Normalmente pensamos que a mitologia greco-romana
está passada, definitivamente enterrada sob as colunas derrubadas dos templos,
a poeira dos séculos e a névoa do esquecimento. Mas isso não é verdade. Nada do
que é lembrado morre de verdade, e nas nossas palavras de uso comum encontramos
citações de nomes de divindades que eram evocadas há milhares de anos. Olhem só:
MOEDA (e derivados: monetário, monetarismo,
moedeiro, etc.) – numa das invasões dos bárbaros à Itália, quando o Império se
estava esfacelando, um grupo deles tentou escalar a parte da muralha de Roma
junto à qual, pelo lado de dentro, se situava um templo dedicado a Juno, a
deusa que era esposa de Júpiter. Os gansos consagrados à deusa, que estavam no
terraço do templo, deram o alarme e os soldados romanos acorreram e afugentaram
o inimigo. Gansos são ótimos vigias, pois fazem um grande estardalhaço na presença
de estranhos.
Agradecidos, os romanos declararam que aquele
templo era dedicado a Juno Moneta, “a Juno que avisa”.
Esta
palavra vem do Latim monere,
“advertir, admoestar, avisar”, e gerou, em Português,premonição (um aviso antes do acontecimento), admoestar (advertir), monitor(aparelho que serve para acompanhar o que acontece;
pessoa que acompanha ou auxilia o ensino; nome de um tipo de navio, a partir do
nome próprio do primeiro do tipo; um tipo de lagarto cuja presença, dizia-se,
avisava da proximidade de crocodilos).
Mais
tarde, nesse templo, se estabeleceu um local onde se cunhavam discos metálicos,
com valor definido, próprios para fazer negócios de compra. Estes receberam um
nome derivado da deusa do templo – ou seja, moneta ou moeda. Em Inglês, mint – derivado daí – é um local onde se fabrica moeda.
Também é uma palavra usada para designar algo em estado de novo, como se fosse
uma moeda recém-feita.
VOTO DE MINERVA – é uma expressão que se refere ao
voto de desempate numa situação indefinida.
Minerva (Atená para os gregos), na mitologia
romana, era a deusa relacionada à sabedoria e à prudência. Era filha de
Júpiter, que a engolira antes de ela nascer, para evitar que se cumprisse uma
previsão nefasta.
A vida era dura naquela época, mesmo para os
deuses.
Nove meses depois de fazer isso, Júpiter começou a
ter uma dor de cabeça terrível. Quando o próprio Pai dos Deuses tem dor de
cabeça, imaginem a intensidade dela…
Para obter alívio, pediu a Vulcano, o deus que
lidava com forjas e que preparava os raios para a prática de tiro-ao-alvo, que
lhe desse uma martelada na cabeça. Vulcano obedeceu prontamente, ainda mais que
não havia esquecido que Júpiter o havia atirado pelos céus abaixo quando era
pequeno (levou dias e dias caindo e ficou manco para sempre). Assestou vigorosa
marretada na divina cabeça.
Para espanto de todos os deuses, saiu dali Minerva,
já vestida para o combate, armada de lança e escudo e dançando uma dança
guerreira. Não admira que aquela dor fosse tão forte!
Imediatamente ela passou a ajudar o pai na luta que
ele vinha sustentando contra os Gigantes, mas isso é uma outra história.
Os antigos, ao fazerem um mito tão cru,
provavelmente estivessem pensando em colocar na deusa as características
associadas à cabeça, como a inteligência, a disciplina, a prudência, a
sabedoria.
E, se ela é uma deusa especialmente prudente e
inteligente, é de esperar que o seu voto, quando solicitado, seja cheio de bom
senso e possa resolver situações de empate entre vários julgadores.
PALÁDIO – não é uma palavra de uso vulgar agora;
designa um elemento químico do grupo da platina, usado em ligas e contatos
elétricos.
Já
que acabamos de falar em Minerva, nos ocorre o nome de sua grande amiga de
juventude,Pallas, que foi
morta por engano pela própria deusa num trágico acidente. Desse dia em diante,
esta adotou o nome da amiga inseparável e passou a ser chamada de Pallas Atená em Grego.
Dizia-se
que uma estátua de madeira de Pallas,
chamada de palladium,
protegeria contra as invasões inimigas as cidades onde se encontrasse.
Várias
cidades tinham o seu palladium.
Inclusive Tróia, que tinha um tão poderoso que evitou por dez anos a vitória
dos gregos. Como muitas cidades dessa época, com palladiumou
não, acabaram sofrendo nas mãos dos inimigos, deduz-se que este não poderia ser
considerado uma defesa infalível.
OPORTUNO
– os romanos tinham um deus chamado Portunus. O
seu nome vinha de portus,
“passagem”, relacionado com “porta”, o ponto de passagem para um aposento. Portus, “porto”,
ficou como a passagem da via aquática para uma cidade.
De ob-, “para, em direção a”, e Portunus se fez opportunus, “o
que empurra para o porto”, ou seja, “vento favorável”.
Metaforicamente, todos nós queremos ou precisamos
de ventos favoráveis. De tal modo, qualquer acontecimento oportuno é bem-vindo.
SANCIONAR
– entre os romanos se adorava um deus muito antigo, Sancus.
Era ele quem tornava invioláveis os juramentos e promessas e que presidia ao
seu cumprimento. Do seu nome se fez o verbo sancire,
“consagrar”. O particípio passado desse verbo era sanctus,
“consagrado, santo, que deve ser respeitado acima de tudo”; obviamente, santo derivou daí. Uma forma alterada, São, é
usada antes de nomes iniciados por consoante.
Quando
era feito um juramento com a invocação de Sancus, o
atendimento a ele era considerado sanctus,
“sagrado”
Uma
lei sancionada é
uma lei que entrou em ação e deverá, portanto, produzir os efeitos nela
descritos.
HERMÉTICO
– Hermes era um deus grego com história e atividades
complexas. Entre os romanos, era conhecido como Mercúrio. Ele protegia os
comerciantes, os ladrões e os médicos.
O caduceu, um bastão com duas serpentes enroladas,
é um atributo de Hermes que até hoje simboliza a Medicina.
O capacete alado, outro de seus atributos, é usado
como símbolo do Comércio. Os caixeiros-viajantes usam as sandálias aladas, mais
uma peça da roupa divina.
Qual seja o símbolo dos ladrões, não sabemos.
Talvez a classe seja desunida ou esteja ocupada demais para se preocupar com o
assunto.
O
deus egípcio Thoth era considerado o inventor da alquimia e recebeu,
de uma corrente filosófica grega, o nome Hermes Trismegistus, “Hermes, o Três Vezes Grande”.
Quando se queria tornar inviolável um frasco com
alguma substância, colocava-se no seu gargalo um selo, muitas vezes de cera,
com o símbolo de Hermes. Onde havia a tecnologia do vidro disponível, uma
ampola desse material tinha o seu gargalo aquecido e comprimido, donde só podia
ser aberta por rompimento.
De
qualquer modo, o frasco a partir daí estava hermeticamente fechado. Fosse pela proteção do deus, fosse porque ficaria
clara a violação, dava certo!
AFRODISÍACO – Em Grego, a deusa do amor era chamada
Afrodite. Na verdade, ela era algo bem mais complicado que isso, com origem
oriental, mas aqui teremos que simplificar um pouco.
Em etimologia
popular, o nome da deusa costuma ser associado a afró,
“espuma”, por ela ter nascido nas espumas do mar. No entanto, isso é um engano.
A verdadeira etimologia do seu nome, como uma deusa oriental da fertilidade, é
desconhecida. Como ela tinha o hipocorístico (apelido por encurtamento do nome) Afró,
fez-se a confusão.
O nome dela passou a ser usado em relação aos
assuntos amorosos. Hoje em dia a palavra “afrodisíaco” é usada apenas com o
significado de algum processo que ajude a manter relações sexuais. Ganha-se
muito dinheiro mundo afora vendendo substâncias e poções com esse
qualificativo. Se funcionam, é outro assunto.
Do
nome latino dela, Venus,
temos mais um derivado relativo a alguns resultados indesejáveis de encontros
físicos. É o adjetivo v
enéreo, que designa as doenças sexualmente transmitidas.
enéreo, que designa as doenças sexualmente transmitidas.
Uma
outra palavra que veio de Venus é vieira, de veneria.
Essa palavra, que constitui também um sobrenome em Portugal, designa um
determinado molusco comestível. A lenda conta que Vênus nasceu do mar sobre uma
concha, que recebeu seu nome a partir da deusa.
Ainda
há mais: o verbo venerar e seus derivados vêm daí, sob a conotação de “amar”. Não
soa irônico chamarmos de venerável uma pessoa que merece todo o respeito e consideração pelos
seus atos ou posição, sabendo que essa palavra veio de uma sensual deusa pagã?
MARCIAL – as artes ditas marciais estão em grande
voga no momento; quase todos os filmes de ação atuais necessitam de um
instrutor do assunto,
Além disso, como todos sabem, este é um adjetivo
que se refere a atividades militares em geral: “porte marcial”, ‘banda
marcial”, ‘atitude marcial”.
Essa
palavra se originou também num deus grego: Mars,
“Marte”, que geria a guerra com todas as suas conseqüências desagradáveis.
Um
deus, aliás, muito ocupado ultimamente. Ele deve andar por aí se divertindo, em
sua biga puxada por dois cavalos furiosos, Medo e Terror (em Grego, Fobos e Deimos). Esse é o nome das duas luas do planeta Marte. Esse
planeta da cor do sangue era associado ao deus muito antes de se desconfiar que
ele tinha dois satélites.
JOVIAL
– um dos nomes de Júpiter, o pai dos deuses, era Jove. Antes de mais nada, vamos esclarecer uma coisa: ele não
era realmente pai da maioria dos deuses. Era assim chamado pela sua posição de
chefia, não pela relação familiar. Eram épocas em que pais eram respeitados…
Segundo
a antiga Astrologia, nascer sob a predominância do planeta Júpiter era um
excelente sinal, pois ele era considerado o mais feliz dos planetas. Ora, quem
entra na vida com tamanho favorecimento só pode andar muito contente por aí.
Logo, as pessoas que estão contentes e sociáveis, de alto astral – como hoje se
diria – são pessoas joviais.
PÂNICO – em eras antigas, a vida era uma farra nas
planícies e montanhas da Grécia. Em tardes de sol se podia ouvir ao longe os
gritinhos da ninfas fingindo que queriam fugir dos faunos, sátiros e o restante
do pessoal desejoso de festa.
Havia um deus, Pã, que presidia aos pastores e seus
rebanhos. Ele tinha o corpo peludo, chifres e patas de bode e mesmo assim era
alegre, até mesmo turbulento. Pelo visto, ele tinha a felicidade de se aceitar
como era.
A
sua energia sexual era interminável; era uma divindade que perturbava as
pessoas quando aparecia, inquietando os espíritos e gerando muito medo pelo
contato com esse aspecto básico da vida. Daí usarmos até hoje a palavra pânico quando nos deparamos com uma situação extremamente
assustadora, perigosa ou ameaçadora.
EROTISMO – esta todo o mundo sabe: entre os gregos,
o amor sexual era personificado num deus menino, alado e travesso, cujas
flechas condenavam as pessoas atingidas a serem consumidas pela paixão.
Analiticamente, a noção de ele ser uma criança é
profunda, pois se espera que, atingida a idade da razão, não ocorram mais
situações deste tipo. Espera-se…
O
nome desse deus, cuja paternidade é atribuída a mais de um casal, era Eros.
Outros tipos de amor tinham denominações diferentes, como philia, “amizade” e agape,
“amor fraterno”.
HIPNÓTICO – este adjetivo, que faz a gente pensar
num sujeito vestido de fraque e cartola, com um bigodinho fino, cara de vilão
antigo e olhos esbugalhados, significa “aquele que faz adormecer”. Pode ser um
discurso muito maçante, pode ser uma medicação para ajudar os insones ou um
coadjuvante do processo anestésico – se ajudar a dormir, é hipnótico.
Esse
nome vem de um deus grego, Hypnos, o
Sono. Ele era irmão gêmeo de Tânatos, a
Morte. Ambos eram filhos de Nyx, a
Noite.
É
uma forma bonita, poética e assustadora de relacionar fatos que apresentam
características em comum. Hypnos tinha asas e percorria a Terra, em geral sob o
manto da mãe, entrando em todos os lugares sem ser convidado e fazendo
adormecer pessoas, animais e até mesmo os deuses.
PLUTOCRACIA – esta palavra não é muito comum fora
dos meios econômicos ou revolucionários hoje em dia. Significa “o governo pelo
dinheiro”, referindo-se a algum país onde os que verdadeiramente mandam, mesmo
através de aparências democráticas, são os ricos. Todos já ouvimos falar nisso,
será que existe mesmo?
O
rei do Hades, o
reino subterrâneo da mitologia grega, era Plutão. O seu nome se liga a um termo
que significa “muito, numeroso, cheio”. Ele era rico, pois o seu reino continha
os minérios dos quais se retirava material precioso, bem como as raízes dos
vegetais que alimentavam a humanidade e seu gado. Além disso, à medida que o
seu reino foi se enchendo de almas, ele passou a ser “rico em hóspedes”. Desta
forma, Plutão passou a ser associado à riqueza e veio a fazer parte de palavras
de uso erudito.
O cão do Mickey, Pluto, deve o seu nome a este
deus. É a forma usada em Inglês.
HERCÚLEO
– este adjetivo vem do Latim Hercules,
que veio do Grego Heraklês. Um esforçohercúleo significa a aplicação de uma força descomunal. Todos sabem
que Hércules era um herói grego, filho de Zeus, muito forte, que andou
realizando muitos feitos famosos, entre os quais os Doze Trabalhos.
O
que é pouco sabido, no entanto, é que Heraklês não era o nome verdadeiro dele, e sim um apelido.
Ao nascer, ele foi chamado de Alcides, pois um antepassado dele se chamava Alceu.Só recebeu o outro nome mais tarde, depois de
completar os Doze Trabalhos, que lhe foram impostos como castigo.pela deusa
Hera; Heraklês significa “aquele que trouxe glória a Hera”.
CEREAL
– vem de Ceres, o
nome latino da deusa grega Deméter. Isto a grosso modo, pois na verdade elas não eram
exatamente a mesma na Grécia e em Roma.
Ceres foi quem ensinou aos mortais como plantar e colher,
dando-lhes, assim, os meios básicos de sobrevivência. A partir disso, os grãos
de modo geral foram chamados de cereal.
CICLÓPICO
– quando se vê alguma coisa colossal, grande, enorme, etc., algumas pessoas
mais cultas poderão aplicar a elas esse adjetivo. Ele deriva não propriamente
de um deus, mas de seres da mitologia grega, os Cíclopes. Em Grego, a palavra é formada de kyklos,
“redondo” e ôps,
“olho”. Eles eram gigantes que tinham um só olho redondo no meio da testa.
Dá para imaginar que, não tendo visão binocular,
eles não poderiam avaliar direito as distâncias. Provavelmente eram muito
desajeitados, deviam viver tropeçando e derrubando coisas.
Na
antigüidade, restos de muralhas feitas de pedras muito grandes eram atribuídas
a eles, de onde o uso da palavra ciclópico.
CRONOLOGIA
– (“definição de datas históricas”) e seus parentes, como cronômetro, cronógrafo, e muitas outras, são relacionadas ao tempo e sua
marcação. A maioria das pessoas dirá:
–
“Hah, essa eu sei! Cronos era o deus do Tempo para os gregos, daí o uso do
seu nome para assuntos correlatos! Quando é que este Site vai dizer alguma
novidade?”
Pois
aqui está a novidade: os gregos nunca tiveram um deus do tempo, e a associação acima não passa de
etimologia popular. Existia, sim, o deus Kronos,
filho do Céu e da Terra, portanto pertencente à primeira geração de deuses.
Simplificando
muito: ele matou o seu pai, que temia ser destronado por um dos filhos. Depois
casou com Réia e se tornou pior ainda do que o pai, tratando também de destruir
os filhos (pudera, com um modelo desses!). Um deles, Zeus,
conseguiu dominá-lo
e passou a comandar o Olimpo.
e passou a comandar o Olimpo.
Depois
pai e filho se acertaram e Kronos acabou reinando sobre a Ilha dos Bem-Aventurados,
onde se mostrou bom e justo. Às vezes as brigas dentro de uma família dão
certo, se as partes se mostrarem maduras.
A
única ligação de Kronos
com o tempo é que, por ter reinado em passado muito, muito distante, dizer “no
tempo de Kronos” significava um tempo enorme atrás.
Mas
então por que a confusão? Porque em Grego, Chronos era a palavra usada para “tempo”, e nada tinha a
ver com o nome do deus. A palavra começava com a letra chi,
que tem um som semelhante ao CH alemão, ao passo que o nome do deus começava
com a letra kappa. O
som da letra chi não existe na maioria dos idiomas derivados do
Latim, e não há como representá-lo adequadamente nessas línguas. Havendo
diferença apenas na letra inicial, instalou-se toda uma história inverídica a respeito
desta etimologia.
O Lado Pagão das
Festas Cristãs
Festas Cristãs
.
Os povos antigos faziam rituais
mágico religiosos para controlar certos fatores que poderiam representar
reveses em suas vidas. O tempo passou, os desvios foram se sucedendo e hoje
em dia esses rituais aparecem, bem deturpados, em várias festividades
cristas.
Por Elsie
Dubugras
Festejamos a
Páscoa com ovos de chocolate deixados pelo coelhinho; pulamos no
Carnaval; colocamos cinzas na testa na quarta feira de Cinzas; e nos
penitenciamos durante quarenta dias da Quaresma. Mas será que sabemos por que
fazemos tudo isso e qual a verdadeira origem desses costumes e rituais? Uma
pesquisa em profundidade foi feita para descobrir a sua procedência, e trouxe
respostas das mais interessantes a curiosas.
Carnaval
Diz a
Encyclopaedia Britannica que a palavra "carnaval" poderia ter se
originado do latim medieval carnem levare ("leve se embora a
carne") ou carnem levarium ("remova a carne"). A dedução
parece lógica, pois o Carnaval é um festejo que antecede a Quaresma, quando a
Igreja católica recomenda a abstinência de
carne.
Outras fontes
consultadas declaram que o Carnaval está intimamente ligado a uma festividade
pagã da antiga Roma: a Saturnália, durante a qual os foliões dançavam a
pulavam para o alto.
Esta festa,
todavia, não se destinava a divertir o povo como o Carnaval de hoje em dia,
pois era um ritual mágico/homeopático para incentivar as plantas a crescer.
Em alguns desses festejos, os foliões usavam máscaras e desferiam golpes para
o ar. Por vezes os golpes eram dirigidos aos que estavam por perto, mas todos
tinham uma só finalidade: assustar e afugentar os demônios que prejudicavam
as colheitas e o povo.
Em seu livro O
Ramo de Ouro, Sir James G. Frazer observou que ainda hoje os camponeses de
certas regiões da Europa geralmente em épocas predeterminadas,
como na terça feira que antecede o Carnaval dão pulos para o alto, a
fim de incentivar suas plantas a crescer.
Na quarta feira
de Cinzas, o primeiro dia após o Carnaval e o início da Quaresma, os padres
da Igreja católica romana costumam fazer uma cruz na testa dos fiéis com as
cinzas conseguidas das palmas bentas do domingo de Ramos da Quaresma
anterior.
Diz Frazer que
esse costume se origina no Antigo Egito, quando ainda se praticavam
sacrifícios humanos. A vítima era sempre um homem de cabelo vermelho, pois
essa cor representava o cereal maduro. Depois de morto e queimado, suas
cinzas eram espalhadas pelos campos para que as colheitas fossem abundantes.
Todavia, quando se tornava necessário expulsar os demônios que infestavam o
lugar, os egípcios também usavam ramos de plantas frescas ou as queimavam e
aproveitavam as cinzas.
Deve se observar
que a cerimônia das Cinzas só começou a ser usada pela Igreja nos primeiros
séculos da era cristã. O ritual era a forma empregada pela Igreja para
admitir os penitentes à comunidade; na ocasião, eles se vestiam com roupas de
saco.
Depois do século
10 d.C., toda a congregação cristã, as pessoas de fora que quisessem
participar e até os padres podiam tomar parte no ritual e na aspersão de
cinzas.
Quaresma
A quaresma
propriamente dita equivale ao tempo em que as pessoas com doenças contagiosas
ficavam em isolamento. Durante esse período, fazia se a limpeza e a
purificação do lugar onde o doente morava a queimava se a sua roupa. De
início, o isolamento era de trinta dias a chamava se trintena, mas ele foi
depois aumentado para quarenta dias a passou a chamar se quarentena, palavra
que ainda hoje é usada.
Todavia, segundo
a Igreja católica, o tempo de Quaresma define o período que Moisés esteve no
monte aguardando as tábuas da lei e os dias que Jesus passou no deserto,
orando e jejuando. Por este motivo, exortam se os fiéis a obedecer a certos
rituais, fazer penitências, dar esmolas, orar e jejuar, tudo em preparação
para a Páscoa, o dia em que se celebra a ressurreição de Cristo.
Por jejum deve se
entender a abstenção parcial ou total de alimentos em certos dias. A prática
não se originou com os cristãos; é antiqüíssima, e os povos primitivos
jejuavam antes de processar as colheitas e durante certos períodos na
primavera e no outono. Também se abstinham de comer antes das caçadas, das
cerimônias de iniciação e de alguns ritos mágicos e/ou religiosos, cujas
origens se perdem no tempo. Além disso, jejuava se, quando ocorria uma morte
ou, então para apaziguar alguma divindade irada.
Outro s grupos s
religiosos também praticam o jejum: os judeus na celebração do Yom Kippur, o
Dia da Reconciliação, e os muçulmanos durante o mês de Ramadã.
O que impele as
pessoas ou as comunidades religiosas a diminuir a ingestão de alimentos?
Dizem os conhecedores do assunto que existem três grandes categorias de
jejuadores. A primeira engloba os que fazem isso para conseguir poderes
mágicos ou aumentar os que já possuem e, assim, dominar as forças da natureza
a outras. Nessa classe estariam os xamãs, os pajés, etc. Na segunda categoria
encontram se os que praticam a abstinência com o intuito de fortalecer sua
própria fibra moral e, também, a da comunidade a que pertencem. Um exemplo
moderno é o hindu Mahatma Gandhi. Em terceiro lugar estão as comunidades
religiosas que tentam controlar seu(s) apetite(s) oferecendo penitência a
Deus, categoria em que estariam enquadrados os cartusianos, as carmelitas,
etc.
Páscoa
A Páscoa é uma
festa móvel, isto é, não cai no mesmo dia todos os anos. Para descobrir a
data em que será celebrada, é preciso localizar o primeiro domingo depois da
primeira Lua cheia da primavera de Roma (hemisfério norte), usando os
critérios gregorianos. No Brasil (hemisfério sul), o cálculo corresponde à
primeira Lua cheia de outono. Aqui, o outono inicia se no dia 21 de março;
portanto, tendo a Lua cheia deste ano ocorrido no dia 22 de março, a Páscoa
de 1989 foi celebrada no dia 26 de março.
A Páscoa é o dia
em que celebra se a ressurreição de Cristo. Todavia, até o século IV, ele era
consagrado à comemoração da ressurreição do deus do Sol, Mitra, cujo
aniversário de nascimento, em 25 de dezembro, coincide com o de Jesus.
Qual a razão de
festejar se a Páscoa com ovos? Porque os ovos simbolizam a vida nova e,
portanto, a ressurreição. Antigamente, em especial no norte da Europa, o povo
não costumava comer ovos durante a Quaresma, mas no sábado de Aleluia (o dia
que antecede a Páscoa) as pessoas cozinhavam os ovos que tinham recolhido a
os pintavam com cores alegres. No dia da Páscoa, eles eram dados aos amigos a
parentes ou escondidos nos jardins e quintais para que as crianças os
procurassem. Dizia se que o coelhinho deixara os ovos lá...
Nos Estados
Unidos há um costume interessante: para ter sorte, as pessoas rolam ovos
coloridos e pintados nos gramados da Casa Branca, a residência do presidente
americano.
Mas como é que o
coelhinho entrou nessa história toda? Porque esse simpático animal
assemelha-se à lebre que, no Antigo Egito, simbolizava a fertilidade e a
periodicidade humana e lunar. Aos poucos, a imagem da lebre chegou à Europa,
transformou se em coelho a foi adotada pelo povo.
São João, o dia
dos namorados
Vamos ver agora o
que há sobre o dia dos namorados tradicional: o dia de São João, celebrado
com festa em 24 de junho. Segundo Frazer, esse é o dia do solstício, quando o
Sol chega ao máximo, pára a começa a descer.
Como o evento era
temido pelo povo antigo, naquela data as pessoas praticavam diversos rituais
que seriam de defesa própria da comunidade, para auxilio em casos de doença,
para a melhoria das colheitas, etc. Com estes fins em vista, o povo reunia se
no dia do solstício ao redor de fogueiras, girava uma roda e fazia procissões
pelos campos, todos segurando tochas acesas.
Além dessas
fogueiras e neste mesmo dia, os moços juntavam ossos, lixo e outros produtos
que, queimados, produziam grossos rolos de fumaça. Essa fumaça tinha uma
finalidade toda especial: servia para afugentar os dragões que, copulando no
ar, deixavam cair seu sêmen e, assim, envenenavam as águas . . .
O solstício de
verão é festejado ainda hoje pelos muçulmanos do norte da África, por
diversas tribos árabes e pelos berberes, uma raça da África setentrional.
Eles também
acendem fogueiras naquele dia, mas jogam no fogo certas plantas e ervas
aromáticas que produzem uma fumaça perfumada. Os participantes aproximam se e
se expõem a fogueira tentando dirigir a fumaça para suas casas a plantações.
Segundo crêem, ela limpa e cura. Essas pessoas também pulam sobre as
fogueiras, um costume conhecido e praticado no interior do Brasil. Além
disso, retiram gravetos em chamas, das fogueiras, que são usados para
incensar as casas As próprias cinzas são utilizadas para massagens pelo corpo
e no couro cabeludo.
Com esses dados,
vê se logo que as festas juninas e outras anteriormente citadas pouco têm de
cristão. São simpáticas festividades pagãs, de remotíssima origem, algumas
celebradas por povos que ainda hoje não seguem os ensinamentos cristãos.
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