando-se as mãos e dançando. Os apóstolos gritaram “Amém” ao hino de Jesus.
  • Atos de Paulo – É um dos maiores textos apócrifos do Novo Testamento. Foi escrito no final do 2º século d.C. O texto era composto de:
  1. Atos de Paulo e Thecla – Neste texto Paulo está viajando a Icônio, proclamando “a palavra de Deus sobre a abstinência, a virgindade e a ressurreição”. Thecla, é uma virgem jovem e nobre, que ouve os discursos de Paulo sobre a virgindade de sua janela na casa ao lado. Seu noivo então leva Paulo ao governador que o prende. Thecla vai à prisão para ouvir Paulo, e é então condenada por estar dando ouvidos à questão da virgindade à morte na fogueira, mas nada lhe acontece pois Deus manda um chuva e terremotos para apagar as chamas. A história segue nestes termos, até que Thecla foge para uma caverna (estando ainda virgem) e mora lá por mais 72 anos. Aos 90 anos um homem tenta corrompê-la, mas Thecla consegue escapar e vai a Roma onde é enterrada com Paulo.
  2. Epístola dos Coríntios a Paulo – Este escrito clama descrever os ensinos de Simão, o mago, incluindo a idéia de que Deus não é Todo-Poderoso, que a ressurreição é falsa, que Cristo não foi Deus verdadeiramente encarnado corporalmente (idéia docetista), que os anjos fizeram o mundo, e que os profetas foram imprecisos.
  3. Terceira Epístola aos Coríntios – Este texto foi posteriormente separado dos Atos de Paulo. O texto escrito por um Pseudo-Paulo (provavelmente um presbítero cristão em 170 d.C.), é uma resposta à Epístola dos Coríntios a Paulo, e é estruturado para tentar corrigir alguns problemas de interpretação nas Epístolas de I e II aos Coríntios. (canônicas). Em particular a epístola tenta corrigir a interpretação da frase: “a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus” (I Co.15:50), pela qual alguns diziam que a ressurreição não seria corporal.
  4. O Martírio de Paulo – Texto que retrata a morte de Paulo nas mãos de Nero.
  • Atos de Pedro – Este texto da segunda metade do 2º século d.C. relata o miraculoso embate entre Pedro e Simão o mago em Roma. Nele Pedro executa milagres como a ressurreição de um peixe defumado, e fazer cachorros falarem. O texto condena Simão, o mago, antiga figura ligada ao gnosticismo. Algumas versões deste texto também fazem referência a uma mulher (ou mulheres) que prefere a paralisia ao sexo. No Códice de Berlin, a mulher é apresentada como a filha de Pedro. Conclui descrevendo o martírio de Pedro, crucificado de cabeça para baixo.
  • Atos de André – É um texto do 3º século d.C. baseado em Atos de João e de Pedro, descreve viagens de André e os milagres que fez durante estas viagens e finalmente uma descrição da forma como supostamente morreu. Como nos outros livros congêneres os milagres são extremamente sobrenaturais, e muito exagerados. Por exemplo, além dos milagres usuais de levantar mortos, curar cegos, e outros, ele sobrevive ao ser jogado aos animais selvagens, acalma tempestades, e derrota exércitos apenas fazendo o sinal da cruz. André também faz com que um embrião resultante de um relacionamento ilegítimo morra. Ao ser crucificado, André ainda é capaz de pregar sermões por três dias.
  • Atos de Tomé – Este texto gnóstico do início do 3º século d.C. é apresentado em uma série de episódios, que ocorrem durante a missão evangelística de Tomé à Índia. Termina com seu martírio no qual ele morre perfurado por lanças porque causou a ira do Rei Misdaeus pela conversão de suas esposas e um parente.
Extratos das Vidas dos Apóstolos
  • Atos de Pedro e André – Este texto não tem uma datação definida, e consiste de uma série de contos curtos de milagres, como quando André cavalga uma nuvem para ir de encontro a Pedro, e Pedro literalmente faz passar um camelo através do buraco de uma agulha. O texto parece ser uma tentativa de continuar os Atos de André e Matias (que faz parte dos Atos de André).
  • Atos de Pedro e os Doze – O texto datado do 2º século, é constituído de uma alegoria inicial, semelhante à descrita no Evangelho de Mateus, do negociante de pérolas (Mateus 13:44ss.) mas que aqui está vendendo uma pérola de grande valor. O negociante é evitado pelos ricos, mas os pobres vão a ele em grande quantidade, e descobrem que a pérola está guardada na cidade natal do negociante, “Nove Portões”, e aqueles que quiserem a pérola deverão empreender a dura viagem até Nove Portões. O nome do negociante é Lithargoel, que traduzido é pérola, ou seja, o próprio negociante é a pérola. Por fim, o negociante se revela como sendo o próprio Jesus.
  • Atos de Pedro e Paulo – Este é um texto tardio, do 4º século, que conta a lenda da viagem de Paulo da ilha de Guadomelete para Roma, apresentando Pedro como sendo irmão de Paulo. Também descreve a morte de Paulo por decapitação, uma antiga tradição da igreja.
  • Atos de Felipe – Este livro é uma fantasia datada do final do 4º século ou início do 5º século d.C. envolvendo milagres e um suposto diálogo que fez Felipe conquistar muitos convertidos. Termina com a crucificação de Felipe em uma cruz invertida.
Epístolas
Há uma série de epístolas não canônicas, mas escritas no formato de epístolas canônicas, muitas das quais (apesar de espúrias) foram bastante consideradas pela igreja primitiva.
  • Epístola de Barnabé – É um apócrifo encontrado no Códice Sinaíticus do 4º século. Não deve ser confundido com o medieval Evangelho de Barnabé. Esta é uma pseudo-epígrafe de autoria desconhecida, provavelmente escrita no início do 2º século. O texto apesar de não ser gnóstico em um sentido heterodoxo, clama a que sua audiência busque um perfeito conhecimento (conhecimento especial). A obra é mais um tratado, ou homilia, que uma epístola. Sua lógica não é das mais primorosas, e sua mensagem não traz novidades. É interessante que a epístola cita o Evangelho de Mateus (canônico) como Escritura, contudo, também cita provavelmente IV Esdras e certamente I Enoque. Em certo ponto parece advogar que o povo Cristão é o único verdadeiro povo da aliança, e que os judeus nunca haviam estado em uma aliança com Deus.
  • I Clemente – É uma carta de autoria incerta, endereçada como sendo da “igreja de Deus que está em Roma para a igreja de Deus que está em Corinto”. Sua datação tradicional está colocada em 96 d.C. A carta é motivada por uma disputa em Corinto, que excluiu do serviço vários presbíteros, mas já que nenhum foi acusado de problemas morais a carta advoga que foram afastados injustamente. A carta cita em profusão o Antigo Testamento, algumas cartas de Paulo e algumas falas do Senhor Jesus, e está incluída no Códice Alexandrinus do 5º século. Apesar de não conter problemas doutrinários, e de ser lida em várias igrejas, jamais atingiu os requisitos canônicos, especialmente por sua autoria desconhecida.
  • II Clemente – Esta homilia foi escrita em Roma em meados do 2º século, sendo uma pseudo-epígrafe que tradicionalmente era atribuída a Clemente de Roma. Suas citações aparentemente derivam do Evangelho dos Egípcios em Grego.
  • Epistola dos Coríntios a Paulo – Já tratada acima como parte dos Atos de Paulo.
  • Epístola aos Laodicenses – Curta epístola encontrada apenas em algumas edições da Vulgata em latim, e em nenhum manuscrito grego. Ela se faz passar pela epístola de Paulo à igreja de Laodicéia mencionada em sua Epístola aos Colossenses (4:16), carta esta perdida, apesar de alguns suporem se tratar da Epístola canônica aos Efésios. É quase que unanimemente considerada uma pseudo-epígrafe, constituindo-se de um pastiche de frases tomadas de epístolas genuínas do apóstolo Paulo.
  • Pseudo-Correspondência entre Paulo e Sêneca, o jovem – Consiste de uma série de oito cartas supostamente enviadas pelo filósofo estóico Sêneca, e seis respostas supostamente enviadas pelo apóstolo Paulo. As cartas foram compostas provavelmente na segunda metade do 4º século e tem autoria desconhecida. Baseiam-se na tradição de que tanto Sêneca quanto Paulo estiveram em um mesmo período na cidade de Roma.
  • III Coríntios – Já tratada acima como parte dos Atos de Paulo.
Apocalipses
  • Apocalipse de Pedro – Não deve ser confundido com o Apocalipse gnóstico de Pedro. Está datado na primeira metade do 2º século, foi considerado canônico por Clemente de Alexandria, mas foi recusado pelo restante da Igreja. Subsiste em apenas dois manuscritos, um em grego e outro e etíope os quais divergem grandemente entre si. O texto tem um estilo literário simples, mas muito apreciado pelos populares em Alexandria. Trata basicamente de uma visão do Céu e do Inferno. Roberts-Donaldson afirma: “O Apocalipse de Pedro mostra impressionante parentesco com a segunda epístola de Pedro… Também apresenta notáveis paralelos com os Oráculos de Sibeline… É uma das fontes do escritor do Apocalipse de Paulo… E direta ou indiretamente este texto pode ser considerado como o pai de todas as visões medievais do outro mundo”.
  • Apocalipse de Paulo – Este texto também é encontrado tendo a Virgem Maria no lugar de Paulo como a pessoa que recebe a revelação. Este texto paralelo é conhecido como o Apocalipse da Virgem. Não deve ser confundido com o Apocalipse gnóstico de Paulo. A narrativa aparenta ser uma elaboração e um rearranjo do Apocalipse de Pedro, inicia-se com um apelo de todas as criaturas contra os pecados da humanidade segue essencialmente descrevendo uma visão do Céu e do Inferno. No final do texto Paulo (ou Maria) consegue persuadir Deus a dar a todos no Inferno um dia de descanso, fora do Inferno, a cada domingo.
  • Apocalipse de Tomé – Aparentemente foi composto originalmente em latim em data desconhecida, trata dos sinais do fim do mundo. Parece ser uma curta interpretação do Apocalipse de João. Apresenta os fatos que acontecerão em uma seqüência de seis dias de tormento antes da vinda de Jesus, e no final do sétimo dia se fará paz e os anjos virão à Terra.
  • Apocalipse de Estevão – Texto com autoria e datação incertas, descreve um conflito sobre a natureza de Jesus de Nazaré. Estevão aparece em cena e reconta o apocalipse como uma verdade literal. A multidão se insurge contra Estevão e o leva perante Pilatos, a quem Estevão ordena que se cale e que reconheça Jesus. O texto conta que Estevão sendo perseguido por Saulo, foi crucificado, mas solto por anjos, depois foi levado ao Sinédrio onde recontou uma suposta profecia de Natã sobre Jesus, e foi julgado e condenado ao apedrejamento. Sendo levado pela multidão iniciou-se o apedrejamento, quando Nicodemos e Gamaliel tentaram impedir o processo e também foram mortos. Após sua morte, Estevão foi enterrado por Pilatos em um caixão de prata. Pilatos então recebe as visões celestiais de Estevão e se converte.
  • I Apocalipse de Tiago – É um texto gnóstico encontrado em Nag Hammadi. A datação e autoria ainda são incertas, mas provavelmente escrito depois do II Apocalipse de Tiago. O texto se apresenta como um diálogo entre Tiago, o justo, irmão de Jesus, e o próprio Jesus. Se inicia tratando do medo de Tiago de ser crucificado, e segue apresentando uma série de senhas dadas por Jesus a Tiago de modo a que ele chegasse até o mais alto dos céus (são 72) após morrer, sem ser bloqueado pelos poderes do mal do demiurgo (segundo os gnósticos o ser que intermediou a criação).
  • II Apocalipse de Tiago – Escrito provavelmente durante o 2º século d.C. esteve perdido até ser reencontrado em Nag Hammadi. O texto é claramente gnóstico, apresentando um beijo na boca que Jesus teria dado em Tiago, metáfora para a passagem da gnose entre duas pessoas (deixa claro que não se trata de um relacionamento homossexual). O texto termina com a horrível morte de Tiago por apedrejamento, provavelmente refletindo uma antiga tradição sobre sua morte.
Livros dos Pais da Igreja
Enquanto a maior parte dos livros tratados até aqui tenham sido considerados heréticos (especialmente aqueles de tradição gnóstica), outros não foram considerados como sendo particularmente heréticos em seu conteúdo, em muitos casos sendo bem aceitos como obras com alguma significância espiritual. Eles, contudo, não foram considerados canônicos, mas pertencem à categoria de escritos dos pais da Igreja.
  • I Clemente – Já citada acima.
  • O Pastor de Hermas – Ou simplesmente “O Pastor”. É uma obra Cristã do 2º século, considerada um livro valioso por muitos Cristãos, tendo sido considerada como canônica por alguns pais da igreja. Alguns atribuem sua autoria a Hermas (Rm.16:14). Mas, há grande controvérsia a este respeito. Trata-se de uma alegoria Cristã consistindo de cinco visões dadas a Hermas, um ex-escravo, seguidas de doze mandamentos, e dez parábolas. Apesar da seriedade dos assuntos tratados, o livro foi escrito em um tom otimista e esperançoso, como muitos dos escritos dos primeiros Cristãos. Tem vários e sérios problemas, especialmente quanto à questão da Trindade, e à noção de que a Igreja é uma instituição necessária à salvação.
  • Didaquê – Antes considerado como perdido, o Didaquê, ou Ensino dos Apóstolos, foi redescoberto em 1883 no Códice Hierosolymitanus de 1053. O texto foi provavelmente escrito já no 1º século, mas tem autoria incerta. O conteúdo pode ser dividido em quatro partes: Os dois caminhos, o caminho da vida e o caminho da morte (1-6), rituais de batismo, jejum e comunhão (7-10), o ministério e como lidar com os ministros itinerantes (11-15) e um breve apocalipse (16). Há no texto, tal qual o recebemos, claros sinais de que foi editado posteriormente para se adequar a certas questões eclesiológicas, como o batismo por aspersão.
Evangelhos Harmônicos
Alguns textos buscaram prover uma harmonização dos evangelhos canônicos, tentando apresentar, de alguma forma, um texto unificado. Entre estes textos o mais conhecido é o Diatessaron:
  • Diatessaron – Escrito por Taciano em 175 d.C. foi a mais proeminente harmonização dos quatro evangelhos, ou seja, o material dos quatro evangelhos escritos de modo a formar uma única narrativa. Somente 56 versos dos Evangelhos canônicos não tiveram uma contrapartida no Diatessaron, sendo que a maior parte das exclusões se deve às duas genealogias de Jesus em Mateus e Lucas, juntamente com o relato sobre a mulher adúltera em João 7:53-8:11. Contudo, a seqüência da narrativa do Diatessaron é substancialmente diferente da encontrada em qualquer dos evangelhos.
Livros Perdidos
Há muitas obras e textos que são mencionados em algumas fontes antigas, mas que nenhuma parte conhecida do texto sobreviveu.
  1. Evangelho de Matias
  2. Evangelho dos Quatro Impérios Celestiais
  3. Evangelho da Perfeição
  4. Evangelho de Eva – Uma citação deste evangelho é dada por Epifânio. É possível que este seja o Evangelho da Perfeição que ele trata em outra parte. A citação mostra que este evangelho era a expressão de um completo panteísmo.
  5. Evangelho dos Doze
  6. Evangelho de Tadeu – Alguns entendem ser este um sinônimo para o Livro de Judas.
  7. Memória Apostólica
  8. Evangelho dos Setenta
  9. Lápide dos Apóstolos
  10. Livro dos feitiços das serpentes
  11. Porção dos Apóstolos
Outros Escritos
Há muitos outros escritos de importância menor, muitos textos gnósticos, e ainda orações, sermões, liturgias e penitências, que não foram citados neste trabalho.
  1. Todos os textos bíblicos citados neste estudo foram extraídos da tradução de João Ferreira de Almeida – Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original (ACF), editada pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, em 1995, exceto quando houver sido especificado em contrário.
  2. Definição baseada na explicação encontrada no Easton Bible Dictionary
  3. L = 50, X = 10, X = 10, formado 70.
  4. Algo realmente surpreendente é não ter sido escolhido o título de LXXII, o que seria, com certeza, mais apropriado à lenda.
Bibliografia
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