Em Apocalipse capítulo 12, João vê uma visão de uma mulher
"vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze
estrelas" (Apocalipse 12:1). Observe a semelhança entre essa descrição e a
descrição que José deu de seu pai Jacó (Israel) e sua mãe e seus filhos
(Gênesis 37:9-11). As doze estrelas referem-se às doze tribos de Israel. Assim,
a mulher em Apocalipse 12 é Israel.
Evidência adicional
para essa interpretação é que Apocalipse 12:2-5 fala da mulher estando grávida
e dando à luz. Embora seja verdade que Maria deu à luz Jesus, também é verdade
que Jesus, o filho de Davi da tribo de Judá, veio de Israel. Em certo sentido,
Israel deu à luz (gerou) Cristo Jesus. O versículo 5 diz que o filho da mulher
era "um varão que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu
filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono". Isso está claramente
descrevendo Jesus. Jesus ascendeu ao céu (Atos 1:9-11), um dia vai estabelecer
o Seu reino sobre a terra (Apocalipse 20:4-6) e reinará com juízo perfeito (a
"vara de ferro", ver Salmo 2: 7-9).
A fuga da mulher
para o deserto por 1.260 dias refere-se ao tempo futuro chamado de Grande Tribulação. Mil duzentos e sessenta dias
são 42 meses (de 30 dias cada), o que é o mesmo que três anos e meio. Na metade
do período da Tribulação, a Besta (o Anticristo) colocará uma imagem de si mesmo no
templo que será construído em Jerusalém. Esta é a abominação de que Jesus falou
em Mateus 24:15 e Marcos 13:14. Quando a Besta fizer isso, ela quebra o pacto
de paz que havia feito com Israel e a nação tem de fugir por segurança –
possivelmente à Petra (ver também Mateus 24; Daniel 9:27). Esta fuga dos judeus
é retratada como a mulher fugindo ao deserto.
Apocalipse 12:12-17
fala de como o diabo vai fazer guerra contra Israel, tentando destruí-la
(Satanás sabe que o seu tempo é curto, relativamente falando – ver Apocalipse
20:1-3, 10). Essa passagem também revela que Deus vai proteger Israel no
deserto. Apocalipse 12:14 diz que Israel vai ser protegida contra o diabo por
“um tempo,
e tempos, e metade de um tempo” ("um tempo" = 1 ano;
"tempos" = 2 anos; "metade de um tempo"= meio ano; em
outras palavras, três anos e meio).
Compreendendo os ''1260 dias'' em
Apoc. 11-13
COMPREENDENDO OS "1.260 DIAS"
EM APOCALIPSE 11-13
João usa 3 símbolos
de tempo ("dias", "meses", "tempos" ) em
Apocalipse 11-13 para designar o período quando seria pisada a cidade santa, o
tempo das duas testemunhas, da mulher no deserto, e do domínio da besta. Usa a
frase "42 meses", "1.260 dias" e "um tempo, e tempos e
metade de um tempo", como termos sinônimos que servem como elos vitais
entre Apocalipse 11, 12 e 13. É útil fazer uma comparação de dois versículos
paralelos de Apocalipse 12:
APOCALIPSE 12:6
|
APOCALIPSE 12:14
|
"A mulher, porém, fugiu para o
deserto, onde lhe havia Deus preparado lugar para que nele a sustentem
durante mil duzentos e sessenta dias".
|
"E foram dadas à mulher as
duas asas da grande águia, para que voasse até ao deserto, ao seu lugar, aí
onde é sustentada durante um tempo, tempos e metade de um tempo".
|
Apocalipse 12:6 e
14 descrevem ao que parece a mesma mulher e o mesmo tempo de perseguição, com
símbolos ligeiramente diferentes. Estas diferenças estilísticas são
significativas, porque proporcionam a oportunidade de combinar uma gama mais
ampla de modelos do Antigo Testamento, o que não só enriquece o significado
teológico da igreja cristã, mas também proclama a continuidade da fidelidade de
Deus a seu povo do novo pacto. Da mesma maneira que Jeová tinha
"levado" a Israel sobre "asas de águia" do Egito e os
trouxe a ele (Êxo. 19:4), assim Deus dá à sua igreja "as duas asas da
grande águia" para voar a um lugar seguro (Apoc. 12:14). O fato de que o
símbolo de tempo de "1.260 dias" e seus equivalentes nos são dados 7
vezes (2 em Dan. e 5 no Apoc.) indica que é um período de importância crucial.
A pergunta é a
seguinte: De onde vem este símbolo
apocalíptico? A frase "um tempo, e tempos e
metade de um tempo" em Apocalipse 12:14 é tomada diretamente de Daniel
7:25 e 12:7, como geralmente se reconhece. Mas poucos comentadores conectam
Apocalipse 12 à sua raiz principal em Daniel 7. Porém, aqui jaz a chave secreta
para descobrir os 3 ½ tempos proféticos em sua relação com o "chifre
pequeno" da quarta besta de Daniel.
O Erro de Separar o Símbolo de Tempo de seu Contexto
Alguns expositores
apelam à tradição judia que usa o termo "3 anos e meio" como um
modismo para um "longo tempo" indefinido ou para "muitos
dias".1 O termo aparece ali
para expressar "a metade de um septênio" ou, como dizem outros,
"a metade de uma década" sem nenhuma outra precisão. As passagens do
Lucas 4:25 e Tiago 5:17 são interessantes, porque neles a frase "três anos
e meio" usa-se para o tempo da seca nos dias de Elias, enquanto que em 1
Reis 18:1 só declara que durou "muitos dias" e que a seca
terminaria "no terceiro ano".
Esta designação de
tempo pode significar um mínimo de 14 ou 18 meses, segundo a tradição rabínica,2 ou possivelmente 3 anos. O fato de
que tanto Jesus (Luc. 4:25) como Tiago (5:17) falam deste período como
"três anos e meio" poderia ser uma adaptação do modismo popular em
seu tempo. Entretanto, um documento rabínico dá a leitura de "três anos e
meio".3Enquanto que se
pode reconhecer a tensão dentro do conteúdo do Antigo Testamento e do Novo
Testamento com respeito ao tempo de prova real da seca profetizada por Elias,
tudo isto se distingue da designação do tempo nas profecias de Daniel e
Apocalipse. Aqui o princípio guiador não é o modismo, a não ser o contexto
imediato e o contexto remoto da profecia.
O livro de Daniel
proporciona a fonte e a localização dos "3 ½ tempos" dentro da
história das salvação. O falhar em situar os 3 ½ tempos proféticos
adequadamente dentro do tempo contínuo de Daniel 7, ignora a convocação
ordenada deste período de tempo na história. Como Daniel 7 aplica a quarta
besta simbólica ao quarto império mundial, ou Roma Imperial, o "chifre
pequeno" que cresceu desta besta não pode representar ao rei selêucida
Antíoco IV que perseguiu os judeus e profanou o templo desde dezembro do ano
167 a.C. até dezembro do 164 a.C. (1 Macabeus 1:41-61; 2 Mac. 10:5). Induz a
engano afirmar que o tempo simbólico de Daniel de 3 ½ tempos "levantou-se
durante a abominação do Antíoco Epifanes" conforme afirma Ezell,4 já que a profanação do templo durou
exatamente 3 anos (2 Mac. 10:5) e não
"quase exatamente 3 ½ anos". Semelhantes conjeturas com respeito à
frase de tempo que Daniel emprega falham porque separam o símbolo do tempo de
seu marco original dentro de Daniel 7.
Aplicações Futuristas dos 1.260 dias
G. Ch. Aalders, um
erudito holandês do Antigo Testamento, estava convencido de que os 3 ½ tempos
de Daniel 7 devem conectar-se com o reinado do anticristo, que ele viu
levantar-se da quarta besta como o Império Romano. Rechaçou os
"esforços" de alguns que aplicavam a designação de anticristo ao
papado ou à lei romana (como formas de continuação do Império Romano) como
"cerâmica sem valor".5 Aalders também
considerou intranscendente esperar algum "reaparecimento reavivado"
do Império Romano no tempo do fim. O anticristo, afirmou Aalders, obterá um
desdobramento espantoso de poder político no mundo cultural do futuro. Tratará
de assumir a soberania do mundo da própria mão de Deus ao mudar os "tempos
e a lei" (Dan. 7:25; cf. 2:21). Isto significa que o
anticristo tem o propósito de proscrever todos os fundamentos cristãos e
"tirar todo elemento religioso" do mundo cultural, "no espírito
que motivou a Revolução Francesa" ou os governos comunistas ateus.6 Dessa maneira Aalders identificou o
anticristo com algum governante político ateu do futuro.
Com respeito ao
"tempo, e tempos e meio tempo" de Daniel 7:25, Aalders interpretou
esta frase para dizer que a opressão dos crentes cristãos ocorrerá em 3 etapas:
(1) Primeiro um período de perseguição em aumento; (2) depois, um período de
opressão mais longo e intensificado; e (3) finalmente, um breve período de
perseguição que será abreviado abruptamente por Deus por causa de seus
escolhidos (referindo-se ao Mat. 24:22). Projetou esses "tempos" do
anticristo, que não são exatos, ao futuro distante, atribuindo um intervalo
surpreendente de tempo de mais de 1.500 anos (da queda de Roma até nossos dias)
na era da igreja. Por outro lado, reconheceu que o futuro reino do anticristo
está ampliado adicionalmente por Paulo em 2 Tessalonicenses 2:4 e também em
Apocalipse 13:5 e 6.7
O erudito
norte-americano do Antigo Testamento, Edward J. Young, explicou Daniel 7 em uma
forma similar a de Aalders. Resumiu dizendo: "Dessa forma, em um quadro
notável, dá-se todo o curso da história da aparição do Império Romano histórico
até o fim do governo humano".8 Interpretou os "10 chifres" da quarta besta de Daniel 7 como os
reinos (10 é "o número da totalidade") que "surgem
historicamente do antigo Império Romano... A Europa moderna pode, em um sentido
muito legítimo, ter surgido de Roma".9Mas Young projeta o anticristo (o décimo primeiro
chifre) ao futuro indefinido, quando "tratará de desgastar (consumir,
afligir, humilhar) os santos do Altíssimo". "Essa tirania durará um
período definido, um tempo e tempos e a metade de um tempo".10
Young rechaça a
crença dispensacionalista de que os 3 ½ anos ou 1.260 dias devem equiparar-se
com a última meia semana das 70 semanas de Daniel, o período da grande
tribulação. Declara que a frase de tempo do Daniel "é em si mesmo uma
expressão cronológica indefinida".11 Conclui dizendo: "Este período,
'um tempo, e tempos, e a metade de um tempo', aparentemente representa um
período de prova e juízo que será abreviado por causa dos escolhidos de Deus (cf.
Mat. 24:22)".12 Tanto Young como Aalders projetam o
anticristo exclusivamente na fase final do futuro da era da igreja.
É curioso observar
que o reformador João Calvino em suas populares Conferencias sobre Daniel de
1561,13 sugeriu que essa
frase de tempo do Daniel 7:25 indicava 3 fases: Primeiro, um período de um tempo
"algo assim como 10 anos"; depois tempos, "algo semelhante a 50
ou 100 anos", e finalmente "meio tempo", como uma indicação de
que Deus coloca um limite repentino à grande aflição. Refere-se a Jesus, que
havia predito um encurtamento da tribulação em Mateus 24:22. Entretanto,
Calvino aplicou todos os chifres da besta do Daniel 7 a vários imperadores do
Império Romano (como Júlio César, Nero e Trajano).
Em seu Commentary on Daniel, o dispensacionalista Leão J. Wooddeclara que
"o fato de que esta besta tinha 10 chifres significa que antes desta
indicação deve reconhecer-se a existência de um grande intervalo de
tempo".14Wood apóia este
intervalo de tempo tão tremendo sobre a hipótese errônea de que os 10 chifres
("10 reis contemporâneos") devem ser parte de um Império Romano
reavivado do futuro, "pode ser
uma confederação de estados europeus", com Roma como sua cidade principal.15 Só então, diz Wood, o décimo
primeiro chifre, como "a falsificação de Satanás do soberano
mundial", começará a perseguir os judeus (que são os santos de Deus) por 3
½ anos literais,16 período de
tribulação que é idêntico à metade do período de 7 anos da tribulação final de
Daniel 9:26 e 27. Esta opinião apenas repete a que aparece na New Scofield Reference Bible [A Nova Bíblia de referência
Scofield], páginas 909 e 1362. O ponto de vista dispensacionalista está
determinado por um literalismo estrito de todos os símbolos de tempo proféticos
a pesar do fato de que estes símbolos estão unidos a imagens simbólicas (Dan.
7; Apoc. 11-13). Também, a teoria do intervalo do futurismo está em conflito
com o contínuo-histórico descrito em Daniel 2 e 7.
Abrangem os 1.260 dias Toda a Era Cristã?
Nas últimas
décadas, ganhou apoio uma nova interpretação dos "1.260 dias". Afirma
que por meio desta frase de tempo, João pretendeu "representar a
'experiência do deserto espiritual' da igreja durante o período entre a
ressurreição e a volta de Cristo".17 Este erudito batista sustenta que
João escolheu dar uma forma nova à designação do tempo de Daniel como 42 meses
e 1.260 dias para simbolizar o tempo que os filhos de Israel estiveram no
deserto durante 42 anos. "Os novos filhos de Israel
experimentarão sua peregrinação como peregrinos por um período pitorescamente
simbolizado como 42 meses".18 Ele se refere a
Apocalipse 12:6 e 14.
Mas o Antigo
Testamento nunca menciona 42 anos para a experiência de Israel no deserto; só
fala de 40 anos. Lemos que desde o segundo mês de sua partida do Egito,
"comeram os filhos de Israel maná quarenta anos, até que chegaram a terra
habitada; maná comeram até que chegaram aos limites da terra de Canaã"
(Êxo. 16:35; cf. Deut. 2:7; 8:2-4; 29:5; Nee. 9:21;
Sal. 95:10; At. 7:36). Em nenhum lugar da Bíblia se estiram estes 40 anos a 42.
Além disso, Daniel e Apocalipse não conectam os 3 ½ tempos proféticos com a
idade messiânica ou com a era da igreja como tal, e sim somente com o reinado
de terror do anticristo (Dan. 7:24, 25; Apoc. 13:5-8), conexão exegética que
foi reconhecida pelo expositor batista George R. Beasley-Murray. Raciocina
que as frases de tempo em Apocalipse 12 não devem ser separadas de seu contexto
em Apocalipse 13, porque...
"...faz
violência à intenção de João. Os três anos e meio são o tempo da cólera do
anticristo (13:5), e portanto da exposição da igreja a seus intentos de esmagar
sua existência (11:1 e seguintes; 3-13). Isto não caracteriza o período da
igreja- entre a ascensão e a parousia de Cristo".19
Como se mostrou
antes, o apóstolo Paulo em 2 Tessalonicenses 2 colocou o anticristo profetizado
no futuro, de fato, depois do desaparecimento do Império Romano (ver o cap. VII
desta obra). Por conseguinte, os 3 ½ anos não podem aplicar-se às perseguições
de alguns imperadores romanos como Nero, Domiciano, Décio e Diocleciano. Os
tempos daniélicos de perseguição estão entrelaçados exclusivamente com o
reinado do anticristo (Dan. 7:24, 25). E enquanto que os perseguidores
históricos do povo de Deus, como Nabucodonosor, Antíoco IV, Nero e outros,
podem ser considerados como representantes dos tempos opressores dos gentios,
podem considerar-se só como protótipos ou precursores do anticristo predito na
profecia.
O que se denomina
"tempos dos gentios" (em Luc. 21:24) pode ser considerado como se
abrangesse todo o período da supremacia hostil sobre o povo do pacto de Deus
que termina só com a libertação por ocasião da segunda vinda de Cristo. Mas os
3 ½ anos do Daniel ou os 1.260 dias de João constituem uma parte restringida
desses tempos gerais de sujeição política, o período específico da supremacia
do anticristo bíblico sobre os santos de Deus. E porque o reinado do anticristo
não se estende sobre toda a era cristã, de igual maneira os 1.260 dias não
compreendem toda a era cristã.
Os "3 ½ tempos" Dentro de seu Contexto de Daniel 7
Em Daniel 7 os 3 ½
tempos estão conectados exclusivamente ao "chifre pequeno", quer
dizer, o décimo primeiro chifre que surgiu gradualmente da quarta besta. O
Apocalipse continua aplicando os 3 ½ tempos proféticos e seus símbolos
equivalentes de "42 meses" e "1.260 dias" ao anticristo,
representado como a besta que sobe do mar de Apocalipse 13:1-8.
Durante a idade
apostólica, o anticristo não se desenvolveu plenamente como declarou o apóstolo
Paulo em 2 Tessalonicenses 2. Até o ancião apóstolo João declarou que o
anticristo profetizado ainda estava no futuro (em 1 João 2:18). Por outro lado,
advertiram a igreja a respeito da certeza de sua vinda durante a era da igreja
(At. 20:29, 30; 2 Tes. 2:3-8; Apoc. 13). É notável que o pai da igreja,
Tertuliano (por volta de 200 d.C.) ensinou que o anticristo predito (de Daniel)
não era o Império Romano mas sim se levantaria depois do desaparecimento
de Roma pagã e depois se sentaria na
igreja. Tertuliano interpretou 2 Tessalonicenses 2 afirmando que a existência
presente do Império Romano retardava o surgimento do
anticristo. Escreveu com respeito ao que "o freia" (2 Tes. 2:7, 8,
NBE): "Qual é o obstáculo aqui, a não ser o Estado romano, a queda do
qual, ao ser dividido no reino introduzirá ao anticristo sobre (ruínas
próprias)?"20 Também o respeitado
comentário de Daniel por Jerônimo (347-420 D.C.) ratificou a posição corrente
na igreja cristã, de que em Daniel 7 se descreve o anticristo como o décimo
primeiro rei, que se levantará só quando o Império Romano seja destruído e 10
reinos se repartirem entre eles o mundo romano.21
Inclusive Agostinho
no ano 413 recomendou o comentário "erudito" sobre Daniel de Jerônimo
para a compreensão de Daniel 7.22 Tertuliano e Jerônimo chegaram a esta
interpretação só porque foram a Daniel 7 como a raiz principal de todas as
profecias do anticristo. O método fundamental de decifrar os símbolos
apocalípticos do Apocalipse, rastreando sua origem nas profecias esboçadas no
Daniel, deve ser também respeitado para decifrar os símbolos de tempo de
Apocalipse 11 a 13.
Se se consultar
Daniel 7 como a raiz principal do Apocalipse, saberemos que o
"chifre" anticristão surgiria para perseguir os santos de Deus por 3
½ tempos só depois que os "10 chifres" dividissem o Império Romano do
Ocidente. Esta divisão histórica se levou a cabo durante 100 anos, até que no
ano 476 o último imperador do Império Romano Ocidental, Rômulo Augústulo, foi
destronado. Pelo esboço apocalíptico de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 sabemos
que não deve dar-se por sentado nenhum intervalo
interminável de tempo para que ocorresse o livre desenvolvimento do
anticristo e seu reino (ver seu estudo no cap. VII desta obra, a seção "O
momento histórico exato do anticristo segundo Paulo").
A besta simbólica
que sobe do mar de Apocalipse 13 incorpora em si mesmo as 4 bestas do Daniel 7.
Além disso, os nomes de blasfêmia sobre suas cabeças (Apoc. 13:1)
correspondem-se com as marcas do chifre pequeno de Daniel 7. Também os tempos
de sua autoridade, "quarenta e dois meses" (Apoc. 13:5),
correspondem-se com os 3 ½ tempos do chifre pequeno de Daniel (Dan. 7:25),
símbolo de tempo profético que desta maneira está unido ao anticristo que se
levantaria no cenário mundial quando Roma Imperial chegasse a seu fim no
Ocidente, quer dizer, depois do ano 476 d.C. Entretanto, o anticristo ainda
representa o Império Romano e seu espírito de perseguição. Ronald S. Wallace,
um erudito bíblico em Escócia, reconheceu que, se a quarta besta de Daniel 7
representa o Império Romano, "o chifre pequeno se refere então a algum
grande perseguidor anticristão da igreja verdadeira que se levanta na era
cristã e dentro da civilização criada pelo Império Romano. Isto encaixaria
primorosamente com a interpretação dada pelo apóstolo Paulo e o livro do
Apocalipse (cf. Apoc. 13)".23
O Surgimento da Igreja-Estado Durante o Império Romano
Durante os
primeiros 300 anos de cristianismo, os cristãos foram proscritos porque os
imperadores romanos em seu ofício como Pontifex Maximus (supremo pontífice)
protegiam a religião do Estado por causa da unidade civil na sociedade romana.
"Calcula-se que três milhões de cristãos
pereceram durante os três primeiros séculos da era cristã".24
Essas perseguições
chegaram em duas grandes etapas: sob Décio e sob Diocleciano. Após terminar a
última grande perseguição (303-312), repentinamente o imperador Constantino
inverteu toda a situação com seu famoso Decreto Imperial do ano 313, que
permitia que a religião cristã existisse legalmente lado a lado com a religião
tradicional. No ano 321 impôs sobre todos os povos a observância civil do
domingo como o Dies Solis ("dia do
Sol"). Como patrocinador da igreja (ele mesmo se chamou "o bispo dos
bispos"), Constantino convocou o primeiro concílio ecumênico na Nicéia no
ano 325, e depois introduziu a prática de assinar-se os artigos de um credo
escrito que estipulava castigos se não o aceitava. É a primeira ocorrência de
um castigo da autoridade civil pelo cargo de heresia. Este imperador romano
elevou assim à hierarquia católica e sua ortodoxia exclusiva como a religião do
Estado do império Romano. Todas as ofensas contra a igreja agora se
consideravam como delitos contra o Estado.
O historiador Edward Gibbon declarou que
Constantino "sentou a cristandade sobre o trono do mundo romano".25 Do tempo de Constantino, a igreja
chegou a ser a Igreja-Estado. Declarou-se Roma a corte suprema de justiça
dentro da igreja para honrar a memória do apóstolo Pedro (cânon 4). O imperador
também enriqueceu à igreja ao doar-lhe todos os templos pagãos e suas grandes
propriedades, assim como as propriedades dos hereges. Em breve a igreja era
proprietária de uma décima parte de todos os bens raízes no Império Romano.
O resultado da
aliança da Igreja e o Estado foi uma igreja cada vez mais secularizada e uma
sociedade nominalmente cristã. Segundo o historiador eclesiástico Ph. Schaff,
"isto produziu o conflito entre a luz e as trevas, a verdade e a
falsidade, Cristo e o anticristo, no próprio seio da cristandade".26O tempo de Constantino foi testemunha
do começo da luta interminável na Europa entre a hierarquia da Igreja e o
Estado, cada um tratando de subjugar e dominar o outro. Esta rivalidade
"seguiu durante todo o conflito medieval entre o imperador e o Papa, entre
o episcopado imperial e hierárquico, e se repete em forma modificada em cada
igreja protestante estabelecida".27
Os imperadores
"cristãos" romanos convocaram os concílios gerais da igreja,
impuseram os novos credos por meio da lei sobre todos os cidadãos no império,
protegeram a "ortodoxia" e castigaram a "heresia" com o
braço do poder secular, o que foi considerado por alguns (como Eusébio de
Cesaréia) como a restauração da teocracia davídica sobre terreno cristão. Mas
outros, como o professor francês de direito, Jacques Ellul, consideram a
legislação e a imposição política da unidade dogmática da igreja pelos
imperadores cristãos como o começo da subversão do cristianismo e a forma
principal de anticristianismo.28 A imposição
política das leis humanas para estabelecer a igreja ou o reino espiritual de
Cristo revela um espírito que está em conflito fundamental com o espírito de
Cristo (ver João 18:36).
O lado sombrio
desta aliança histórica da Igreja e o Estado dos dias de Constantino foi
constituído pela perseguição dos "hereges", porque suas separações da
fé da Igreja-Estado (o catolicismo trinitário) não se consideravam simplesmente
como enganos religiosos, mas sim como delitos contra o Estado (cristão). Esses
hereges foram castigados com o desterro, confisco de seus bens e, dos dias do
imperador Teodósio (380), inclusive com a morte.29 Declara Schaff: "Por
conseguinte, desde Teodósio se pode datar a teoria da perseguição de hereges
pela Igreja-Estado, e sua inclusão na legislação".30 Em 385 o imperador
"cristão" Máximo ordenou a execução do bispo espanhol Prisciliano, e
de 5 crentes de sua seita parecida com a dos maniqueus, na cidade do Treveris.31
Até Agostinho
chegou a convencer-se depois do ano 400 que os hereges que persistissem deviam
ser castigados por seus enganos religiosos. Inclusive apelou às palavras de
Jesus em uma parábola que dizem: "Força-os a entrar" (Luc. 14:23). Em
sua obra clássica, A cidade de Deus, Agostinho expõe o
ideal católico de uma igreja universal, ou sociedade dos fiéis, que domine a
sociedade universal dos infiéis. Quando a cidade de Roma foi capturada e
saqueada pelo rei godo Alarico em 410, sobreviveu a igreja como o corpo dos
fiéis. Agostinho afirmou que o milênio de Apocalipse 20 se estava cumprindo
agora no reinado da igreja, cujos bispos devem julgar a outros, em nome de
Cristo (20:9), o que proporcionou a base teórica para o Igreja-Estado do papado
medieval.32 A hierarquia da
igreja chegou a ser cada vez mais romana depois que Constantino transladou a
capital de Roma a Constantinopla em 330. "O bispo de Roma, no assento dos
césares, era agora o homem de maior influencia no Ocidente, e logo se viu
constrangido a chegar a ser a cabeça tanto política como espiritual".33
Leão I ("o
Grande"; 440-461) foi o primeiro papa que publicamente sustentou um papado
universal. Estabeleceu sua primazia no direito divino, o direito de estar na
sede apostólica em Roma. Para ele, a cristandade e o domínio universal da
igreja romana eram coisas idênticas.34 Schaff o considera como "o
primeiro papa no sentido próprio da palavra", isto é, com respeito a suas
exigências de supremacia.35
Durante o concílio
de Calcedônia, em 451, leu-se a carta dogmática do papa Leão I, e os bispos (só
estiveram presentes bispos da Europa Oriental) exclamaram: "Esta é a fé
dos pais... e dos apóstolos! Desta maneira Pedro falou por meio de Leão!"36
Desta exclamação
histórica, Leão I e outros papas posteriores derivaram um direito a sua
autoridade dogmática sobre todos os cristãos. Mas os mesmos pais do concílio
atribuíram ao patriarca de Constantinopla uma autoridade igual para exercer na
parte oriental do império, como a que o papa possuía no Ocidente. "O papa
Leão I confirmou a confissão doutrinal do concílio, mas protestou contra o
cânon 28 que colocava o patriarca de Constantinopla em um pé de igualdade com
ele".37 O papa Leão
enfatizou cada vez mais que os papas eram os sucessores do apóstolo Pedro e
dessa maneira possuíam a sedes apostólica (sede apostólica),
para estabelecer sua supremacia eclesiástica sobre o patriarca de Constantinopla.
Daí em diante, cada papa alegou ser o vigário de Pedro e, portanto, ao mesmo
tempo também o vigário de Cristo para toda a igreja.
O papa Leão I foi o
primeiro papa que pediu às autoridades seculares que suprimissem pela força
todas as igrejas cristãs heréticas na cidade de Roma. Embora toda a igreja
sustentou a autoridade dos papas, este pedido só pôde levar-se a cabo em
algumas partes da Itália. A igreja oriental rechaçou a reclamação de Leão I à
primazia na igreja, e ainda hoje rechaça a primazia papal.
Da queda do Império
Ocidental em 476, os bispos de Roma se apropriaram da função do imperador do
ocidente como Pontifex Maximus, sacerdote e
governante temporário, com os bispos como senadores e dirigentes do exército. O
renomado historiador eclesiástico alemão, Adolfo von Harnack viu a igreja romana
como "a continuação real" do Império Ocidental. Henri Pirenne, o
eminente historiador belga, escreveu: "Em resumo, não foi porque era
cristã, mas sim porque era romana que a igreja adquiriu e manteve durante
séculos seu domínio sobre a sociedade".38
O papa Gelásio I
(492-496) desenvolveu o princípio papal um passo a mais ao declarar em 494 que
o imperador estava sujeito ao papa e tinha a obrigação de obedecer à disciplina
da Igreja Católica. O bispo de Roma era a "autoridade suprema". Este
papa começou a defender a política de "não interferência" entre a
Igreja e o Estado. Seu propósito foi fazer do papa um governante
religioso-político independente, com direito a mandar sobre os soberanos civis.
O Reconhecimento da Primazia Papal por Parte de Justiniano
A política do
Justiniano I, imperador do Império Romano Oriental (527-565 ) procurou reviver
um Império Romano cristão governado pelo imperador de Bizâncio
(Constantinopla). Como chefe verdadeiro da igreja cristã, Justiniano promulgou decretos
com manifestos obrigatórios, inclusive em teologia. Seu principal problema
doutrinal foi o conflito entre o ponto de vista ortodoxo do concílio da
Calcedônia (451), a opinião de que em Cristo coexistem a natureza humana e a
divina, e o ensino monofisista que enfatizava a natureza divina de Cristo. Esta
última opinião era a que preferia sua esposa, a imperatriz Teodora, que era
muito popular no Oriente. Por outro lado, o arianismo que rechaçava a deidade
eterna de Cristo era a crença cristã comum entre os povos germânicos (exceto
entre os francos) que povoaram o Império Romano ocidental, incluindo o norte da
África.
Justiniano decidiu
restaurar a unidade política e religiosa em todo o território do antigo Império
Romano. Procurou a cooperação do papa para estabelecer a unidade religiosa no
império bizantino. Primeiro escreveu sua carta famosa o papa João II, em 533,
em que solicitava o apoio do papa para sua decisão imperial contra a heresia
dos nestorianos. Em sua carta imperial o papa declarava o seguinte:
"Portanto,
esforçamo-nos para unir a todos os sacerdotes do Oriente e submetê-los à sede
de Sua Santidade... Porque não toleramos que nada que se refira ao estado da
Igreja... seja discutido sem que antes se traga ao conhecimento de Sua
Santidade, porque vós sois a cabeça de todas as santas igrejas, e porque
nos esforçaremos em tudo o que possamos... para acrescentar a honra e a
autoridade de vossa sede".39
Depois o imperador
solicitou uma resposta do papa que condenasse aos nestorianos como ele o tinha
decretado. Froom faz a seguinte avaliação deste pedido. Diz que "isto
revela a compreensão plena que tinha o bispo de Roma do reconhecimento imperial
da primazia da sede de Roma".40 A admissão da primazia dos papas se
referia à sua autoridade e a que era "o corretor de hereges" (na
carta do Justiniano ao arcebispo Epifânio, no ano 533). Entretanto, entranhava
muito mais. Em sua carta imperial o papa João II, o imperador tinha reconhecido
formalmente a prioridade do bispo de Roma sobre o de Constantinopla, o que foi
promulgado só 12 anos mais tarde, no ano 545, no Código Civil do Justiniano.41 Froom faz este resumo:
"Desta
maneira, não só codificou Justiniano as leis religiosas de seus predecessores,
mas também designou especificamente o bispo de Roma como cabeça da igreja e
corretor de hereges, e fez que a lei canônica da igreja até o ano 451 formasse
part...
fonte:
http://www.gotquestions.org/Portugues/Apocalipse-capitulo-12.html
http://minhateca.com.br/Jonatas.Abrantes/Acervo+Teol*c3*b3gico/Profecias+do+Tempo+do+Fim*2c+As/20+-+Compreendendo+os+*27*271260+dias*27*27+em+Apoc.+11-13,65039991.doc
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